“Meu filho, coma mel, pois o mel faz bem. Assim como o favo de mel é doce na sua língua, assim também a sabedoria é boa para a sua alma. Se você a conseguir, terá um bom futuro e não perderá a esperança”.
O verso bíblico do sábio Salomão, em Provérbios 24:13-14, é uma inspiração para a família Pinon, que mora há 24 anos em uma propriedade rural no município de Breu Branco, a 260 km de Marabá.
Rubinho, o pai, Carmelia, a mãe, e os filhos Luiz Mário e Maria Eduarda são os protagonistas de um negócio que transitou da pecuária para produção de açaí e, mais recentemente, passou a produzir mel e derivados.
A reportagem do CORREIO DE CARAJÁS viajou de Marabá até a vicinal do Pitinga, numa propriedade conhecida como Fazenda Água Boa, onde a família vive há mais de duas décadas, para acompanhar, durante dois dias, a rotina dos Pinon e descobrir os segredos do sucesso do negócio, que já conquistou vários parceiros, como Embrapa, Sebrae, IdeflorBio e Ministério Público do Pará.
“Meu filho, coma mel, pois o mel faz bem. Assim como o favo de mel é doce na sua língua, assim também a sabedoria é boa para a sua alma. Se você a conseguir, terá um bom futuro e não perderá a esperança”.
Prov. 24:13-14
O verso bíblico do sábio Salomão, em Provérbios 24, é uma inspiração para a família Pinon, que mora há 24 anos em uma propriedade rural no município de Breu Branco, a 260 km de Marabá.
Rubinho, o pai, Carmelia, a mãe, e os filhos Luiz Mário e Maria Eduarda são os protagonistas de um negócio que transitou da pecuária para produção de açaí e, mais recentemente, passou a produzir mel e derivados.
A reportagem do CORREIO DE CARAJÁS viajou de Marabá até a vicinal do Pitinga, numa propriedade conhecida como Fazenda Água Boa, onde a família vive há mais de duas décadas, para acompanhar, durante dois dias, a rotina dos Pinon e descobrir os segredos do sucesso do negócio, que já conquistou vários parceiros, como Embrapa, Sebrae, IdeflorBio e Ministério Público do Pará.
“Trabalhamos com queijo, depois começamos a vender o leite para laticínios e surgiram dificuldades na bacia leiteira. Parei de trabalhar com leite e comecei a ir mais para o lado da fruticultura, que era um sonho”
Rubens José Pinon, mais conhecido na região onde vive como ‘Rubinho’, nasceu no Espírito Santo, mas não tardou ‘cair no mundo’ para conquistar melhores condições de vida. Para construir a história que hoje protagoniza no Pará, ele precisou fazer um pequeno desvio, passando pela Bahia, para onde foi com intuito de conhecer Porto Seguro.
Lá, não descobriu apenas as famosas praias nordestinas, como também fez um amigo que o convenceu a dar uma passadinha no Pará, que, dizia, era “uma região muito boa para quem queria fazer investimentos”. Sem muito estudo ou formação superior, Rubinho não achou má ideia tentar a sorte e foi assim que acabou em Breu Branco, na propriedade do pai de Carmelia Amante.
As vidas dos dois não se cruzaram de imediato. Uma semana após chegar, Rubinho deixou o lugar de onde havia estranhado o nome e seguiu para Novo Repartimento, estudando a região onde pretendia investir em algum negócio. O dinheiro era pouco e ele acabou retornando a Breu Branco, onde se instalou de vez na propriedade do pai de Carmelia, que ofereceu a ele uma sociedade agrícola.
Inicialmente, Rubinho se deparou com o potencial para cultivar frutas e tinha como objetivo montar uma agroindústria, mas depois percebeu que haveria dificuldade por não haver muita gente produzindo na região. Enquanto batia cabeça para encontrar a melhor forma de sobreviver, ele se apaixonava por Carmelia, nascida na Bahia, mas que vivia há muitos anos no Pará.
