CORREIO: agora são 40 anos de transformação

Entrando no “Ano 40”, compreendemos que nossa maior conquista e o ponto mais marcante de nossa história foi ter conquistado você, leitor. E queremos continuar alimentando essa relação com notícias confiáveis

Um jovem senhor de 40 anos. Que vai rejuvenescendo com o passar do tempo. Que já percorreu muitas estradas, fez parte da história de muita gente e segue seu caminho. Se renovando, ousando e crescendo. A homenagem de hoje é pra ele. Um jornal que já nasceu com o propósito de servir o leitor.

Ernest Hemingway, ainda na década de 1950 com o lançamento de O Velho e o Mar, mostrou que a dificuldade pode não estar – necessariamente – em pescar o peixe, mas em trazê-lo à praia. Mesmo tanto tempo depois e diante de um mercado editorial em que os desafios se impõem em tempo real, a metáfora do escritor americano cabe perfeitamente no jornalismo atual.

Os veículos de comunicação já não disputam mais a atenção do leitor apenas com os concorrentes históricos, enfrentam também competidores típicos dos novos tempos, como os serviços de streaming, redes sociais e até as fake news. Para captar a atenção do público na era digital, nos últimos anos o CORREIO investiu em tecnologia de ponta e na manutenção do jornalismo de qualidade. Ao chegar aos 40 anos neste domingo, 15 de janeiro, é possível constatar que obteve êxito nessa tarefa.

O CORREIO é sinônimo de mudança, de superação. Ele se reinventa dia a dia e segue transformando a vida das pessoas. O jornal que foi lançado em 1983, com apenas 12 páginas e textos diversos diagramados e divididos por linhas pretas, foi crescendo e absorvendo as tecnologias. Num dia, as primeiras fotos são publicadas em preto e branco; no outro, a ousadia de uma arte na capa. Depois, chegam as cores, um maior número de páginas, articulistas, reportagens especiais e mais assuntos para o leitor.

Se, no começo, eram apenas a cidade, a política, os casos de polícia que tomavam conta das páginas, o jornal foi ampliando seu público e entregando um leque cada vez maior de informação. Economia regional, esporte, comportamento, diversão, saúde, tecnologia…

Com o passar do tempo, O CORREIO foi se tornando múltiplo. Ele segue levando, no papel, uma curadoria especial com as principais informações para o seu leitor. Notícias, análises, opiniões, serviços e entretenimento. Sempre com qualidade. E se espalha também pela internet, seja no portal CORREIO DE CARAJÁS, seja nas páginas e perfis das mais diversas redes sociais, seja pela lista de notícias do WhatsApp.

Além dos projetos multiplataformas, com CORREIODOC e WEB STORIES, que nos conferem séries audiovisuais. Neste especial, contamos um pouco dessa história, que mistura as reportagens, opinião de personalidades de diversos segmentos, leitores, jornaleiros e todos que fazem o seu JORNAL CORREIO. Sempre com os votos de vida longa a este jovem de 40 anos.

Fundador do Correio olha para o passado, presente e futuro e faz uma reflexão sobre a relevância do periódico que exerceu grande influência em vários setores da comunidade local nos últimos 40 anos

As últimas quatro décadas, marcos da história de Marabá, do Pará, do Brasil, do mundo – e além – foram narrados e problematizados aqui. A enchente, por exemplo, é tema que ilustrou as páginas do JORNAL CORREIO desde seus primeiros dias. O flagelo, o impacto do garimpo de Serra Pelada na vida do homem e das cidades da região estão documentados nas páginas deste longevo jornal. Assim como mudanças de gestões e modelos políticos, revoluções do comportamento, guerras e conflitos, uma pandemia, marcos científicos e muitas perdas – incluindo a morte de Pelé, ocorrida há poucos dias.

E foi pelas mãos de um homem que tudo começou.

Mascarenhas Carvalho da Luz era comerciante, mas apaixonado por jornal. Já tivera experiência em outros dois periódicos que circularam na cidade, na condição de colaborador. Quando ambos encerram suas atividades, ele reuniu um grupo de profissionais e decidiram continuar a missão.

Sim, uma missão: informar e transformar.

Olhando para trás, em uma entrevista na última semana para este caderno comemorativo, Mascarenhas Carvalho reconhece que em 1983 não imaginava a longevidade que o jornal CORREIO DO TOCANTINS teria e a enorme influência que ele exerceria na comunidade marabaense e em outras cidades da região. “A gente só queria levar notícia imparcial, apesar das dificuldades da época”, sintetiza.

Ao preço de 150 cruzeiros, a ousadia do início tinha 16 páginas impressas em maquinário de Belém. Nas folhas, notícias essencialmente de Marabá, notadamente sobre a política, mas também informações do Pará. Esta primeira edição vinha com reportagens e artigos assinadas pelo saudoso Raymundo Rosa, Aziz Mutran Filho, Adalício de Macedo, Ozélia Carvalho de Souza, Pyterson Faleiro, Antônio Carlos Guimarães e com editoria de Carlos Mendes e o próprio Mascarenhas Carvalho.

A história do CORREIO DO TOCANTINS pode ser contada pelo que foi publicado em suas 4.000 edições, mas não é só essa a marca. O negócio se expandiu, assim como as vozes pretendidas pelo fundador. Se naquele 1983, o jornal bastava, hoje a tecnologia impõe novas formas de dizer. Ao longo dos anos, pelo rádio, TV e Internet. O projeto de Mascarenhas Carvalho, iniciado há 40 anos, consolidou-se há cerca de 10 anos, sob outra gestão, agora como um grupo de comunicação cuja marca é a inquietude da inovação.

O QUE RECORDA O FUNDADOR?

Mascarenhas Carvalho relembra que a ideia naquele momento, em 1983, era que a cidade tivesse uma tribuna em defesa do povo. “O maior desafio no começo foi o fato de não termos estrutura local, e o jornal iniciou e passou alguns anos sendo editado aqui e impresso em Belém. Um verdadeiro sacerdócio essa correria de ter que levar esse material a Belém. Às vezes, até esfriava um pouco a notícia. Mas, consegui imprimir, através de Belém, por vários anos”, recorda.

Mascarenhas admite que se dividia entre as três lojas que possuía e a redação do jornal, que instalou na Rua Bartolomeu Igreja, 1381, na Velha Marabá. Pouco tempo depois, o jornal começou a crescer e tomar proporções maiores, foi então que a dedicação aumentou e o empresário decidiu mudar o local de trabalho, transferindo a sede do periódico para a Folha 32, Nova Marabá, que ele acabara de construir.

O fundador conta que um dos momentos mais felizes e marcantes da história do jornal foi quando ele conseguiu instalar a primeira máquina impressora rotativa. A alegria tomou conta não só dele, como de toda a família e dos colaboradores.

“Por anos, o jornal foi impresso na capital do Estado e, ver a impressora instalada na sede do Jornal Correio foi marcante. O Patrick Roberto (filho mais velho) estudava em Brasília. E quando chegou para passar as férias aqui, levei ele lá para ver as máquinas. Ele se deparou com a impressora rotativa do jornal e fomos os dois às lágrimas”, confessa.

“Além do desafio de editar o jornal em uma cidade e imprimir em outra, a maior dificuldade que nós tínhamos era a mão de obra, sempre escassa. Tinha de importar jornalista de outras cidades e isso me preocupava muito”, admite.

BATEU A DEPRESSÃO

Se no início, Mascarenhas Carvalho não pensava na longevidade do jornal, com o passar dos anos a preocupação era de quem o sucederia na gestão veículo de comunicação. Assim que passou o controle do Jornal Correio para a atual gestão, Mascarenhas admite que entrou em depressão.

“Foi uma fossa muito grande. Eu levantava quatro horas da manhã e ia lá no parque gráfico, que era anexo à minha residência. Mesmo eu tendo passado o jornal a outro dono, ele continuou funcionando por uns dois anos lá. Teve um dia que um encadernador chegou a me interpelar e falou: ‘o senhor está pensando que o jornal ainda é seu?’ e eu disse ‘tô pensando, sim. Mas, só vim aqui pegar um exemplar pra ler’”, conta sorrindo, relembrando o período que precisou para se afastar definitivamente do dia a dia da empresa.

Ao longo dos últimos 40 anos, Mascarenhas admite que se pudesse voltar no tempo fundaria o jornal (de novo), com o mesmo nome. “Sou apaixonado pela comunicação. Tanto que deixei o comércio para cuidar desse veículo, que não era só meu, era de Marabá e da região”.

Feliz com a trajetória do impresso, Mascarenhas ressalta sua alegria em ver que a semente que plantou germinou e continua sendo prestigiada pelos leitores. Para ele, o velho CT continua importante e se orgulha de o filho Patrick Roberto continuar à frente do veículo, como diretor de Redação.

Colaborador mais antigo do Jornal, “Banjão” testemunhou fatos históricos em Marabá ao longo de 33 anos e continua sendo relevante para a produção do jornal e portal

Por mais de três décadas, um nome está intimamente ligado à história do Jornal Correio. Suas digitais estão marcadas em praticamente todas as edições. E não estamos falando de Mascarenhas Carvalho, que fundou o periódico que completa 40 anos neste 15 de janeiro de 2023.

Ele atende por Evangelista Rocha, ou Banjão. Ainda menor de idade, foi contratado como estagiário em 11 de novembro de 1989. De lá para cá, se passaram 33 anos de captura de imagens para ilustrar reportagens nas páginas do jornal.

Sua primeira câmera foi uma Pentax K-1000, com única lente de 50 milímetros. Naquela época, trabalhava apenas com fotografia preto e branco, usava filmes com 24 e 36 poses e revelava as imagens em um estúdio instalado na Redação do Jornal, na Folha 32.

Cobria polícia ao lado do chefe, Mascarenhas Carvalho, na acanhada delegacia da Folha 30. Os dois foram mais que patrão e funcionário. Eram amigos.

Em mais de três décadas, Evangelista Rocha acompanhou a evolução do preto e branco para o colorido e depois para o digital.

Além de fotógrafo, colaborou também como motorista, distribuidor de jornal e cobrador.

Sua experiência e conhecimento sobre Marabá serviram de referência para todos os repórteres novatos que chegaram ao CORREIO até aqui. Humilde, sempre ajudou os “focas”, apelido para os jornalistas iniciantes.

Evangelista Rocha precisou reinventar-se para adaptar-se aos novos tempos. Recentemente, aprendeu as técnicas básicas de filmagem para ajudar a equipe na produção de documentários e vídeos para as reportagens do Portal Correio de Carajás.

TESTEMUNHO DO EX-PATRÃO

“O Evangelista chegou lá ao CT por meio do Natal Pereira, que era cunhado dele. Veio ainda jovem, devia ter uns 17 anos. Senti o potencial dele pra coisa. Meus profissionais, a maioria dei oportunidade, ajudei a fazer. Mas, lógico que o mérito é de quem aprende.

Ele chegou como auxiliar e virou o fotógrafo com mais tempo de jornal, estando lá até hoje. Profissional autêntico, responsável, não falta ao serviço e dá conta da responsabilidade. E, na ausência do repórter, ele faz a entrevista e a foto também. Uma espécie de faz tudo”. – Mascarenhas Carvalho, ex-diretor-presidente do Jornal Correio do Tocantins.

