Unifesspa chega aos 10 anos de criação trazendo na bagagem a transformação social que ajudou a formatar no sul e sudeste do Pará. Atualmente, há 45 cursos e quase 10 mil alunos matriculados em 5 campi
Unidade III, em Marabá, é atualmente o coração administrativo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
Em 5 de junho de 2013, nascia a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) com a promulgação da Lei 12.824. Há 10 anos, portanto, a (nossa) universidade vem transformando a vida de milhares de pessoas ofertando ensino, pesquisa e assistência estudantil e extensão, como universidade pública, gratuita e comprometida com a realidade em que está inserida.
Nas últimas semanas, repórteres do Grupo Correio conversaram com professores, alunos da comunidade acadêmica e reitor para entender as transformações ocorridas em uma década e discutir sobre os desafios para os próximos anos.
A intenção era percorrer e conhecer os cinco campi instalados nas cidades de Xinguara, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e Rondon do Pará. Mas só foi possível ir a esse último, onde estão instalados os cursos de Jornalismo, Ciências Contábeis e Administração.
Desde que se desvinculou da UFPA, a Unifesspa não para de crescer, apesar dos efeitos colaterais provocados pela covid-19 em 2020, 2021 e parte de 2022. O número de cursos mais que duplicou em uma década, assim como o de alunos, professores e técnicos.
A promessa de ser uma universidade plural está se cumprindo e se consolidando, dando voz a personalidades que representam vários segmentos e ajudando a discutir o futuro da região em várias áreas, com estudos baseados na ciência.
Sim, há desafios, gigantes, inclusive. Mas agora é tempo de comemorar e refletir sobre o cenário atual e o que podemos fazer, juntos, pelo nosso futuro, pela nossa gente!
Dos mais de 770 servidores ativos na universidade, 15 deles vieram de outros países, como Bolívia, Espanha, Equador, Estados Unidos, Cuba, Grã-Bretanha, Peru e Colômbia
Diógenes Siqueira atua na Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais da Unifesspa
Em tempos de globalização, as universidades brasileiras estão cada vez mais voltadas para o que acontece ao redor do mundo. Com a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) não é diferente.
Atualmente, dos mais de 770 servidores ativos na universidade, 15 deles vieram de outros países, como Bolívia, Espanha, Equador, Estados Unidos, Cuba, Grã-Bretanha, Peru e Colômbia.
A entrada de professores estrangeiros é uma das formas, e alternativas, capazes de promover a troca de experiências e a aquisição de novos conhecimentos.
Com a grande relevância que o Brasil possui a nível mundial, no quesito científico, é possível afirmar que internacionalizar é quase que um processo ‘obrigatório e irreversível’ nas universidades brasileiras, onde pesquisadores internacionais realizam essa troca de conhecimento.
Através da Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais (Arni), a Unifesspa realiza diversas parcerias institucionais com universidades de diferentes países, para que os alunos, e não só professores, possam integrar e participar dessas formações internacionais.
“A ação é estratégia para o desenvolvimento acadêmico que, consequentemente, contribuirá para o aumento da diversidade cultural, aprendizagem de outro idioma de nossos servidores e estudantes. Além da troca de saberes, já que também receberemos professores, técnicos administrativos e estudantes da Universidade de La Republica de Uruguai”, observa Diógenes Siqueira, assessor da Arni, em relação à parceria firmada com a universidade do Uruguai no início de 2023.
Para a Unifesspa, a internacionalização curricular tem se tornado cada dia mais importante, tanto para profissionais que miram o mercado de trabalho, como para aqueles que queiram permanecer na área acadêmica.
Em setembro de 2022, a Unifesspa realizou o III Encontro de Internacionalização, justamente para discutir a presença da tecnologia na melhoria e no avanço da internacionalização em instituições de ensino e pesquisa brasileira.
O objetivo do encontro foi fazer com que os participantes conheçam os desafios e as oportunidades.
A Arni vem ampliando a presença da Unifesspa na internacionalização para que alunos e servidores possam se cadastrar e realizar estágios em suas respectivas áreas de formação, em qualquer parte do mundo.
“Temos participado de redes de colaboração para tentar expandir a visibilidade da Unifesspa não só pro Brasil, mas para o mundo também”, explica Diógenes.
DIVERSIDADE
Sem fronteiras étnicas ou culturais na docência – ou na produção de conhecimento – a Unifesspa possui um vasto número de professores de outras regiões do Brasil.
Com um ambiente acadêmico quebrando barreiras sociopolíticas e culturais, muitas vezes impostas por governos e algumas sociedades, na Unifesspa, o lema parece ser: diversidade.
A universidade possui 776 servidores ativos, sendo que 15 deles vieram de outros países.