Os dois se casaram e passaram a viver em uma área nos fundos da propriedade do sogro de Rubinho, onde sequer havia energia elétrica. Como o recém-casado tinha alguma experiência com criação de gado leiteiro, adquiriu algumas cabeças de vaca e, paralelamente, começou a desenvolver fruticultura.
“Trabalhamos com queijo, depois começamos a vender o leite para laticínios e surgiram dificuldades na bacia leiteira. Parei de trabalhar com leite e comecei a ir mais para o lado da fruticultura, que era um sonho”, recorda ele.
Diante da crise no setor leiteiro, em 2012, a família precisava reinventar seu portfólio de produção e, para isso, pediu ajuda a técnicos da Embrapa, que expuseram as atividades que estavam em alta: plantio de cupuaçu, graviola, açaí e castanha-do-pará.
A propriedade é banhada por vários igarapés e o Código Florestal vinha obrigava a recomposição de áreas desmatadas, o que levou o casal ao próximo estágio. “Surgiu a ideia de plantar açaí, mas eu não tinha recursos e os bancos não financiavam esse plantio. Então, comecei a vender o gado de leite para ir investindo no açaí. Acho que nosso melhor investimento foi esse, porque até hoje temos o açaí como fonte principal de renda”, comemora Rubinho.
“Esse mel diferente está relacionado à flor do açaí, de onde as abelhas pegam o pólen e o néctar. É um mel escuro, monofloral do açaí. Então, a gente pensou que, se o açaí é muito bom para saúde, o mel da flor dele com certeza é um casamento perfeito.
Atualmente, a família Pinon mantém 30 hectares ocupados com cerca de 12 mil pés de açaí, consorciados com outras espécies frutíferas. A propriedade alcançou o volumoso plantio com um empurrãozinho dos enxames de abelhas, assim que os produtores perceberam que precisariam de agentes polinizadores.
“No terceiro ano, o açaí começou a produzir, mas sentimos que não estava produzindo tão bem, então pesquisando com a Embrapa a gente percebeu que as abelhas fazem esse papel de polinizador e que isso aqueceria bastante a produtividade”, relata Rubinho.
Enxames de abelhas Apis foram levados à região, mas os insetos, por sua vez, não se contentavam apenas com a planta que já havia no local e a família percebeu que seriam necessárias outras espécies para que elas se alimentassem. “Consultamos amigos que tinham trabalhado com técnicas agrícolas, agrônomos, e nos disseram que seria interessante introduzir um Sistema Agroflorestal (SAF). Inicialmente, plantamos cacau e depois cupuaçu. Mais tarde, a gente percebeu que poderia introduzir árvores nativas, como a andiroba e a copaíba, então fizemos essa mesclagem”.
Assim como as abelhas fortaleceram a plantação de açaí, as plantas aprimoraram a produção dos insetos, o que foi uma surpresa para os produtores. “Percebemos que, além de fazer a polinização, elas também fabricavam mel e algumas colmeias passaram a produzir bastante. Começamos a fazer a retirada e era um mel diferente, bem escuro”, recorda Rubinho.
RESPOSTA “FANTÁSTICA”
A coloração assustou os produtores, que acreditavam não haver mercado para aquele tipo de produto. Novamente, a Embrapa foi acionada e uma amostra foi enviada para a entidade, que algum tempo depois devolveu uma resposta que Rubinho descreve como “fantástica”.
“Esse mel diferente está relacionado à flor do açaí, de onde as abelhas pegam o pólen e o néctar. É um mel escuro, monofloral do açaí. Então, a gente pensou que, se o açaí é muito bom para saúde, o mel da flor dele com certeza é um casamento perfeito. Descobrimos, através de análise, que o mel escuro tem propriedade diferente do mel claro, mas que é um mel fantástico, diferente em sabor e aroma. Mas um mel especial”, detalha.
A partir disso, a família investiu na apicultura e hoje mantém cerca de 40 colmeias de abelhas Apis, havendo mercado para o mel que é produzido. “Os clientes ouvem falar do mel escuro da flor do açaí e depois que passam a consumir, dificilmente compram o mel claro. Nós temos clientes em nosso município, em várias regiões do Pará e em outros estados”, comemora Rubinho.