RELATO DE QUEM NÃO ESQUECE

“Tivemos momentos bem barra pesada em Marabá. O Evangelista sabe, acompanhou muita coisa. Naquele espaço do Museu Municipal já funcionou o Poder Legislativo e lá tivemos muitos embates políticos. Ele era bem novinho, magrinho e testemunhou vários episódios polêmicos. As lentes do Evangelista registraram fatos relevantes na história de Marabá. Ele viu muita coisa acontecer e outras quase acontecer e que poderiam ter se transformado em tragédias. O Evangelista registrou boa parte da história de Marabá”. – Vanda Américo, presidente da FCCM e vereadora licenciada.

Patrick Roberto, filho do fundador do jornal e atual diretor de Redação, faz reflexão sobre o legado do veículo de comunicação que se transformou em Grupo de Comunicação

Quando o Jornal Correio foi fundado em 1983, Patrick Roberto, filho de Mascarenhas Carvalho, já era criança e andava pela redação, no começo ainda improvisada, que foi instalada nos fundos de uma das lojas do pai, na Velha Marabá.

O atual diretor de redação lembra que ficava deitado depois do almoço, junto com os irmãos, em um colchonete atrás dos redatores que estavam trabalhando em suas máquinas de escrever preparando o material que seria enviado para Belém para impressão do jornal.

“Essa é uma imagem que tenho muito forte na cabeça. Outra coisa é que naquela época era um desafio a questão da fotografia. As câmeras eram de filme com 12, 24 e 36 poses, preto e branco, que revelava mais rápido. O jornal naquela época tinha um acordo com a loja de fotografia para entregar em pelo menos 24 horas as fotos reveladas”, detalha, afirmando que foi crescendo junto com o jornal.

Com um filme passando na cabeça, Patrick revela que este ano, quando o jornal comemora suas quatro décadas de existência, ele completa 20 anos que voltou de Brasília formado em jornalismo.

“Estou há 15 anos como editor. Passa um filme de muitas coisas que vivemos nesse período. E, principalmente ao longo dos anos, formei um entendimento sobre a complexidade do que foi essa vivência e de que muito do que existe no jornalismo no interior do Pará, nessa região, as pessoas se inspiraram no que o Correio fez”.

O diretor de redação afirma que grande parte dos profissionais que estão hoje, em redações ou assessorias de imprensa, passou pelo Correio e copiam seu formato.

Com a sua vida, desde pequeno, relacionada ao jornalismo, Patrick decidiu optar pela profissão na hora de fazer sua inscrição para o vestibular. Inspirado pelo pai e pela importância do jornal, ele só contou sobre a escolha depois. Até então, os pais acreditavam que ele faria vestibular para Publicidade e Propaganda.

“Meu pai ficou muito feliz. Não contei pra ninguém, só depois da aprovação. Ele conseguia ver um horizonte para o jornal continuar quando ele precisasse passar o bastão”, fala, ressaltando que o pai não teve a oportunidade da vivência acadêmica. Contudo, de todos era o melhor.

Aliás, Patrick afirma que dentre as tantas qualidades do pai está a ética. “Formando” uma geração de jornalistas em Marabá, Mascarenhas Carvalho fez escola e sempre foi muito elogiado por sua postura profissional.

“Meu pai herdou do meu avô e eu herdei deles dois. Meu avô era um leitor voraz de jornal, ele lia muito, era muito inteligente e grande parte do conhecimento que ele tinha sobre o mundo era da leitura de jornais. Meu pai por consequência é uma pessoa extremamente curiosa, gosta de conversar. Meu pai estudou por conta própria, conhecer como funcionava o jornalismo. Ele sempre foi muito correto. E as bases que ele nos deu prepararam toda uma geração aqui em Marabá. Então, tudo o que aprendi, coloco 70% na convivência com ele e 30% no banco da faculdade. O dia a dia da redação, as situações que a gente passa na rua e as dificuldades de apuração é que moldam o jornalista e nos fortalecem”.

Quando o pai passou a direção do jornal para o Grupo Correio, Patrick foi consultado para continuar no novo projeto, sendo editor geral e diretor de Redação. Ele admite que deu um frio na barriga, porque foi a partir daquele momento que ele estaria como editor chefe do jornal e a responsabilidade seria toda sua.

Porém, foi nessa época que mais cresceu e criou asas. “Foi mais penoso do que eu imaginava. Nossa profissão tem muitos dissabores, muito difícil de lhe dar. Mas é edificante. Hoje, o balanço que faço é que a gente avançou muito”.

Por ser o editor chefe do Jornal Correio, Patrick Roberto é sempre um dos últimos a sair da redação, sempre no final da noite ou início da madrugada. Questionado sobre o cansaço dessa rotina exaustiva que acontece três vezes por semana e se pensa em parar, ele afirma que o amor pelo jornalismo fala mais alto. “Pude viver isso nos últimos anos de forma muito intensa. Às vezes, penso que poderia estar envolvido com outras coisas. Mas, esse amor pelo que faço me segura muito aqui. Essa nossa relevância ainda vai durar muito tempo”, prevê Patrick sobre o futuro do Jornal Correio.

Escritora e professora doutora em Linguística na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Eliane Soares tem uma forte ligação com o Jornal Correio nos 40 anos de história do periódico. O primeiro momento se deu em meados dos anos 80, mais precisamente em 1986, quando a então estudante reivindicava a interiorização da Universidade Federal do Pará.

“Eu fazia parte do movimento estudantil, a Unemar (União dos Estudantes de Marabá), da qual sou uma das fundadoras, e nós fazíamos um movimento na cidade. Íamos nas escolas públicas clamando que os alunos participassem e se juntassem em torno dessa reinvindicação”, recorda.

O movimento ganhou força e culminou com outra manifestação, agora dentro do Campus I. Foi lá dentro que o Correio registrou uma foto dos estudantes. “É uma imagem muito bonita, em frente ao prédio principal. Foi um momento muito importante e gostaria muito de poder resgatá-la, porque faz parte não só da história do Campus, mas do movimento estudantil de Marabá”, diz a professora.

Eliane ressalta que o jornal impresso tem uma história muito bonita que acompanha os últimos 40 anos de Marabá. “Para quem mora na cidade há pouco mais de 40 anos, como eu, muita coisa aconteceu em termos de mudança cultural, educacional, política, e o Correio vem acompanhando essa história através de registros, que são documentos. É uma memória coletiva”, acentua.

A professora observa os projetos que desenvolveu tiveram uma visibilidade e um prestígio maior na sociedade por conta das divulgações que eram feitas na imprensa. “Fui fundadora de vários projetos, como o Sarau da Lua Cheia e o Marabá Leitora e enquanto movimento, o jornal sempre deu uma relevância com uma abordagem muito bacana, de uma forma muito generosa com os artistas e poetas”.

A escritora sabe da sua responsabilidade e afirma que espera contribuir para que novos talentos apareçam, que outras pessoas sonhem, escrevam e publiquem. Com muitos conteúdos escritos, Eliane revela que sua produção ainda continua, em grande parte, no anonimato literário. (Ana Mangas)

O dia 15 de janeiro é aniversário do Jornal Correio. Mas é, também, a celebração do aniversário do marabaense e ex-prefeito Paulo Bosco Rodrigues Jadão, conhecido como Bosco Jadão, que completa 88 anos neste domingo. E, assim como o jornal, tem muito a conta e comemorar. Em suas próprias palavras, ele diz que há 40 anos recebeu, com Marabá, um grande presente: a fundação do Correio do Tocantins. A situação passa de coincidência à intimidade, gratidão e caminhos percorridos em conjunto.

Na época, Bosco Jadão era prefeito da cidade e fez um contrato com o jornal para que o trabalho do Poder Executivo fosse publicado e assevera que isso só aconteceu porque ele conhecia responsabilidade do Correio do Tocantins com a verdade, algo que, em sua visão, deixava a desejar em grande parte da imprensa, não somente naquele período, como atualmente.

“Àquela altura não havia eleições, tratava-se de um governo revolucionário. Sendo sincero, eu não queria ocupar o cargo, pois eu administrava uma empresa grande, mas por insistência dos amigos, e até a força da Maçonaria, acabei por aceitar”, explica como foi parar no cargo de prefeito de Marabá.

Ele avalia que durante sua vida e trabalho prestou um grande serviço à Marabá. Responsável por trazer o núcleo da Universidade do Estado, fundar a Casa da Cultura, Bosco Jadão relembra que o Jornal o auxiliou a divulgar suas ações representando o município nas relações jurídicas, políticas e administrativas, além de sancionar, promulgar e publicar as leis e, através da mídia representada pelo Correio, prestando todas essas contas à população marabaense.

“Um jornal sério como foi o Correio do Tocantins e como é o Correio hoje ajuda qualquer administração com transparência ao publicar os acontecimentos e decisões. Essa ajuda eu tive”, recorda e traz para uma perspectiva atual como sua relação com o veículo mudou, mas não deixou de ser assídua, tendo em vista que é assinante e leitor regular até hoje.

Seu Bosco Jadão, muito humilde e ainda esbanjando simpatia, agradeceu aos jornalistas pelo trabalho exercido e disse que deve ser continuado, já que para ele, continuará contribuindo para o crescimento de Marabá, assim como na sua época.

Mineiro da cidade de Uberaba, Bento Divino de Oliveira, o Bentinho, chegou a Marabá há quase 50 anos. Na mala trouxe só os instrumentos musicais da banda que fazia parte junto com outros amigos, os “Brasas 6”, que embalou uma geração na década de 1980.

A banda nasceu em Goiânia e em uma viagem para tocar em Porto Nacional, no Estado do Tocantins, os músicos decidiram ficar. Logo depois, surgiu a oportunidade de fazer um show em Marabá, e aqui decidiram se instalar. “Eu estou aqui até hoje, me considero marabaense”, diz Bentinho.

Atualmente, ele trabalha como examinador e instrutor de trânsito. A música ainda faz parte do seu dia a dia, mas de forma mais leve. Ele conta que só toca profissionalmente quando recebe convites para aniversários e casamentos.

À reportagem, o músico fez uma volta ao passado relembrando o período de quando chegou na cidade. “Só existia a Velha Marabá. Ali na Getúlio Vargas tinha uma loja do Mascarenhas, meu compadre, ele vendia bugiganga e semi-joias. A gente só vivia ali, a nossa banda, naquele pedaço”, recorda.

Em 1980, quando a cidade foi atingida pela grande enchente, Bento relembra que muita gente deixou Marabá, mas foi também, nesse período, que surgiu o garimpo da Serra Pelada. “Foi a salvação da cidade. E logo em seguida, Mascarenhas teve essa ideia de montar o jornal. E não é que deu certo! 40 anos e sucesso até hoje”.

Bento lembra das primeiras edições do jornal que circularam na cidade, e afirma que o “compadre Mascarenhas” sempre fazia questão de divulgar o trabalho dos “Brasas 6”.