Os 761 servidores vieram de 26 estados brasileiros – faltando apenas o estado de Roraima – e estão distribuídos da seguinte forma:
Universidade Federal do Sul e Sudeste acolhe estudantes estrangeiros que vêm fazer cursos de latu sensu na cidade
Loubenky Surfin veio do Haiti para cursar mestrado em química em Marabá e está gostando da Unifesspa
Não há fronteiras entre a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará e o mundo. O Programa Internacionalizando é a prova disso. Proporcionando vagas em instituições de ensino superior em outros países para alunos marabaenses e acolhendo estudantes estrangeiros, o intercâmbio de conhecimento proporciona, há cinco anos, uma troca valiosa de experiências entre universidades, pesquisadores, professores e discentes.
Há um ano no departamento, o assessor de relações nacionais e internacionais, Diógenes Siqueira Silva explica que o impacto dessa experiência é enorme. Pensando em um ponto de vista cultural, a troca entre duas ou mais nacionalidades é benéfica, haja vista que além dela, há também o contato com outra língua e nacionalidade, proporcionando novos conhecimentos por meio da prática.
Além disso, ele afirma que é uma ótima oportunidade de criar networking, ou seja, conhecer novos pesquisadores e seus trabalhos, algo de suma importância para a universidade que se encontra na Amazônia Oriental e possui vasto campo de estudo.
Um dos grandes problemas que as universidades públicas enfrentam é a falta de financiamento para o desenvolvimento de pesquisas. Quando agregamos novos cientistas e estudantes de outros países, nós aumentamos a possibilidade de trazer também fomentos para estudarmos",
Atualmente, seis alunos da universidade estão se pós-graduando no Instituto Politécnico de Bragança, assim como seis outros estudantes do Peru, Haiti e Moçambique estão em Marabá através do programa.
Loubenky Surfin é haitiano e está morando no município há cerca de dois meses. Para quem só falava francês e créole, o mestrando em química tem arriscado um portunhol impressionante. Pela primeira vez no Brasil, o intercambista relata que tem gostado de viver a Unifesspa e conhecer Marabá.
“Muito parecido com Haiti”, disse. Ele ficará um ano, até concluir o mestrado. Questionado se pretende permanecer na cidade posteriormente, Loubenky responde que não se importaria, já que simpatizou bastante com o lugar. O acolhimento dos outros estudantes também foi citado por ele.
Com o objetivo de impulsionar a internacionalização acadêmica, a Unifesspa estima receber mais 10 alunos de outras nacionalidades no próximo ano, para pós-graduação: “Nós enviamos a proposta de duas vagas para cada curso de graduação, então, em média, esperamos receber cerca de 50 outros estudantes para uma graduação completa”, relata Diógenes.
Para estudar em Marabá, esses estrangeiros recebem uma proposta casada a uma bolsa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) ou Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os marabaenses que estão se graduando em outro país também recebem o benefício, no entanto, pela universidade de fora.
O programa vai além de apenas proporcionar a vaga. A ideia é possibilitar uma vivência completa. Os intercambistas que chegam recebem a oferta imediata de uma disciplina de português. Diógenes explica que proporcionar um tradutor aos estrangeiros, os privaria de interagir e aprender de forma orgânica a cultura brasileira e marabaense.
A internacionalização é uma realidade que precisa ser cada vez mais melhorada. O valor que um estudante injeta na economia de Marabá é mais alto do que o valor deixado por um turista que vem em um curto espaço de tempo para conhecer balneários, entre outros locais. O investimento traz retorno à região.
Diógenes é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Realizou seu mestrado e doutorado em Biologia Animal pelo Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (UNESP). Além disso, também possui doutorado sanduíche na Universidade do Sul da Bohemia, na República Tcheca.
Começou a lecionar na Unifesspa no ano de 2016 e, apesar do choque de cultura à época, atualmente vê a instituição como um lar. A oportunidade lhe proporcionou uma grande evolução como pesquisador e principalmente como docente: “Sempre me senti muito acolhido e prezado como servidor. Aqui tenho todas as oportunidades possíveis para quem crescer”, conta.
Reitor Francisco Ribeiro celebra o crescimento, acredita que a universidade vai crescer muito mais ainda nos próximos anos e aponta evasão como um dos desafios atuais
Reitor Francisco Ribeiro diz que ampliação das estruturas físicas precisaria de pelo menos R$ 190 milhões no orçamento
Francisco Ribeiro, atual reitor da Unifesspa, chegou a Marabá para trabalhar na Unidade II quando este ainda era vinculado à UFPA, como professor do curso de Geologia, na Folha 17, Nova Marabá.
Ele relembra que tomou posse em 19 de setembro de 2006 e começou a trabalhar em 1º de janeiro de 2007. Naquela época, o “Campus Marabá” comportava 16 cursos, sendo três na Unidade II e 13 na Unidade I (Folha 31, Nova Marabá).