“Nossa intenção, tanto minha quanto do meu marido, é não criar herdeiros, mas sim sucessores. Por isso, desde bem pequenos, a gente coloca os meninos para nos ajudar, porque a gente espera que eles sejam nossos sucessores”.
A vontade de Rubinho em manter a família unida em torno do trabalho na propriedade rural é dividida com a esposa, Carmelia Amante Pinon, que descobriu que as abelhas sem ferrão que também foram levadas ao local pela Embrapa podem não ser tão eficientes na produção de mel para consumo, mas são ótimas produzindo matéria-prima para cosméticos.
“O meu marido e meu filho trabalham na produção do própolis e do mel, fazem a coleta e trazem para eu e a minha filha fazermos o restante do processo e transformamos em cosméticos”, conta.
Desde criança, Carmelia vive na fazenda, onde chegou aos 6 anos de idade junto com o pai. Há 23 anos disse sim para uma vida ao lado de Rubinho, com quem constrói uma família feliz e mantém um negócio próspero. Como o marido, ela também se especializou e agora comanda a criação de produtos voltados à higiene e beleza. Para isso, orientada pelo Sebrae, criou a AmaBee, especializada na produção e comercialização de cosméticos.
“A gente notou que a abelha sem ferrão era um insetinho que não dava tanto lucro no mel, então começamos a tentar agregar valor ao produto dela. Estudando as possibilidades surgiu a ideia de criar uma linha de cosméticos. Como eu não tenho curso de química ou outro semelhante, conversei com o pessoal do Sebrae, que me deu algumas orientações e comecei a criar um produto”, revela.
O primeiro a surgir foi o sabonete feito com mel, própolis e andiroba, que trouxe inspiração para novas criações. “A cera tem propriedades antialérgicas e anti-inflamatórias, então vai ajudar a acalmar a pele irritada. O própolis tem uma infinidade de benefícios, ele é anti bactericida, fungicida, entre vários outros. O mel é calmante, hidratante e cicatrizante. Então, são produtos excelentes para a nossa pele”, explica, orgulhosa pelo fato de os produtos serem avaliados positivamente por quem faz uso deles.
“Hoje, as pessoas elogiam muito os nossos cosméticos, mas o mérito é das abelhas porque elas produzem algo maravilhoso, tanto para a gente ingerir, quanto para o nosso corpo”, exemplifica Carmelia.
Para chegar ao nível que está hoje, ela aprendeu junto ao Sebrae e à Embrapa como processar as matérias-primas para potencializar os benefícios, estudando a maneira correta de extrair o própolis, o mel e a cera. Agora, o aprendizado junto ao Sebrae é para legalizar as criações, alcançando o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Por enquanto, eu faço na minha casa, então nós não vendemos on-line, não é possível, mas já estamos legalizando e trabalhando para vendermos para fora”.
Além disso, a empreendedora comemora ter recebido um convite para expor os cosméticos na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, no próximo ano.
Os exemplos são passados aos filhos, que desde pequenos aprendem a lidar com as abelhas e com os produtos criados a partir delas. “Sabemos que eles têm limitações, que precisam ser crianças, adolescentes, mas eles também têm as responsabilidades. No caso da Maria Eduarda, que queria um iPhone, nós explicamos que ela iria ajudar durante um mês para receber determinado valor em dinheiro. Então, quando ela tinha aquela quantidade, nós completamos. É para ter essa noção de que com o trabalho dela é possível conseguir algo que ela realmente queria tanto”, conta.
“Não tem como abrir mão, tenho muito amor por esse lugar. Eu nasci aqui, estou crescendo aqui, quero viver aqui com a minha família no futuro e morrer aqui se for possível”.
Ao que parece, os pais não precisam se esforçar muito para convencer os filhos a seguir o sonho do casal. Luiz Mário Amante Pinon tem apenas 15 anos, mas já parece estar decidido sobre o futuro quando diz que pretende ficar onde está, já que mora “no melhor lugar do mundo”, como define a propriedade da família. “Não tem como abrir mão, tenho muito amor por esse lugar. Eu nasci aqui, estou crescendo aqui, quero viver aqui com a minha família no futuro e morrer aqui se for possível”.