“Na Praça Duque de Caxias todo mundo ficava sentado lendo. Isso inspirou o Mascarenhas. Pense num cabra bom de negócio. Ele viu isso e começou a trabalhar com jornal. Todo mundo ficava esperando o dia do jornal sair”, recorda o músico.

Ele conta que naquela época só existia o jornal impresso e a televisão, que era colocada na porta de casa e todo mundo sentava na rua para assistir. “A gente era feliz e não sabia. Passava na Velha Marabá umas 19 horas estava todo mundo sentado na rua vendo televisão”, sorri.

Para Bento, o jornal foi muito importante para a época e soube se modernizar com o passar dos anos.

“Hoje, as notícias chegam através do celular, da televisão, tudo ao vivo. Mas, na nossa época de jovem, eram os jornais impressos que davam as notícias. O jornal merece todo nosso respeito. Ele nos informou de muita coisa que a gente não tinha condições de ver”, finaliza. (Ana Mangas)

Em abril de 1997, Marabá chegava aos seus 84 verões; o massacre de Eldorado dos Carajás completava um ano e os moradores do Bairro Pioneiro lidavam com as consequências do recuo do Rio Tocantins, após uma grande enchente. Em paralelo, em uma escola da Nova Marabá, aquele que no futuro seria o maior grupo artístico-cultural da cidade, realizava sua primeira apresentação: agora batizada de Companhia de Dança Yaguara.

“No dia 21 de abril foi a primeira apresentação, na escola Gaspar Viana (Folha 16), às 11 horas da manhã. Era aniversário da escola e a gente estava ali, cheios de expectativa”, relembra Cláudio Roberto de Souza, produtor cultural e diretor da companhia, que em 2023 completa 26 anos.

Cláudio mergulha em sua memória e revive o cenário cultural que a terra de Francisco Coelho vivia naquela época: “É interessante que eu também era muito novo, tinha 17 anos. A gente não possuía experiência nenhuma; a cidade não era o que é hoje; não tínhamos esse conhecimento; não havia rede social, não tinha tudo isso que ajudava na divulgação. Então, a gente tinha de se virar.

Ainda que seus primeiros passos tenham acontecido naquele ano, foi em 1999 que o grupo recebeu sua primeira menção no Correio do Tocantins. Em julho, durante a temporada de verão – amazônico – quando o Yaguara realizou uma apresentação em um dos locais de lazer mais badalados da cidade, a Praia do Tucunaré.

“Foi uma felicidade enorme para nós, aparecer no jornal como uma programação de verão. Aquilo ali era grandioso, a gente pegava aquele jornal e não tinha foto, não tinha imagem, não tinha nada. Mas tinha o nosso nome. A gente se sentia muito importante”, conta com um brilho de emoção no olhar.

Até que em 2009 o Yaguara estampava uma página inteira na edição número 1.955, de 15 e 16 de setembro. O subtítulo da matéria redigida pelo jornalista Ulisses Pompeu, anunciava: “Cia. de Dança se supera ao inaugurar a era dos musicais em Marabá”.

Cláudio recorda que a matéria foi um divisor de águas na história do grupo: “Foi o nosso primeiro musical; foi o momento da separação dos irmãos Flávio e Cláudio. Foi o momento de o Yaguara reaprender a conviver. O jornal veio para estampar essa mudança e veio para realmente nos agraciar com esse presente”.

O diretor destaca a importância do jornal ao longo de sua trajetória, que é marcada pelo companheirismo entre a imprensa e a cultura:

“Acreditamos que para os artistas, grupos culturais, esportistas, etc, a imprensa é muito importante. O Correio, nesses 40 anos de estrada, produziu cultura junto com a gente”. (Luciana Araújo e Ulisses Pompeu)

Formada em Letras, Edna Cunha Rodrigues, 87 anos, nascida e criada em Marabá, trabalhou 40 anos servindo o município e hoje é aposentada pelo Secretaria de Estado de Educação (Seduc) pelos anos de trabalho na cidade que ela caracteriza como hospitaleira. No município, construiu sua vida, se casou, teve filhos e eles lhe deram netos e bisnetos. Trata-se de uma família constituída, em sua maioria, por educadores, assim como ela, que representa majestosamente o segmento da educação na cidade.

“Conheci o Correio do Tocantins ao longo dos anos que trabalhei como professora. Como docente, sempre fui leitora e acompanhei a trajetória do Jornal e sua maestria através das notícias do dia a dia, que faziam parte do meu”, recorda.

Para ela, alguém que sempre amou ler, sempre foi uma honra e um privilégio acompanhar tantas informações de qualidade desde sua fundação e contribuir como uma figura tão especial no que tange à educação estadual.

Para professora Edna, o Correio sempre serviu com aptidão à cidade de Marabá, mas mais do que isso, o veículo possui participação direta na vida dos que o acompanham, há muito tempo ou não, criando uma conexão, que chega a arriscar e caracterizar como amor: “Eu faço parte disso. Leio há tantos anos, acompanho tantas histórias incríveis, boas, tristes”, ressalta a educadora octogenária, que acrescenta dizendo que a leitura costuma envolver também as amigas, que após checarem os fatos marabaenses no impresso, se reúnem para discutir o que mais as interessou.

LIGAÇÃO

Ela relembra que, Mascarenhas, o fundador do Jornal, foi seu aluno. Para caracterizá-lo, dona Edna utiliza as qualidades de estudioso, amistoso e inteligente. Com uma memória privilegiada, a educadora guarda com muito carinho dentre muitas outras vividas nesses quase 90 anos, ela revela que ainda guarda com zelo o presente que recebeu do aluno à época: um relógio de mesa. Tal atitude representa à dona Edna um afeto diferenciado do fundador do jornal para com seus mestres.

A partir daquele momento, criaram uma relação de amizade e isso foi transferido para os filhos e netos que, hoje em dia, possuem um vínculo bastante amistoso. Algo que tem ligação direta com o Jornal, já que nenhuma conquista de seus familiares deixa de estampar o caderno da página Social do Jornal Correio.

Com extrema graciosidade, Edna diz que se sente extremamente feliz de estar viva e prestigiando os 40 anos de um jornal que possui grande dedicação em cada etapa de sua formação, desde os funcionários, até a qualidade da notícia. “É um veículo que merece reconhecimento por cada ato de serviço durante todo esse tempo. A informação de qualidade nos basta e arrisco dizer que cada marabaense é grato por isso”, assevera.

O ano da fundação do Jornal CORREIO DO TOCANTINS é, com certeza, um marco para Marabá e muitos comerciantes. Em especial, Sebastião Carmo Ferreira, de 61 anos, conhecido como Carminho e proprietário da loja A Principal, situada na Marabá Pioneira. Mais do que respeito e reconhecimento enorme pela criação do veículo que completa 40 anos, o comerciante tem um carinho especial por 1983, tendo em vista que foi quando se casou e teve sua filha. Duas histórias que se cruzam e são marcadas pelo desenvolvimento do comércio marabaense.

 

Natural de Minas Gerais, da cidade de Monte Alegre, Carminho chegou aos 14 anos em Marabá, na década de 1970, para ajudar seu irmão na loja de enxovais para bebês e mães que hoje é de seu patrimônio. Infelizmente, nove anos depois, seu sócio fraternal faleceu em um acidente e ele assumiu os negócios desde então e vivenciou o crescimento mercantil daquela época até os dias atuais.

CONTEXTO COMERCIAL

O comerciante relembra que Marabá era uma cidade bastante desestruturada, logo, houve dificuldades com crescimento desenfreado e repentino pela falta de preparação para a expansão com o boom em Serra Pelada. Mas, Carminho explica que diante das necessidades, o município, o poder público e principalmente o comércio, foram se adaptando vagarosamente melhor as circunstâncias da época.

Diante disso, houve a chegada de muitos bancos e a instalação de novas empresas, o que pedia a criação de uma imprensa que veiculasse tamanhos acontecimentos e o desenvolvimento marabaense. O comerciante conta que se recorda da propaganda realizada através de um panfleto sobre a fundação do Jornal Tocantins em outro veículo de comunicação já existente e da felicidade que isso gerou.

Para ele, o papel da imprensa é fundamental e atribui a ela a atual conjuntura no que diz respeito ao desenvolvimento de Marabá. A admiração e a responsabilidade que Carminho dá ao Jornal é tamanha ao ponto de definir em uma única palavra o Correio do Tocantins: Progresso.

O comerciante foi assinante do jornal por décadas e afirma ficar ansioso pelos dias que recebia os exemplares e, com eles, as notícias e os fatos da cidade, para se informar sobre os assuntos locais, considerando que era o principal meio de comunicação até mesmo para tomar conhecimento de noticiais estaduais.

Questionado sobre os fatos veiculados que mais o marcaram, ele cita o anúncio da construção da primeira ponte rodoferroviária, evento que confessa ter chegado a duvidar, tendo em vista a importância e a grande expectativa do fato. “A verticalização do comércio, a chegada das indústrias e das siderúrgicas que produziam o ferro gusa também foram assuntos muito bem tratados e trazidos até nós”, finaliza, acrescentando que o Correio era o grande propagador das “boas novas”. (Ulisses Pompeu e Thays Araujo)

O belenense Sales Batista chegou ao município de Marabá no ano de 2003 para administrar a Igreja Assembleia de Deus na região, e uma das primeiras amizades que fez na cidade foi com o “embrião do jornal”, como ele chama, Mascarenhas Carvalho, fundador do Correio do Tocantins.

“Começou aí uma parceria de amizade comercial. Na época, a igreja só tinha 27 templos – hoje são 134 – e eu precisava mostrar a cara da Igreja Assembleia de Deus em Marabá”, relembra o pastor e vice diretor estadual.

E foi nessa época que o jornal teve papel fundamental para a igreja, pois conseguiu um espaço, por um determinado valor, para que fosse feito um jornal da igreja e impresso na gráfica do Correio do Tocantins, que circulava a cada quatro, cinco meses.

Atualmente com 70 anos de idade, Sales Batista ainda é adepto à leitura do jornal impresso, mesmo com a tecnologia e modernidade das notícias em tempo real.

“O primeiro livro que devo ler todo dia, quando acordo, é a Bíblia. É o correto, depois o jornal. Tenho que ter muito cuidado, se eu não vigiar, deixo a Bíblia pra depois de ver as notícias, seja online no celular ou no jornal impresso que chega em casa às terças, quintas e sábados”.

Durante os 20 anos em Marabá, Sales Batista conta que acompanhou algumas mudanças da cidade, que se transformou no município de referência no sul e sudeste do Estado. Para ele, o Jornal Correio mostra o crescimento do município através de suas páginas, seja pelo meio político, econômico ou social.

Marabaense de coração e por título – recebeu duas vezes – Sales afirma que sempre que viaja acompanha as notícias daqui através das redes sociais e do jornal online. “Quando estou longe, acompanho tudo através do Correio. Quero saber como está a cidade e a igreja que dirijo, porque se acontece alguma coisa na igreja, vai sair no jornal também. O mais importante desse jornal, que está fazendo 40 anos, é que ele é imparcial. Não tem cor, placa de igreja, barreiras. O jornal abre espaço para todos”.

Totalmente apaixonado por Marabá, o belenense nem pensa em voltar a morar na capital. “Quando pego um ônibus, um carro ou avião para Belém, assim que vou chegando minha vontade é voltar. Me alegro quando venho de avião e ele começa a descer e vejo minha querida cidade de Marabá”. (Ana Mangas)

Testemunha viva dos 40 anos do Jornal Correio, Santino Pereira Gomes é também o proprietário do comércio mais antigo de Marabá, a CASA BANDEIRA, que tem como foco o segmento de caça e pesca e fica situada na Avenida Marechal Deodoro, na Marabá Pioneira. Aos 80 anos, Santino é assinante e leitor assíduo do impresso desde a fundação do Jornal, batizado de CORREIO DO TOCANTINS.

Morando há 70 anos no município, acompanhou muitas transformações da cidade que, inclusive, foram noticiadas pelas páginas desse veículo de comunicação.

Ele, que nasceu na cidade de Montes Altos, no Maranhão, veio para Marabá a bordo de um barco, com 10 anos de idade. A Casa Bandeira foi fundada em 1929, pelo paraibano José Bandeira de Souza. Ele era casado com uma irmã da mãe de Santino, Izabel Bandeira. Com a morte do fundador, a viúva o colocou nos negócios, em forma de sociedade. E, ainda em vida, anos depois, ela lhe doou a loja.

Atualmente, quem o auxilia no comércio é sua esposa e sócia Vilma Pereira. Além disso, sua primogênita, Sandra, formada em administração, é considerada por ele como o braço direito na loja: “Ela está bem preparada para assumir as funções quando eu faltar”, pontua, em tom de conformidade.

DESENVOLVIMENTO URBANO

Santino relembra que a cidade de Marabá se resumia à Velha Marabá até o início da década de 1970, com concentração do comércio na Avenida Marechal Deodoro, hoje Orla do Rio Tocantins. “Três coisas foram fundamentais para o desenvolvimento de Marabá: a passagem da cidade à Área de Segurança Nacional e a consequente expansão da Nova Marabá. Depois, veio a Serra Pelada, que divulgou nossa cidade nacional e internacionalmente”, recorda.

RELAÇÃO COM O JORNAL

“O Jornal Tocantins foi fundado com muita luta e eu o acompanhei desde as primeiras edições. Eu sempre comprei e li as impressões, algo que ocorre até os dias atuais, já que sou assinante. Tenho um apego muito grande”, relata o comerciante.

Para ele, a experiência de esperar o exemplar ser entregue em sua casa é de ansiedade, já que durante três vezes na semana ele chega às suas mãos. “O jornal traz as melhores e mais importantes informações”. Eu folheio e leio enquanto tomo café”, revela.

O comerciante experiente traduz a importância do Jornal Correio e Correio de Carajás dizendo que a imprensa é um braço na evolução de qualquer país, estado e cidade. Assevera a necessidade de uma mídia sadia, estável para o desenvolvimento local, algo que, tranquilamente, caracteriza o jornal.

O advogado paulista, Sérgio Ribeiro Correia, chegou à Marabá em 1974. Não suportando mais a grande metrópole – mesmo na década de 70 – decidiu que moraria em uma cidade do interior e, Marabá naquele momento, ocupava um papel de destaque a nível nacional nas páginas de jornais importantes do Sul e Sudeste do País.

“Vim, gostei, tomei açaí, passei pelo Rio Tocantins e não voltei”, diz sorrindo.

Sérgio conta que naquela época Marabá era uma cidade provinciana, com apenas 28 mil habitantes e com famílias tradicionais que possuíam castanhais, seringais e garimpos de diamantes.

Mesmo com a fazenda, o advogado continuou atuando no meio jurídico, que naquela época eram poucos na cidade. Ele assegura que em Marabá havia aproximadamente seis advogados, sendo que alguns nem militavam mais.

“Começamos uma batalha pela melhoria do judiciário. Precisávamos de uma celeridade processual. Antigamente, se atendia nos cartórios, não tinha Fórum. A gente batia na porta dos cartórios e nem sempre eles podiam nos atender, pois estavam debruçados em escrituras, procurações e protestos. Foi aí que começamos a trilhar para conseguir a Subseção da Ordem dos Advogados em Marabá, e conseguimos. Instalamos a sede da OAB aqui em 1984”, conta Dr. Sérgio, ressaltando que teve o prazer e privilégio de ser o primeiro presidente da instituição.

“O acontecimento do Jornal Correio foi um grande feito. Foi uma inovação que deu uma guarida para a sociedade de Marabá. Começamos a ver a cidade nas suas páginas. Quando o jornal surgiu, Marabá já tinha passado pela metamorfose da Serra Pelada, tinha outro número de habitantes e era uma cidade pujante. Pra nós, foi uma trincheira social grande, valiosa. Tínhamos a quem recorrer, tínhamos coisas a divulgar, reclamações populares”, enumera.

Questionado sobre a lembrança de uma reportagem marcante que foi divulgada no jornal impresso nesses últimos 40 anos, o advogado relembra o caso da suspensão do voo da extinta companhia aérea Varig na cidade.

“Colocamos todos os clubes de serviço, como Lions, Maçonaria, Rotary, para fazer uma única coisa, pedir para que a Varig não suspendesse o voo, porque estaríamos no meio da selva amazônica sem comunicação. O Correio foi um baluarte. Felizmente pudemos contar com esse instrumento”.

Mesmo com a modernidade na palma das mãos, Sérgio continua sendo assinante do jornal impresso, o qual recebe três vezes por semana em casa.

“Eu já uso a tecnologia. Mas, gosto de folhear, olhar todos os detalhes, as entrelinhas, e sempre tenho um bom proveito em ler o Jornal Correio”, finaliza. (Ana Mangas)

Desde sua fundação, em 15 de janeiro de 1983, o Jornal Correio do Tocantins se comprometeu a oferecer a seus leitores assuntos políticos, policiais, de cidade e, claro, de esporte. E, desde 22 de janeiro de 1982, o Águia Esporte Clube foi pauta para os leitores que também se interessavam pelos campeonatos amadores de futebol.

Após 46 anos, o jornal noticiou com maestria a profissionalização do Águia que, então, passou a ser chamado de Águia de Marabá Futebol Clube. Para contextualizar esses 23 anos de qualificação, o Correio entrevistou Sebastião Ferreira Neto, conhecido Ferreirinha, presidente do time desde 2001.

O primeiro presidente do Águia foi o desportista Emivaldo Milhomem, que contou com o apoio de Valtemir Pereira Lima, o Bezourão, para fundar a agremiação criada para disputar o Campeonato Marabaense da Segunda Divisão daquele ano. O time era composto por jogadores amadores, os mais destacados: Deca, Gamito e Keneddy.

A equipe ganhou o título da Segunda Divisão em 1984, cuja conquista deu o direito de disputar o Campeonato Marabaense da Primeira Divisão no ano seguinte. Nesta etapa de sua história o time teve como presidente José Atlas Pinheiro. Neste período, a equipe conquistou três títulos municipais nos anos de 1989, 1992 e 1993, além de quatro vices campeonatos em 1988, 1994, 1996 e 1998.

No último título de vice-campeão, Ferreirinha lembra que atuava como vereador da cidade e o presidente da Federação Paraense de Futebol, Coronel Antônio Carlos Nunes, veio a Marabá e fez uma reunião com os desportistas com a intenção de oferecer uma vaga no Campeonato Marabaense para que fosse profissionalizada uma equipe futebolística de Marabá. Diante disso, eles foram em busca de recursos e outras agremiações para que pudesse se tornar profissional.

No entanto, equipes tradicionais do município como a Sociedade Esportiva Amapaense, Clube Atlético Marabá, ACROB e o Bangu não aceitaram a proposta e foi aí que o Águia teve a oportunidade de brilhar. “A diretora do Águia, então, ofereceu o estatuto e toda sua documentação para que a equipe fosse qualificada à altura. Esse foi o divisor de águas para que o Águia Futebol Clube se transformasse em Águia de Marabá Futebol Clube”, relembra Ferreirinha.

Questionado sobre a atuação do Jornal, principalmente com relação ao que tange ao esporte, o atual presidente do Águia recorda que desde que teve conhecimento da existência do Correio do Tocantins se tornou leitor e admirador assíduo. Aproveitou, inclusive, a entrevista para parabenizar o fundador Mascarenhas Carvalho pelo ato de extrema competência que, segundo Ferreirinha, sempre agiu com muita imparcialidade.

Nascido no mesmo ano da fundação do Jornal Correio, Giorgie Guido da Luz é um dos três filhos de Mascarenhas Carvalho, e assim como os outros dois, cresceu dentro da redação entre jornalistas, editores, redatores e diagramadores.

Prestes a – também – completar 40 anos de idade, Giorgie relembra que acompanhou e ajudou no processo de transição do jornal para o meio digital. “Tive a possibilidade de ver as duas fases do jornal, onde os processos eram manuais e depois digitais. Lembro que o jornal era escrito a caneta e papel, depois na máquina de datilografar. Depois passamos para a informatização com a entrada dos computadores, maquinário digital e câmeras digitais”, destaca.

Desde pequeno até a juventude, Giorgie era visto com frequência na redação. Circulava entre os redatores, na entrega dos jornais, na encadernação, digitação, revisão e até no setor administrativo. Nos horários em que não estava na escola, recorda que preferia ir para a sede do jornal ou se divertir com amigos de sua idade.

“Atuamos em várias frentes, sempre acompanhando meu pai e envolvidos direta ou indiretamente. Eu gostava de observar os diagramadores fazendo o trabalho, na época usando o Corel Draw e Page Maker. Tive essa possibilidade de acompanhar e com isso acabei aprendendo. Às vezes tinha dúvidas, perguntava, pedia pra eles fazerem de novo.

Nunca fiz curso desses programas, mas sei manusear graças a esse período do jornal”.

E foi por conta dessa convivência e aprendizado que Giorgie decidiu cursar Comunicação Social, optando pela Publicidade e Propaganda.

Ele afirma que o jornal foi uma escola, desde o relacionamento com as pessoas, passando pela escrita e programas de edição, até entender como um meio de comunicação pode ser tão relevante para uma sociedade.

O cabeleireiro João Paulo de Almeida Cruz, hoje com 42 anos, começou a trabalhar no início da adolescência, aos 13 anos de idade, quando o dono do salão São Luís deu a oportunidade para o menino iniciar uma atividade profissional.

E é nessa mesma profissão que João Paulo continua trabalhando, atendendo um público masculino fiel que frequenta o local para conversar, fofocar e, claro, cortar o cabelo.

Nesses últimos 30 anos em que João começou a trabalhar – e a acompanhar o Jornal Correio que era entregue no salão – ele passou a observar as transformações sociais, econômicas e geográficas de Marabá através das notícias.

“O jornal impresso era a maior fonte de informação que a gente tinha. Naquela época não havia celular, redes sociais, então, a gente ficava esperando o jornal chegar para que pudesse nos munir de informações. Quando a gente abria o salão já iam logo aparecendo pessoas perguntando ‘o jornal está aí?’ ou ‘preciso dar uma olhada no jornal”, relembra.

João Paulo conta que mesmo com o passar dos anos e com as notícias na palma da mão, no salão – que possui grande parte do público do sexo masculino – o jornal é um hábito.