O trabalho também não parece ser nada penoso para ele, que já tomou muita ferroada na vida, mas aprendeu a lidar sem maiores problemas com as abelhas. “Estou 100% preparado para continuar esse trabalho, tanto pelo fato de eu participar de todas as atividades, ou seja, já estou acostumado a desempenhar todas as funções, quanto por eu ter orgulho. Com isso, sinto que estou ajudando o mundo inteiro, inclusive na parte de preservação”, afirma.
A paixão dele pelas abelhas não se resume às cercas da fazenda. Atualmente, Luiz Mário ‘poliniza’ a palavra da apicultura também onde estuda, na Escola Marci Sebastião Nunes, em Placas do Pitinga, na zona rural de Breu Branco. “Os colegas sempre me perguntam sobre abelhas e alguns já têm criação não muito aprofundada. Aí eles me perguntam técnicas de manejo e sempre estou ensinando. É importante ajudar a divulgar mais sobre a criação das abelhas e criar projetos nas escolas para conscientizar outros jovens da importância desse trabalho”.
NEGÓCIO TAMBÉM NO INSTA
Além de ajudar o pai na produção de açaí e mel, Luiz Mário divide com a irmã Maria Eduarda o papel de social media na página da família no Instagram, onde já acumulam 17 mil seguidores. Lá, dividem a rotina de trabalho, lazer e cuidados com a natureza. E fazem isso há mais de cinco anos e os muitos comentários e curtidas refletem a empatia dos seguidores. A mãe, Carmelia, atua nos bastidores, filmando e controlando o volume e conteúdo das publicações.
“Ela (minha mãe) está me ensinando e já me colocou como sócia da empresa AmaBee, e tenho certeza que vou fazer o meu melhor por causa de tudo que está fazendo por mim hoje”.
Maria Eduarda Amante Pinon tem apenas 11 anos de idade, estuda o 6º ano do fundamental, é a caçula, mas que ninguém pense que ela é criada como o “bebê da família” ou paparicada demais. Há afagos, lazer, mas antes vêm a responsabilidade e aprendizagem contínua ao lado do primogênito Luiz Mário.
Ela cresce aprendendo a subir em pé de açaí, andar a cavalo, cuidar das abelhas e ajudar a mãe Carmelia com a fabricação dos cosméticos AmaBee.
Além de tudo isso, Maria Eduarda é, também, uma espécie de influencer na página do Instagram que mostra o dia a dia da família, com o trabalho de cuidado com as abelhas e diversas outras ações educativas e de sustentabilidade ambiental. Já são praticamente 17 mil seguidores e os números só aumentam, à medida que a fama do açaí, mel e cosméticos dos Pinon se espalham.
“Eu gosto muito de fazer vídeos desde bem pequena. Aí, a gente cria animais e vou mostrando como é a rotina deles, o que gostam de comer. Um seguidor nos deu um jacu, e nós cuidamos dele tão bem, que acabou indo embora, voando para a floresta”, conta a garota, orgulhosa.
Embora pequena, Maria Eduarda ganhou um presente do pai que ela considera um xodó. É uma casa de abelha Jataí, que ele encontrou dentro de um forno em um lixão a céu aberto, que estava prestes a pegar fogo. “Meu pai estava procurando garrafas pets para fazer isca para as abelhinhas, e um moço que estava no lixão perguntou para que serviam as garrafas e disse que tinha um enxame de abelhas dentro do forno, ele perguntou ao meu pai se ele a queria, meu pai aceitou, trouxe para casa e me deu. A partir daí, eu cuido delas com muito carinho”, confessa.
Em casa, Maria Eduarda segue aprendendo a produzir os cosméticos e diz que a mãe, Carmelia, é paciente e confia bastante nela e tem convicção que consegue dar continuidade ao negócio sozinha no futuro. “Ela está me ensinando e já me colocou como sócia da empresa AmaBee, e tenho certeza que vou fazer o meu melhor por causa de tudo que está fazendo por mim hoje”.