Segundo ele, tem cliente que vai ao local de manhã pra olhar o jornal impresso. “Nem vem pra cortar o cabelo, porque o cabelo já está cortado. Tem gente que gosta do jornal. As notícias já saíram em outros meios, mas gostam de ver o jornal, fazer comentários sobre determinada notícia”, confirma.

O cabeleireiro relata que dificilmente quem chega ao local para cortar o cabelo não pega o jornal impresso pra ler. Assim, como os clientes, João admite que também lê o exemplar assim que o recebe.

“Eu assisto telejornais, acompanho as redes sociais. Mas, de manhã, terça, quinta e sábado e pego o jornal pra ler, porque quando os clientes chegam, pegam o jornal e começam a comentar alguma coisa eu já estou a par do assunto e posso debater. E assim é o nosso dia a dia, vão lendo o jornal, vão comentando e vamos criando situações para debater o assunto. O jornal é um ponto de partida das conversas”.

Um dos clientes e leitores cativos do CORREIO é o fundador Mascarenhas Carvalho. “Ele é cliente desde 1986 do salão e todas às vezes que chega aqui, pega o jornal para ler”, finaliza João Paulo. (Ana Mangas)

No dia 30 de abril, 2009, Ulisses Pompeu publicou a matéria “Da Curva do ‘S’ ao Cabelo Seco: artista do País de Galês que elaborou o monumento de Eldorado fará o mesmo no bairro Cabelo Seco”.

Assim, o Correio noticiou o novo projeto Rios de Encontro, financiado pela Funarte do Ministério da Cultura. Mas naquela entrevista, nenhum de nós imaginou o projeto de cinco meses durando 12 anos, transformando o bairro mais ‘perigoso’ de ‘Marabála’ em uma vila eco-cultural.

Ninguém poderia ter imaginado a pracinha de Cabelo Seco virando um palco de residências artísticas internacionais, cinema e biblioteca na rua, espetáculos afro-contemporâneos, bicicletadas, festivais de pipa e beleza amazônica, tudo divulgado por uma bici-rádio solar circulando com mudas de plantas medicinais num bairro com poesia publicada nas suas paredes!

Quem poderia ter imaginado a banda cultural de crianças, as Latinhas de Quintal, se tornando o Coletivo AfroRaiz, artistas-oficineiros jovem-adultos, defendendo a Amazônia e advogando um futuro ecológico, em cada continente do mundo?

A partir de umas 150 matérias, o escritor e professor Ulisses garantia que cada passo dessa evolução de Cabelo Seco em uma Universidade Comunitária dos Rios foi documentado.

Precisava de uma sensibilidade ética e pedagógica para valorizar tanto os resultados, quanto os aprendizados do projeto durante nossos primeiros 12 anos de convivência com a cultura, educação e saúde ribeirinhas da comunidade.

Quando os jovens artistas optaram em usar as novas palavras Ecocídio, Bem Viver e Eco-pedagogia em entrevistas, Ulisses as colocou nas manchetes de suas matérias. Assim, o Correio ajudou a popularizar conceitos desconhecidos, mas essenciais. “O Ulisses é muito mais que jornalista”, reflete Manoela Souza, cofundadora do Rios de Encontro. “Ele é um gestor, historiador e comunicador do projeto”.

No 1º Fórum Bem Viver realizado em Cabelo Seco em 2017, o Ulisses destacou a relação entre a autoconfiança das jovens lideranças no projeto e o declínio de gravidez precoce, ausência escolar e traficantes no bairro. Por isso, cuidou de citar as reflexões da coordenação juvenil do projeto nas suas matérias.

Assim, evitou reforçar os retratos estereótipos das lavadeiras, pescadores e jovens do bairro matriz como pobres sofridos e calados. As matérias celebram a humanidade vulnerável, resiliente, criativa e sonhadora da comunidade, como seus jovens aparecem nos seus espetáculos e na poesia publicada nos outdoors, camisetas e calendários do projeto.

Meu envolvimento com o Correio do Tocantins durou 25 anos, de 1990 a 2015. Consistiu basicamente na elaboração de notas sobre ações do movimento sindical de trabalhadores rurais e urbanos da região além de crônicas que eram acolhidas pela editoria do jornal, à época sob a batuta de nosso saudoso Ademir Braz, o Pagão.

 

Havia um ritual que se repetia para o acabamento de cada número, à época semanal mas finalizado em três intensos dias. Lembro que toda segunda feira eu passava um disquete para a editoria com os arquivos de informações que conseguia juntar no final de semana entre os trabalhadores rurais, urbanitários, rodoviários, metalúrgicos, assessores e militantes das organizações não governamentais como o Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (CEPASP), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação das Associações Educacionais (FASE), Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SPDDH), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Movimento de Educação de Base (MEB) e no Centro Agroambiental do Tocantins (CAT). Nem eu tinha a obrigação de escrever nada, nem o jornal de publicar o que eu escrevia, mas havia uma absorção muito grande de tudo o que eu enviava, o que me era muito gratificante. Nas quartas feiras, quando se concluía a etapa marabaense de produção, a boneca era enviada para Belém, em confiança, por algum portador ou pelo condutor do ônibus da Transbrasiliana. Em Belém havia quem recebia o material para lhe dar sequência. Essa operação essencial para o sucesso da publicação era cumprida pelo dono do jornal, Mascarenhas Carvalho, e celebrada no modesto boteco de Sumé e Dona Mariazinha, bem ali na ilharga da Estação Rodoviária. Sorvíamos breves cervejas geladas e degustávamos tiragostos emblemáticos como piaus fritos, tucunarés ou iscas de carne bovina.

Na capital se completaria a impressão que chegava religiosamente na sexta feira para ampla distribuição regional.

Saí de Marabá para um doutorado na França durante seis anos (1993 a 1999), me fixei em Belém, estive um ano nos Estados Unidos (junho de 2008 a maio de 2009) e três meses em Portugal (2015). Durante todo esse tempo, de onde estivesse, encaminhava minhas crônicas e recebia o meu exemplar.

Os 40 anos de jornalismo praticado pelos que fazem parte desse grupo é prova de fidelidade e seriedade. Guardo desse tempo uma memória recheada de muito afeto, amizades e aprendizados! Vida longa ao Correio!

* O autor é engenheiro agrônomo e doutor em Sociologia do Desenvolvimento (EHESS/Paris/França)

“Logo em seguida eu vim porque passei no concurso do INSS, como técnica previdenciária. Fiz outros concursos, pra analista do Tribunal de Justiça e para delegada da Polícia Civil. Com a aprovação em ambos, decidi ficar como delegada. Escolhi a lotação em Marabá, tendo em vista que já tínhamos casa aqui, e minha primeira opção foi para a Delegacia da Mulher de Marabá”, recorda.

Casada e com duas filhas – Sara e Lara – Simone Felinto atuou em diversas delegacias na cidade.

 

Ela relembra que já passou pela Delegacia da Mulher, Homicídios, Diretora da Seccional e superintendente Regional, coordenando dezesseis municípios desta região.

Atualmente, Simone Felinto atua como diretora jurídica da Associação dos Delegados do Estado do Pará.

“A imprensa tem uma grande importância, no sentido de informar a sociedade, assim como trazer a informação até a polícia. Se for verificar, muitos inquéritos policiais foram alimentados com páginas de jornais, do Jornal Correio, inclusive. Então, eu avalio a imprensa com o trabalho de segurança pública, especificamente com a Polícia Civil, uma via de mão dupla. Nós informamos a sociedade através da imprensa, assim como somos alimentados nas nossas investigações. Isso auxilia por demais nas investigações”, reconhece.

Nesses 12 anos em Marabá – todos como delegada – Simone destaca o papel dos profissionais do Correio, que além de qualificados são empenhados para repassar a melhor informação. “Percebi cada vez mais uma melhoria nessa comunicação, de passar para a sociedade uma informação fidedigna e segura. Tanto que o alcance e o número de leitores devem ter aumentado na região. O maior destaque é a qualidade e a responsabilidade dos profissionais, que vão até a delegacia, por exemplo, se informar dos assuntos de polícia”.

A delega finaliza afirmando que mesmo com o aumento das redes sociais, onde as informações são colocadas de qualquer forma a todo momento, os leitores ainda buscam o CORREIO para se certificar se aquela informação procede ou não. (Ulisses Pompeu e Ana Mangas)

Vereadora licenciada e atual presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, Vanda Américo sempre esteve nas páginas do Jornal Correio, seja pelo seu envolvimento com o Carnaval, Maraluar, ou por suas atividades sociais e políticas.

Vanda Américo relembra que nos anos 80, período em que o jornal foi fundado, Marabá tinha um lado poético, mas também havia embates políticos. “A cidade foi se transformando com o passar dos anos, e o jornal acompanhou tudo isso. Ele veio com um compromisso muito bacana para a nossa região. Mascarenhas foi muito corajoso. Deu condições da gente ter espaço aquele jornal, contar a nossa história, a história dessa cidade”, diz, ressaltando que todas as edições do Jornal Correio fazem parte do Arquivo Municipal Manoel Domingues, da Fundação Casa da Cultura de Marabá, pois contam os últimos 40 anos da cidade.

 

Ela lembra que o jornal era aguardado por muitas famílias na cidade, e todo mundo tinha que estar com o jornal na mão dia de sexta-feira, quando ocorria a circulação do impresso. Sem rede social, o jornal movimentava os finais de semana da população, que passava o resto dos dias discutindo sobre quem saiu na capa, coluna social e os burburinhos políticos.

“Era fantástico, maravilhoso. Dá até um saudosismo. Hoje, a notícia, por conta das redes sociais, se perde muito rápido. Perdemos a emoção que sentíamos com o dia que o jornal saía, de folhear, sentir o cheiro, de ver o jornaleiro, o cara da banca saber que tu ainda não foi buscar o jornal. Isso era bacana”, avalia Vanda, com brilho nos olhos.

Falando em boas lembranças e continuando empolgada, a vereadora cita o Maraluar, que tantas e tantas vezes foi notícia de capa do jornal. Ela relembra que a festa, realizada durante 15 anos consecutivos, contou com a parceria de Mascarenhas Carvalho, que divulgava o evento antes e depois.

“Era uma noite fenomenal na Praia do Tucunaré. Fazíamos bailes temáticos, era uma alegria e uma energia muito boa. E o jornal nos dava cada capa belíssima. Isso pra mim é memorável”.

Vanda finaliza dizendo que sente muita saudade da época em que o jornal impresso era aguardado toda sexta-feira. “Saudade de ser assinante do jornal. Todo mundo queria ser assinante do Correio do Tocantins”.

Mesmo nascida em outro estado, Maria Vitória Martins Barros se considera marabaense, já que chegou ao município com apenas cinco anos de idade. Nascida no povoado de Lontra, localizado na cidade de Araguaína, que na época fazia parte do Estado de Goiás, veio ainda criança junto com a família em busca de melhores condições de vida.

Envolvida com a arte desde muito nova, Vitória Barros, como é conhecida em Marabá, viu o Jornal Correio nascer e se desenvolver nesses 40 anos. “O Mascarenhas, pra mim, é um dos caras mais corajosos que tem aqui em Marabá. Porque criar um jornal é muita responsabilidade, principalmente manter esse jornal numa linha de credibilidade. Às vezes, a imprensa é utilizada como ferramenta de poder de uma forma muito escandalosa”, fala.

Vitória ressalta que a cultura marabaense só conseguiu alcançar voos maiores e ser vista e reconhecida pelo papel importante da imprensa na divulgação.

 

“O Correio do Tocantins foi fundamental para mostrar os movimentos artísticos, as notícias, o que estava acontecendo. E a gente dava graças a Deus, pelo menos eu, que tinha esse jornal na cidade. Pra mim, é uma memória muito sadia relembrar o início desse jornal que sempre foi muito generoso com os artistas e com a cultura. Os registros estão aí”.

A artista plástica relembra a coluna Pirucaba, que foi de suma importância para a divulgação dos projetos dos artistas que surgiam e também dos que já estavam consolidados. “Era sensacional. A gente sempre corria pra ver que notícia tinha lá”, sorri.

Ela também ressalta a relevância que o Jornal e Portal Correio tiveram na história da Galeria Vitória Barros e Instituto Vitória Barros, que levam seu nome. “As exposições e projetos que desenvolvemos ao longo desse tempo também estão estampados no Correio. Isso mostra que a cultura e a Imprensa estão sempre juntas”.

Para Vitória Barros, esses 40 anos de história e registros de Marabá e região nas páginas do jornal devem florescer ainda mais. E o trabalho que iniciou com Mascarenhas Carvalho deve se manter. “O atual dono está dando continuidade e esse projeto não deve acabar”, finaliza. (Ana Mangas e Ulisses Pompeu)

Inicialmente, agradeço pelo convite do jornalista Ulisses Pompeu para fazer parte deste momento histórico em que o Jornal Correio de Carajás completa 40 anos de circulação ininterrupta. A história deste importante veículo de comunicação se confunde com meus 37 anos de jornalismo prestados na região.

Prestei serviços no Correio em três períodos: de 1985 a 1993 (oito anos); de 1994 a 1998 (cinco anos); e de 2010 a 2012 (dois anos), num total de 15 anos, sendo que de 1985 a 1993 em Belém, acompanhando sua produção gráfica e encaminhando para Marabá o jornal impresso; de 1994 a 1998 em Marabá; e de 2010 a 2012, na chefia da sucursal em Parauapebas.

Mas é no período de 1985 a 1993 que vou descrever as dificuldades encontradas para levar o jornal impresso para seus exigentes leitores da época. E aqui não poderia deixar de destacar um profissional que “dava sua vida” para levar a informação apurada a seus leitores: meu eterno professor Mascarenhas Carvalho, fundador do então Jornal Correio do Tocantins.

Pois bem… Naquele período, o jornal era impresso em Belém. Como não tínhamos a tecnologia de hoje, as dificuldades eram enormes para levar o jornal às bancas de revista e a seus assinantes. Funcionava assim: Mascarenhas e sua equipe produziam as matérias e estas eram datilografadas em laudas próprias.

Mascarenhas pegava as laudas datilografadas, juntava as fotos de cada matéria, enumerava as páginas, colocava tudo dentro de um envelope e corria para o aeroporto de Marabá em busca de algum passageiro conhecido para enviar o pacote e eu receber no aeroporto de Belém.

Quando eu tinha a informação de que a aeronave já havia partido para Belém, eu procurava um telefone público (orelhão), ligava para Mascarenhas e ele me passava nome e as características físicas do passageiro que estava levando o envelope. No aeroporto, eu ficava atento ao desembarque dos passageiros, para receber o envelope. Quando coincidia de o passageiro não conduzir em mãos o envelope, desembarcar juntamente com outros voos e não identificá-lo, eu tinha que ir até o endereço do mesmo em busca do envelope.

Material em mãos, eu corria para a gráfica e coordenava a digitação dos textos, revisão, diagramação e impressão do jornal. Na madrugada, eu saía de casa, pegava os pacotes de jornais e me dirigia para despachá-los no aeroporto de Belém para Marabá. Eventualmente, o voo era cancelado ou a gráfica não produzia o jornal a tempo, e aí o Mascarenhas ficava em desespero.

Aprendi muito com o mestre Mascarenhas Carvalho. Aliás, quase todos os confrades que passaram pela redação do então Correio do Tocantins eram unânimes em afirmar que trabalhar ali era “aprender numa faculdade”. Muitos de nós, sem o mestre saber, claro, o apelidávamos de “coronel do quartel”, pois ele exigia qualidade, responsabilidade e imparcialidade nos textos produzidos.

Aproveito para parabenizar os diretores, editores e demais profissionais do Jornal Correio de Carajás por estas quatro décadas de existência, levando a informação para seus leitores e anunciantes.

A coragem de ousar sempre foi a grande marca do jornalista Mascarenhas Carvalho, quando ele, no começo de 1983, lançou o Correio do Tocantins.

Fiquei impressionado ao conhecer Mascarenhas em Belém e sua determinação em emplacar o jornal em Marabá e distribuí-lo por outros municípios do sudeste paraense.

Só podia ser louco um sujeito com um projeto de jornal daquele diante de tantas dificuldades logísticas, todo diagramado, paginado e impresso na capital.

Ele perguntou se eu topava editar o jornal, desafiando-me a abraçar a ideia. Mascarenhas mexeu surpreendentemente com meus brios e eu topei na hora.

Os textos vinham todos escritos de Marabá, por meio de repórteres, colaboradores e articulistas. Não havia computador, era tudo na máquina de escrever.

Então, eu tinha de ler tudo, corrigir o que precisasse ser corrigido e, no final, ainda fazer outra revisão depois de o jornal ter sido editado, antes de rodar na gráfica.

Ver o jornal impresso era uma enorme alegria, a recompensa maior pelo trabalho, sob o incentivo constante do Mascarenhas. Nos primeiros meses, a distribuição do jornal sofreU problemas, contornados com galhardia.

Três fatos reputo como importantes, nos anos 80, para que o Correio do Tocantins consolidasse sua credibilidade e ampla aceitação entre os leitores: primeiro, a cobertura sobre a extração de ouro em Serra Pelada, mostrando a riqueza de poucos “bamburrados”, além do fracasso colossal da ampla maioria de garimpeiros “blefados”, que encontraram miséria, trabalho exaustivo e mortes pelo caminho.

Segundo, o Programa Nacional de Reforma Agrária, em 1985, do governo Sarney, que abriu a porteira da reação violenta de fazendeiros contra a invasão de suas terras. Confrontos armados e matanças pontificaram no noticiário. Mascarenhas soube administrar as pressões e nunca abriu mão de publicar o que tinha de ser publicado.

Terceiro, o começo da extração mineral de ferro em Marabá e na região de Carajás, pela então estatal Companhia Vale do Rio Doce. O jornal entendeu, com razão, que a exploração abriria as portas de uma nova era econômica para todo o sudeste.

Mascarenhas, por tudo que fez, é merecedor das homenagens a ele prestadas nesses 40 anos do jornal.

Ele é o cara. 

Jornalista profissional e primeiro editor do Correio do Tocantins

Em 15 de janeiro do ano 1983, quando foi fundado o Correio do Tocantins, eu era bancário e trabalhava na agência local do Banco Real, no cargo de procurador da instituição financeira. Como leitor assíduo de jornais, livros, revistas, enfim, passei a ler o Correio desde seu primeiro número.

Passados uns três meses de sua fundação, lá para o fim de março, seu diretor-presidente, Mascarenhas Carvalho da Luz, esteve na agência tratando de seus expedientes bancários, quando ousei lhe chamar a um canto a sós e começamos um rápido diálogo:

– Mascarenhas, seu jornal está muito bom, mas no meu ponto de vista está faltando algo que certamente vai atrair ainda muito mais leitores.

– O que está faltando? Perguntou ele.

– Uma página de esportes.

Vale ressaltar que, naquela época, o estádio Zinho Oliveira era movimentado nas noites de quartas-feiras, com jogos do campeonato marabaense. Destacavam-se os times do Clube Atlético Marabá, Bangu, Grêmio, Acrob, Morada Nova e Sociedade Amapaense.

Como nesse ano fundei a Associação dos Bancários de Marabá, trabalhei no sentido de formar um time de futebol formado por colegas bancários e colocá-lo na primeira divisão, o que de fato consegui. Devo lembrar que o time virou saco de pancadas durante todo campeonato. Bancário não tinha tempo para treinar. Era só trabalho.

Mas voltando à minha conversa com Mascarenhas Carvalho. Quando sugeri a ele uma página de esportes, disse-me que ainda não podia acrescentá-la. Indaguei por que, ele me respondeu que não tinha quem escrevesse como colaborador do jornal. Disse-lhe de imediato: agora você encontrou.

Mascarenhas me convidou para alongarmos essa conversa em seu escritório na redação, quando então lhe falei que tinha um pouco da minha experiência em escrever, pois eventualmente escrevia notícias de cultura concernentes às ações e peças teatrais apresentadas pelo Príncipe Teatro de Imperatriz – PRITEI, grupo teatral que eu integrava.

Argumentei que escrever esportes seria algo novo para mim, mas que pelo meu conhecimento de futebol, certamente realizaria um bom trabalho. Ele então me confiou a tarefa de cobrir os jogos do final de semana e já abordando os próximos da rodada do campeonato.

Arrastei em pleno domingo, à tarde, para o estádio Zinho Oliveira, o repórter-fotográfico do jornal, Cleones Carneiro Costa, o Cléo, que era um craque na cobertura de todas as editorias, como polícia, política, cidade, etc., mas não gostava de futebol. Mesmo assim ele foi e fez as fotos que eu precisava para complementar os textos.

No dia combinado fui para a redação e entreguei meu trabalho que teve sua imediata aprovação. Na próxima sexta-feira, quando o jornal circulou com sua página de esporte, me deliciava em ver as pessoas, principalmente os desportistas sentados nos bancos da Avenida Antonio Maia lendo o jornal, sobretudo a minha página.

Na próxima semana logo inovei: além das matérias dos jogos das rodadas das quartas-feiras e domingo, acrescentei uma coluna denominada “Bola Murcha”, que criticava, de maneira cômica, a atuação do pior jogador, naquela rodada. Apontava de maneira crítica, mas alegre as falhas do jogador. Daí então, virou febre entre os leitores.

Nesta época não estava mais aguentando trabalhar em banco. Andava com os nervos à flor da pele e só ia ter paz e alegria quando estava no Zinho fazendo minhas matérias, as quais logo foram para o primeiro telejornal de Marabá, o Marabá Notícia, da TV Tocantins, sob e liderança de Paulo Monção, dono e técnico da emissora.

Só não havia deixado o banco por falta de uma oportunidade e também porque minha filha Léia nasceu antes que o jornal completasse um mês de fundado. Meses depois, o jornal, em pleno funcionamento, Mascarenhas tinha dificuldades para manter redatores e editores, jornalistas oriundos de Belém.