Para acompanhar o trabalho da família Pinon pelo Instagram, acesse: @familia_pinon
“Ele veio atrás do Sebrae e alguém lhe indicou para procurar a Lu, que o ajudaria no projeto da bacia leiteira. Passamos prestar ajuda técnica, inclusive orientando na diversificação da base produtiva, com inserção do açaí”
As digitais do Sebrae estão na Fazenda Água Boa, da família Pinon, há mais de uma década, quando Rubinho foi atrás de assessoria para tentar alavancar uma cooperativa leiteira.
Maria Luzineuza Alves, a Lu, analista da Agência Carajás do Sebrae, com sede em Marabá, diz que começou a atender a família Pinon há cerca de 15 anos, e de lá para cá tem testemunhado o protagonismo de seus quatro membros e a forma “incrível” como os pais envolvem os filhos no trabalho e na gestão dos negócios.
“Ele veio atrás do Sebrae e alguém lhe indicou para procurar a Lu, que o ajudaria no projeto da bacia leiteira. Passamos prestar ajuda técnica, inclusive orientando na diversificação da base produtiva, com inserção do açaí”, recorda ela.
O Sebrae também esteve presente na hora de implantar na propriedade dos Pinon as primeiras caixas com abelhas, com a finalidade de melhorar a polinização do açaí.
“Rubinho e o filho Luiz Mário não sabiam nada sobre abelhas, mas mesmo assim foram estudar sobre elas. Com o tempo, se tornaram referência em toda a nossa região. Os Pinon são o maior exemplo que temos de um negócio familiar que prospera no campo com todos os membros envolvidos, porque estão sempre inovando e em busca de conhecimento. Fizeram tudo isso sem desmatar nada; pelo contrário, recuperaram áreas degradadas com recomposição das matas ciliares”, reconhece Lu, como é conhecida carinhosamente pela família de Breu Branco.
Durante a pandemia da covid-19, o Sebrae passou a oferecer cursos on-line em várias áreas. Foi nesse período que nasceram os cosméticos com base no mel produzido pela família. “Carmélia fez um curso de cosmetologia e foi aí que nasceu a empresa AmaBee, que atualmente tem uma boa variedade de produtos e não para de crescer. Já contratamos consultorias para criar a logomarca e rotulagem da empresa, registro da marca e até financeira”, explica a consultora.
De assessoria a consultoria aos Pinon, atualmente o Sebrae presta apoio para adequação de uma casa de mel e outra para adequação da fábrica de cosméticos.
Para que possam entrar em todos os mercados, eles precisam garantir a legalidade de seus produtos, com registros nos órgãos reguladores. “Vamos garantir que tenham registro do mel junto ao MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) e dos cosméticos perante a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, explica Lu, que é tão elogiada pela família, que parece que já faz parte dela.
O desejo de Rubinho em ver a produção crescer encontra base no sonho de ver os filhos sucedendo-os no negócio familiar. “Sempre tive esse sonho de ter uma família que fosse unida e que a gente conseguisse organizar as coisas de forma que todos pudessem fazer parte em harmonia. Eu tenho uma excelente esposa, uma ajudadora fantástica, e filhos maravilhosos que a gente cria num estilo que eles entendam que existe uma vida saudável aqui na roça, com uma fonte de recursos interessante para que eles permaneçam aqui”.
“A ideia é que essa prática sustentável se transforme em uma fonte de renda alternativa para os pequenos produtores rurais da região de Placas, que podem integrá-la aos plantios florestais. Os alunos vão entender que a manutenção das abelhas é essencial para a gente se alimentar”
Estimulada pelo Ministério Público Estadual, a família Pinon decidiu levar abelhas-sem-ferrão para a escola do filho mais velho, Luiz Mário, com o objetivo de ensinar a cuidar dos pequenos insetos voadores e ainda como um esforço em oferecer educação empreendedora para os adolescentes do ensino médio.
Para isso, houve um diálogo com a direção da Escola Estadual Marci Sebastião Nunes, localizada na comunidade de Placas. Mas foram estabelecidas, também, parcerias com o Sebrae, Adepará, IdeflorBio, Embrappa, entre outros.
No dia 20 deste mês de maio, a Escola Marci Nunes recebeu seu meliponário com as abelhas-sem-ferrão, que serão cuidadas pela comunidade escolar. “A ideia é que essa prática sustentável se transforme em uma fonte de renda alternativa para os pequenos produtores rurais da região de Placas, que podem integrá-la aos plantios florestais. Os alunos vão entender que a manutenção das abelhas é essencial para a gente se alimentar”, explica a promotora Alexssandra Mardegan, titular da Promotoria Agrária da Região de Marabá, entusiasta do projeto da família Pinon.
Ela reconhece que o projeto chega à escola não em caráter experimental, porque ele já está consolidado na propriedade dos Pinon e de outras oito famílias desta região. “A bioeconomia é fundamental nos tempos atuais e vocês têm oportunidade de crescer com essa mentalidade de empreendedorismo sustentável”, sintetiza Alexssandra Mardegan.
E as abelhas estão voando, também, em direção ao IFPA de Tucuruí, onde a direção pretende incentivar os alunos a cultivarem abelhas-sem-ferrão e a produzirem mel em suas propriedades com apoio de Rubeci, a esposa Carmélia e os filhos Luiz Mário e Maria Eduarda.
O diretor da escola, professor Cosme Marcelo, diz que a unidade tem 226 alunos que vivem em um raio de 40 quilômetros. Os estudantes são filhos de produtores rurais, por isso a importância de o ambiente escolar desenvolver projetos que atendam às necessidades desse público alvo. Neste sentido, o corpo docente procurou maneiras de oferecer um conhecimento que vai além do metodológico desenvolvido em sala de aula, chegando ao cultivo de abelhas nativas.
“Tivemos a iniciativa de desenvolver um meliponário na escola para que a gente possa levar até os alunos esse conhecimento. Soubemos que a família Pinon já trabalha com isso na região e um dos filhos deles, que é nosso aluno, serviu de link pra gente poder compartilhar com eles a nossa necessidade. Para nós foi um achado. A partir daí, estamos desenvolvendo esse projeto”, relata.
Um dos alunos que estão inseridos no projeto é Gleideson Richard Vasconcelos de Souza, de 17 anos, que já dá passos largos na apicultura. Bastante amigo da família Pinon, ele ajuda frequentemente na produção. “Mudou muita coisa na minha vida desde que eu conheci o mundo das abelhas e me apaixonei por elas. Comecei a gostar de mexer com elas, de viver junto com elas, agora eu faço revisão, ponho melgueira, tiro melgueira, mexo com o mel”, detalha.
Nascido em Belém, ele vive sozinho em Breu Branco com uma irmã de 13 anos e encontrou nos amigos uma boa companhia. “De vez em quando eu durmo aqui, venho pra cá, a gente almoça juntos, tomamos banho juntos, eles são uma segunda família pra mim”.
“Se Deus quiser eu quero chegar também à meta do Seu Rubinho, umas 30 ou 40 colmeias, para ajudar a família na questão financeira”.
As experiências adquiridas pela família Pinon não ficam restritas à própria produção ou ao projeto a ser desenvolvido na escola onde o filho estuda. O casal acredita na importância de a comunidade se unir para crescer.
Carmelia, por exemplo, já se reuniu com um grupo de mulheres e se dispôs a ensiná-las o que aprendeu com os cosméticos. “Eu acho que não existe concorrente, é um ajudando o outro que a gente cresce. Me disponibilizei a ensiná-las a fazerem alguns produtos porque nós vamos ter a nossa marca, mas não vamos ser capazes de atender o estado todo”, explica.
Rubinho defende que a vitrine tecnológica montada pela Embrapa para a família deve ser levada para outras pessoas. “Foi tão boa para a gente, economicamente, que a gente entendeu que é viável. Percebemos que a comunidade também precisava receber esses benefícios, essas informações, aí começou a surgir a ideia de a gente começar a trabalhar na comunidade, com os amigos”.