Até que um dia cheguei à redação do jornal, que era situada à Rua Bartolomeu Igreja, Centro, decidido. Fui à sala de Mascarenhas e lhe perguntei se ele me confiaria a editoria de Polícia. Ele me respondeu que, para isso, eu teria que deixar o banco e me enfiar na redação do jornal para poder dar conta do recado.

Disse-lhe que estava disposto a me demitir do banco caso ele me confiasse. Mascarenhas perguntou se eu estava louco. Argumentou que jamais poderia pagar um salário que chegasse aos menos a uns dez por cento do meu salário no banco. Propus que ficava ganhando um salário mínimo, no que ele garantiu me pagar.

E assim convivi por longos 11 anos no Correio do Tocantins, com excelentes jornalistas como o próprio Mascarenhas Carvalho, Antonio Carlos Guimarães, Seu Ivo, Hilmar Harry Kluck, meu saudoso amigo e confrade Ademir Braz (Pagão), os cartunistas Rildo Brasil e Paulo César, os fotógrafos Miguel Pereira e Evangelista Rocha, entre outros.

Quem me trouxe a Marabá, há 23 anos e meio, foi o Correio. Sim, o Correio do Tocantins, na época, de propriedade do Jornalista – assim mesmo, com jota maiúsculo – Mascarenhas Carvalho. Vim de Belém, onde nasci, me criei e me fiz jornalista, mas não andava satisfeito com algumas coisas. Uma manhã, ao passar pelo Sindicato dos Jornalistas, para tomar um cafezinho e conversar com a turma, a presidente me disse que o Mascarenhas estava precisando de um editor. Topei a parada e, em 22 de maio de 1999, dia de Santa Rita de Cássia, padroeira dos impossíveis, às 6h da “madrugada”, um sábado, estava batendo na porta, acordando o Mascarenhas.

De lá até o final de 2005, foi um novo aprendizado. O modo de fazer jornal fora da capital, no interior da Amazônia. Na época, o Correio do Tocantins pautava a TV e o rádio. Editores e repórteres desses veículos, logo cedo, estavam com o jornal nas mãos e, baseados no que saía, iam a campo repercutir as notícias do impresso. De 2006 a 2009 fui para o concorrente, o extinto Opinião. Mas em 2010 voltei ao CT, onde estive até 2014.

Se tiver espaço, quero aqui homenagear a superequipe, a melhor do sul e sudeste do Pará, que encontrei quando cheguei: Além do Mascarenhas, proprietário, superintendente e editor-geral do CT, aqui estavam o Chagas Filho, o Ulisses Pompeu, o João Batista, a Tina Santos, o Val-André, a Jô, a Lucineide Farias, o Magno Nunes, o Marco Antônio, o Evangelista Rocha, o Werlen, o Luís, o saudoso Ademir Braz e Byra Ramos. Com todos, aprendi muita coisa!

Por ser médico, em minha profissão tenho de estudar constantemente, e escrevo por hobby. Me chamo Nagilson Amoury, marabaense, filho da dona Aparecida e do seu Rodolfo Amoury, nascido no antigo SESP (hoje Materno Infantil). Estudei no SESI e no Colégio Santa Teresinha. No terceiro grau formei em administração de empresas na UNAMA e em Medicina pela UEPA.

Especializei-me em São Paulo, onde fiz cirurgia do trauma no HC, cirurgia geral no Jaraguá, e endoscopia digestiva no Sírio Libanês. Após os seis anos de São Paulo retornei à minha cidade natal, Marabá, para desenvolver minhas atividades profissionais e ficar mais próximo da família.

Aqui chegando, convivi muito próximo do jornalista Mascarenhas Carvalho da Luz, do antigo Correio do Tocantins, uma pessoa que sempre admirei e que muito me orgulha em compartilhar ainda hoje dos seus conhecimentos, do seu dom jornalístico nato, do seu ponto de vista sempre a frente do seu tempo. Meu padrinho e amigo, o seu Masca, sempre me acompanhou de perto desde o meu crescimento e desenvolvimento até a minha formação profissional.

Lembro-me perfeitamente o dia que ele me fez o convite para eu ter uma coluna semanal cativa no Jornal Correio, abordando temas de saúde, o que iria sobremaneira contribuir para esclarecer aos leitores sobre assuntos médicos, visto que havia uma lacuna entre o médico e as pessoas, principalmente da classe menos favorecida.

Depois de algumas abordagens do seu Masca fiz a primeira coluna (edição 1.085) com o nome “Medicina para o Leigo” e foi um sucesso absoluto. Com o tempo modifiquei o nome da coluna para “a máquina humana” e continuei escrevendo semanalmente até os dias de hoje de forma ininterrupta para “o Correio”. 

Os temas abordados ao longo dos anos têm sido os mais variados, numa linguagem mais simples, sempre no espectro da saúde. Tipo direitos do paciente, hábitos de vida, saúde do trabalhador, intoxicação por mercúrio, poluição sonora, temas de minha especialidade e de outras especialidades, inovações e tecnologias médicas, entre outros. Inclusive descrevendo partes de citações médicas importantes e seus respectivos autores.

Quando perguntaram a Dalai Lama o que mais lhe surpreendia na humanidade, ele respondeu: “Os homens, porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente e nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido”.    

   

   

Os jornais surgidos em Marabá, desde A Safra, passando pela Revista Itatocan, O Marabá, O Democrata, Jornal de Vanguarda, Folha do Pará, Opinião e outros que não recordo, sempre foram fruto do idealismo e arrojo de seus fundadores.

De todos, o maior exemplo é o Correio do Tocantins, hoje Jornal Correio, o mais longevo deles, surgido do espírito empreendedor de Mascarenhas Carvalho da Luz em 15 de Janeiro de 1983, que por oito lustros vem se constituindo em um luzeiro a espargir as luzes da cultura e do bom noticiário sobre o Sudeste e Sul do Pará.

Creio que não há ninguém nestas regiões que não tenha lido ou pelo menos ouvido falar neste importante veículo de comunicação e em muitas bancas de revistas de Belém podia ser encontrado para gáudio dos marabaenses saudosos de sua terra.

Com o avanço da tecnologia e expansão das redes sociais foi dos primeiros, à frente até de jornais das capitais, a partir para a divulgação on-line. Tudo se constituindo em motivo de orgulho para nós. Parabéns a Mascarenhas da Luz, a seu filho o Jornalista Patrick Roberto e a todos os que fazem este magnífico jornal, atalaia da verdade ao longo destes 40 anos enquadrando-se, com absoluta justeza, ao lapidar conceito de imprensa que nos legou o fulgor da inteligência de Rui Barbosa:

“A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que ameaça”

Muito obrigado a todos por nos darem o Jornal Correio!

Ex-deputado estadual e advogado

Se qualquer pessoa perguntasse à Ana criança, de sete ou oito anos de idade mais ou menos, o que ela queria ser quando crescesse, certamente ouviria “quero ser jornalista e apresentar o Jornal Nacional”.

Bom, não cheguei a apresentar o jornal televisivo mais assistido do Brasil, mas apresentei por alguns dias o Correio Notícias, jornal local de Marabá que passa no horário da noite no SBT.

Comunicativa, expressiva, sensível e cheia de sonhos, comecei a faculdade de jornalismo e parei. Continuei na comunicação social, só que para o lado do marketing. Mas, a tal das palavras, do contar histórias e conhecer pessoas sempre falou mais alto.

Escrever sempre foi a maneira mais bonita e sincera de expressar o modo como enxergo o mundo e as pessoas. Porém, mais do que acreditar no poder das palavras, acredito que elas precisam estar carregadas de verdade, embasadas no concreto e no verídico, principalmente no jornalismo, onde temos a obrigação de passar confiança e credibilidade aos nossos leitores.

Lembro da primeira reportagem escrita por mim estampada no jornal impresso. Foi tão bom ver o “Ana Mangas” assinado. Corri pra levar para os meus pais a edição do Correio.

Essa é a minha segunda passagem por aqui. E assim como na primeira vez, que bati na porta pedindo emprego, na segunda vez bati pedindo pra voltar. Sentia falta (da falta) de rotina de uma redação, da correria pela matéria exclusiva, das polêmicas e embates políticos. Até das matérias de polícia eu sentia falta.

E pra minha grata (e feliz) surpresa, quando retornei conheci o tal do Ulisses Pompeu, famoso pelas suas crônicas e polêmicas jornalísticas.

Todo dia o Ulisses nos ensina algo. E digo no plural, porque sei que minhas colegas também aprendem tanto quanto eu. Ele é o mestre.

Saber que posso contar com ele pra revisar minhas reportagens, embarcar nas minhas ideias e até topar fazer vídeo de dancinha pro Instagram, me fazem acreditar que o jornalismo é uma troca diária. Que não tem regra. Mas ele é a exceção.

Nesse meu retorno ao jornalismo, agradeço a parceria, compreensão, ensinamentos e confiança. Sou sua fã e é uma honra escrever minhas reportagens pra você revisar.

Me apaixonei novamente pelo jornalismo, como quando aquela menina sonhadora dos sete anos de idade. Só que dessa vez não almejo o Jornal Nacional. Quero mais entrevistas, mais reportagens polêmicas, mais pesquisas, mais documentários, mais recordações e mais histórias assinadas pela Ana Mangas.

Sabe aquele sonho de criança? de ser astronauta, mágico, jogador de futebol? Nunca tive.

Eu nunca quis ser nada!

Desde a infância até o início da vida adulta as coisas simplesmente foram acontecendo na minha vida, até o dia em que eu entrei no jornal pra fazer um teste, levado pelo meu amigo Ulisses Pompeu. Era outubro de 1997. No ano seguinte, participei da edição dos 15 anos do jornal e agora dos 40.

Os tempos mudaram, o jornalismo mudou, eu mudei. Se hoje, sou um profissional com quase três décadas de rodagem, devo àquele primeiro dia em que eu demorei três horas pra escrever três parágrafos, muito mal escritos por sinal.

É claro que eu me esforcei bastante, mas devo muito às broncas de Mascarenhas Carvalho da Luz, o primeiro dono, que foi um professor para mim, embora sua pedagogia fosse um pouco heterodoxa. Admito que o tratamento nem sempre gentil, mas sempre honesto, me ajudou a encarar os desafios da profissão com mais sangue nos olhos; aprendi a fazer as perguntas que precisam ser feitas; aprendi a não me sentir obrigado a agradar as pessoas. Aprendi.

Acabei “virando” jornalista e isso não é só uma profissão, é um estilo de vida. Eu fiquei empacotado dentro das páginas do jornal e estou até hoje, preso por vontade. E quando eu me aposentar, eu não vou me aposentar.

As histórias dos meus 25 anos de profissão estão diretamente ligadas aos 40 anos do CORREIO. E são muitas histórias, Viu! Mas a que mais me marca nem é um acontecimento jornalístico. O que eu jamais me esquecerei, nesses anos todos, é do olhar compenetrado do meu pai dissecando todas as páginas do jornal, na porta do seu pequeno comércio, para depois conversar comigo sobre as matérias que eu mesmo tinha escrito. Era uma forma de me dizer que acompanhava meu trabalho. Era uma forma de me prestar contas.