A partir disso, afirma, a Embrapa já ministrou um treinamento de dois dias na propriedade com a participação dos vizinhos que têm interesse em criar abelhas. Após isso, Rubinho e o filho passaram a visitar as outras propriedades para prestar assistência. “A gente continua fazendo esse trabalho de incentivar, de motivar, de doar algumas caixinhas, de ajudar a resgatar abelhas…”.
Uma das pessoas impactadas positivamente é Manuel Rodrigues de Andrade, mais conhecido como Neto. Ele conheceu a família Pinon trabalhando na coleta de açaí da propriedade, onde teve a curiosidade atiçada pela criação de abelhas. Na terra dele também havia enxames, mas ele não sabia tirar o mel sem levar muitas ferroadas. “Aí eu fui na casa do Rubinho, falei das abelhas que tinha lá em casa e ele disse que ia me ajudar. Um dia ele foi em casa e tirou o mel pra mim”.
Nesse encontro, Neto começou a fazer perguntas sobre equipamentos e a roupa de proteção especial para remover o mel. Percebendo o interesse do vizinho, Rubinho doou roupa apropriada e um fumigador. “Sou muito grato. Graças a Deus ele vem me dando apoio, suporte e me incentivando a criar a abelha”, celebra Neto.
A produção ainda é pequena, compartilhada com familiares e às vezes vendida em Marabá para algumas pessoas próximas, mas a intenção é aumentá-la. “Se Deus quiser eu quero chegar também à meta do Seu Rubinho, umas 30 ou 40 colmeias, para ajudar a família na questão financeira”.
Dona Maria Francisca aprendeu com Rubinho e agora ensina a neta Karime a cuidar das abelhas
Maria Francisca de Araújo, de 70 anos, vive há mais de duas décadas na região, onde planta, cria animais e agora também iniciou uma “criaçãozinha” de abelhas, como ela mesma identifica. Ela foi contagiada com a meliponicultura pela família Pinon.
Segundo a septuagenária, além de ajudar na preservação ambiental, a tarefa é uma “terapia” no dia a dia. “É uma das coisas que eu faço com alegria, que eu já tinha vontade de fazer há algum tempo. Sempre quis cuidar delas, até que eu tive a oportunidade porque o Rubinho me deu uma força”, conta, sorrindo.
O mel que produz, diz, é dividido. “Se alguém precisa, a gente tem prazer de ajudar porque é uma coisa gratificante poder dividir com quem não tem”.
A família Pinon conta com diferentes parcerias, tanto para melhorar a produção quanto para auxiliar outros interessados. Além de Embrapa e Sebrae, que auxiliam com informações técnicas, e Ministério Público Estadual, que tem atuado com o projeto nas escolas, há também o Ideflor-Bio, que auxilia na montagem de viveiros e doação de sementes e mudas.
Por fim, os apicultores estão criando uma associação que passará pelo treinamento do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), do Senar, para profissionalização dos produtores.
Expediente
Especial Mel sabor de açaí
Publicado em 31 de maio de 2024
Jornalista e editor. Encantado com a história da família Pinon, mobilizou seis pessoas da equipe para passarem dois dias na propriedade e montar uma storytelling.
Diretor de Cena. Apreciador de mel, também descobriu com os Pinon as propriedades do hidromel que eles produzem.
Diretor de Fotografia. Apaixonado por açaí, ficou encantado com a sintonia dos quatro membros da família Pinon e o foco em sustentabilidade.
Editor de vídeo e Colorista. Provou e aprovou do mel de açaí. É apaixonado por narrativas envolventes e por recursos audiovisuais.
Fotógrafo. Embora tenha medo que se pele de picada de abelhas, conviveu pacificamente com elas durante as imagens que fez das colmeias da família Pinon.
Assistente de Direção. O contato com a família Pinon o levou a valorizar ainda mais os pequenos negócios.
Webdesigner, que gosta de açaí, mel e todos os derivados dos dois produtos.