Não satisfeito, ele ficava sentado num banquinho quase no meio da rua, nas manhãs de domingo, com um jornal na mão, e chamava os amigos que passavam em direção à feira, só pra mostrar meu nome assinado no final das matérias. Dizia com orgulho: “Tá vendo esse nome aqui ‘Chagas Filho’? É o Chaguinha”.

Lembro de passar em frente ao prédio do Correio na Folha 32 e pensar que gostaria de trabalhar ali.

Enquanto eu crescia, os livros, filmes e séries que devorava me faziam desejar ardentemente ser redatora. Aos treze anos, quando me perguntaram o que eu gostaria de ser quando crescesse, eu respondi que queria ser escritora.

Aos 20 prestei vestibular para letras, porque queria aprender a escrever melhor. Com 24 anos publiquei meu primeiro livro, mas ainda não era suficiente.

Aos 26 vim trabalhar no Grupo Correio e jamais imaginei que um dia sentaria em uma das bancadas da redação e trabalharia fazendo uma das coisas que mais amo na vida: escrever.

 

Depois de quatro anos no grupo, a vaga de repórter me chamou a atenção e eu me encaixava nas exigências. Queria muito tentar, mas tinha medo. Tive muito receio de não conseguir, de não ser suficiente, de fracassar.

 

Eu sou, desde o nascimento, uma criatura tímida e calada, características que em um primeiro momento não combinam com o jornalismo e que me fizeram duvidar se realmente estava fazendo a escolha certa. Até que criei coragem e arrisquei, mandei mensagem para nosso editor chefe, Ulisses Pompeu, me candidatando à vaga (incentivada pela brilhante Luciana Marschall).

Meus primeiros dias na redação foram uma aventura. Enquanto engatinhava em uma nova profissão performei um jogo de cintura que nem eu mesma sabia que tinha. Lembro que tremi na base quando fiz minha primeira reportagem, ao lado do Ulisses. Com ele aprendi que o jornalismo se faz nos detalhes.

Com o nosso diretor de redação, Patrick Roberto, eu compreendi que a minha próxima matéria pode ser muito melhor que a anterior, só depende de mim.

Já o meu amigãozão, Evangelista Rocha, foi muito além de fotógrafo e motorista, para mim, ele também é um grande amigo e professor.

Eu poderia citar todos os colegas e amigos que fiz e que foram fontes de aprendizado, mas esse texto atingiria um tamanho absurdo e meu editor seria obrigado a podar minhas palavras. Então, deixo aqui registrado o meu singelo e cheio de amor, obrigada.

Em 2022 eu conheci a Luciana jornalista – de profissão – e me apaixonei por ela. Enfrentei todos os desafios que cruzaram meu caminho; tremi na base com alguns entrevistados; chorei ao contar algumas histórias e ri de me acabar com alguns causos. Um ano pelo qual eu sou imensamente grata e que venham os próximos! (Luciana Araújo)

O Jornal Correio completa neste dia 15 de janeiro o seu aniversário de 40 anos de circulação, como meu pai sempre gostou de destacar: “ininterrupta”. É um dos grandes orgulhos, realmente, mas vejo uma série de outros fatores, já do alto dos meus 20 anos como membro da equipe, como jornalista formado. O maior deles: ter sido o primeiro jornal do interior do Pará efetivamente vendido e comprado em larga escala nas bancas.

É isso que o diferencia em gênero, número e grau de tantas outras publicações que o precederam em Marabá, todas elas igualmente importantes na história e relevantes a seu tempo. Porém, o então Correio do Tocantins preparou seus leitores e os habituou à realidade de um jornal periódico, com colunas, com noticiário voltado ao cotidiano de cidade, política e polícia, entre outros, um cardápio que lhe conferiu sucesso e a doce espera do público pela próxima edição e suas histórias.

Baseado no que era praticado em grandes jornais, fez da sua edição um compromisso com a informação, dialogando com os setores da sociedade, divulgando ações das entidades de classe e alçando as práticas positivas que interferiam no progresso da nossa comunidade.

Hoje consigo ter a exata dimensão do quanto esses detalhes nos trouxeram até aqui. Minha condição hoje de editor-chefe do CORREIO, traz, implícita, a pressão de nos conduzir a fazer frente às expectativas, ao mesmo tempo que criamos as alternativas para o novo tempo.

Fazer jornalismo nos dias de hoje, que nem de longe se compara à Era da máquina de escrever, gravadores que pesavam um quilo, ou a espera pela revelação de fotos, que levava uma semana, não está mais fácil. Temos mais acesso, sim, e muito mais ferramentas, mas os riscos e os perigos são outros, os equívocos repercutem imediatamente, nossos erros, e eles acontecem, têm maiores proporções e nos balizam. Temos de fugir da armadilha das Fake News, nome pomposo para a “notícia plantada”, algo que sempre existiu e que é um doce suculento para os profissionais desavisados ou que fogem à técnica.

Da mesma foram preparar novos profissionais, missão que não é simples, pois envolve a percepção sobre o talento, e a batalha para fazer brotar a dedicação e contínua vontade de fazer melhor, de se aprimorar. Muito mais em um mundo onde saber escrever talvez já não seja a qualidade mais sonhada pela juventude.

Me orgulho do que fazemos, de como fazemos e para onde andamos. Seguimos batalhando!

Editor-chefe do Jornal CORREIO

Não creio que muitos acumulem a experiência de entrar em uma redação de jornal, considerada por mim privilégio já que poucos lugares me deixam mais à vontade que esse espaço caótico, com papéis espalhados e teclados barulhentos, morada de povo argumentativo que não perde a oportunidade de comprar uma briga. Mas ali, onde as coisas acontecem todas simultaneamente e parecemos estar sempre correndo contra o relógio, também estão abrigados momentos cristalizados.


No Jornal Correio estes instantes têm ponto geográfico, situados ao lado esquerdo de quem entra pela porta da sala chefiada pelo diretor de redação Patrick Roberto, armazenados em um balcão contendo 40 anos de Marabá e Carajás. Ao longo de mais de uma década, esse lugar serviu para que eu criasse identificação com a região.


Nasci a 2790 km, trajeto percorrido em 2011 para encontrar o que viria ser o meu lar, onde construiria importantes relações e desenvolveria gostos até então desconhecidos, menos pelo açaí, pelo qual peço desculpas antecipadamente, mas ficarei devendo. Há alguns dias brinquei no Twitter que só saio do Pará no dia em que Helder Barbalho, o governador, em pessoa, me expulsar. Não acho que vá.


Já nos primeiros meses em solo marabaense acabei dentro dessa redação, onde o arquivo sempre teve espaço cativo no meu coração. Frequentemente sentava-me com algum volume em mãos, normalmente em busca de informações antigas que explicassem fatos que eu teria que relatar em reportagens novas. Gastava muito mais tempo que o necessário descobrindo histórias que até então desconhecia de 30 anos passados antes de eu chegar.


O Jornal Correio me ensinou demarcações históricas, apresentou personagens e lendas da cidade, me deixou assistir à construção de sua cultura e fez compreender como algumas coisas são hoje como elas são.


O teórico austríaco Michael Pollak caracteriza a memória relacionando-a com a identidade social, a partir da história oral. Explica que, embora pareça um fenômeno individual, a lembrança é coletiva e, assim, podemos enxergar, ao ponto de sentir ter vivido, momentos relatados em nosso meio social.


Assim, qualquer atenção é capaz de descobrir que o Jornal Correio assinou minha certidão de (re)nascimento quando generosamente dividiu comigo os seus momentos. Lembro de Pollack ao perceber que certamente testemunhei, com esses olhos, as violências sociais, a convulsão de Serra Pelada e as grandes cheias do Rio Tocantins. É como se sempre tivesse estado aqui.

Era 7 de março de 2022 quando eu pisei profissionalmente na redação do Correio. Mal sabia a ingênua Thays o que lhe esperava. De longe, uma das fases mais difíceis que já vivi, mas ainda assim, viveria novamente.

Não porque foi prazeroso, mas porque o sofrimento me moldou como Michelangelo esculpiu Pietá e continua me moldando como o ser humano que levanta e tenta se refazer em sua melhor versão a cada tocar do despertador às 7h de segunda a sexta-feira. Longe de ser uma escultura tão perfeita, mas constantemente no caminho de ser algum tipo de arte.

Para quem nunca tinha pisado em uma empresa e muito menos com tantas pessoas diferentes em seu modo de ser, de falar, agir e até de comer, digamos que lidei até medianamente bem com essas estranhezas.

Considerando estar a 1.500 km da minha terra natal, longe do meu lar e da redoma extremamente confortável e habitual a mim, posso dizer que consegui lidar com algumas xenofobias disfarçadas de piadas, invejas disfarçadas de críticas, mas principalmente com os choques culturais que, não vou negar, me desestabilizaram por um tempo.

A grande questão é que isso não resume apenas ao Correio de Carajás. Isso se resume a vida adulta. Uma recém-conhecida minha.

Eu definiria, em termos contemporâneos, como um encontro com aquele ex que você sabe que uma hora vai acontecer, não está preparada, mas ainda assim precisa lidar porque, como eu disse, vai acontecer. No auge dos meus 23, fazer parte de uma família de estranhos que não possuem a mesma criação, gostos, peculiaridades e costumes foi um baque que, imagino eu, qualquer um na minha pele também teria.

Ulisses é aquele tio inconveniente cômico que te coloca nas situações mais importunas, mas que ainda assim, te faz nutrir um sentimento de afeição descabido. Carol é aquela avó sempre preocupada e afetuosa (embora 200% impaciente) que faz com que seja impossível não ceder à ternura não convencional dessa persona tão grata. Evangelista é o pai que te abraça e faz tudo que tá ao seu alcance para que as coisas caminhem como precisa.

Patrick é uma espécie de padrinho, aquele sempre responsável e encarregado de manter as coisas em ordem, já que ninguém bate muito bem da cabeça. Jefferson é o irmão (literalmente, é evangélico) repleto de empatia. Raira a outra irmã, ímpar, das geladas. E o Chagas, nosso alívio hílare das tardes silenciosas da redação que salva a todos do tédio e da monotonia que às vezes é construída pelo cansaço coletivo.

Agora, o ensejo de ter Marabá como uma mãe adotiva em meio às reportagens, entrevistas, documentários e notícias, me acalentou com um harmonioso seio morno e repleto de novidades e conhecimentos que eu não trocaria por nenhuma outra experiência da minha genitora Goiânia. A verdade é que graças ao Correio, minha função como repórter me propiciou mais do que um mero emprego, me fez ouvinte, me deu o poder de conhecer e contar histórias e conseguir transmitir conhecimento e informação a terceiros da melhor forma possível: o jeito como meus mestres Ulisses e Patrick cada um ao seu modo, me ensinaram.

Estudante de jornalismo e “foca” do Correio

Retrospectiva Edições 40 anos

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Publicado em 15 de janeiro de 2023

Expediente

ENTREVISTAS:

Luciana Araújo

Thays Araújo

Ana Mangas

IMAGENS:

Evangelista Rocha

Jeferson Lima

Ulisses Pompeu

Editores:

Ulisses Pompeu

Patrick Roberto

Edição de vídeo:

Cristofer Bino

Web Designer

Dihon Albert

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