Fazendo um resgate de memória daquela época, ele recorda alguns percalços enfrentados pelos professores da instituição, como a dificuldade na relação entre o Campus e a sede, uma vez que “tudo se resolvia em Belém”. Para além das adversidades de comunicação, a infraestrutura também deixava a desejar, principalmente a tecnológica. “Às vezes, para fazer lançamento de notas, a gente precisava ir numa lan house, porque lá na Unidade II ou na Unidade I, estávamos sem internet”, relembra. Somente em 2011, às vésperas da transição, uma linha de fibra ótica foi instalada na instituição, um pequeno avanço de muitos que viriam.
Em 2013, quando se consolidou como a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, a instituição possuía 1.700 alunos. De acordo com o reitor, cerca de 7 mil alunos frequentam as atividades da Unifesspa atualmente e esse dígito aumenta quando se olha para a quantidade de ativos, somando graduação e pós-graduação, passando de 10 mil estudantes.
Nos últimos dez anos, em torno de 5 mil diplomas já foram emitidos, números que fazem a diferença na área de atuação da universidade.
Hoje, a Unifesspa é a principal instituição de ensino superior nessa região, então, o papel que ela desenvolve é muito importante para o progresso da circunvizinhança”.
Já no que diz respeito à expansão física, o que antes eram 8.000 mt² de área construída, atualmente chega a 50.000 mt², um crescimento representativo, mas que ainda não é suficiente para a demanda. “Tem sido um desafio muito grande sair daqui e oferecer cursos nesses campi fora de sede. Em Rondon, Xinguara, Santana do Araguaia e São Félix do Xingu, a nossa maior dificuldade é infraestrutura. Ainda carecemos de muitos espaços nesses lugares”, assevera Francisco.
Seja a construção de prédios, salas de aula, laboratórios, hospital veterinário, e outras áreas para práticas de campo, o desafio é o mesmo: recurso financeiro.
Estimamos que para atender essa demanda de infraestrutura de todos os prédios que ainda faltam ser construídos, precisamos de um valor em torno de R$ 190 milhões, tanto aqui na sede, quanto nos campi fora dela”, revela o reitor.
Dos dez anos da Unifesspa, seis deles foram de grande adversidade do ponto de vista orçamentário, detalha Francisco. Ele explica que a estimativa era de que cerca de R$ 200 milhões seriam investidos na infraestrutura da instituição ao longo dessa primeira década, o que não aconteceu. No último ano, a universidade recebeu apenas R$ 2 milhões para investimento. “Isso só dá para finalizar construções em andamento. Obras essas que foram fruto de emendas parlamentares, não de dinheiro que veio do MEC (Ministério da Educação). Todos esses prédios novos aqui na Unidade III foram custeados por emendas de deputados e senadores”.
EXPANSÃO E EVASÃO
“A Unifesspa tem feito a diferença na vida de milhares de estudantes. Temos 42 cursos de graduação, 13 de mestrado e quase 2 mil vagas oferecidas todo ano. O grande desafio é crescer, hoje nós somos apenas 10% do que é a UFPA”, reflete Francisco sobre o futuro.
Ele detalha que a Unifesspa lida com um grande problema na atualidade, a evasão de estudantes e frisa que a instituição está estudando mecanismos para diminuir essa ocorrência. Quanto mais alunos permanecerem na universidade, mais diplomas serão emitidos e maior a tendência dessas pessoas chegarem ao mercado de trabalho qualificadas. “Elas vão influenciar e ocupar posições de lideranças nas escolas, nas empresas, mudando sem dúvida nenhuma a cara dessa região nas próximas décadas”, prevê.
O reitor explica que o plano da universidade é que ela ocupe cada vez mais espaços dentro da sociedade e para que isso aconteça, é realizado um trabalho de expansão dos cursos de graduação e pós-graduação (mestrado e especialização). “Nós temos submetido à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), propostas de novos cursos (é ela quem autoriza o funcionamento a nível de mestrado). Esse ano, provavelmente, nós teremos o nosso primeiro doutorado, que é o PDTSA”, adianta.
O Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA) é um curso de mestrado interdisciplinar que atingiu nota quatro da CAPES e está credenciado a abrir um curso de doutorado na Unifesspa. Apesar disso, ainda é necessário que a CAPES autorize a sua implantação.
PRESENÇA EM CANAÃ E PARAUAPEBAS
A expansão física, por sua vez, encontra barreiras semelhantes. “A criação de um novo campus inicia principalmente aqui dentro. Nós aprovamos primeiramente dentro dos conselhos, e depois a gente manda para o MEC”, explica o reitor. Para que isso aconteça, o MEC precisa “desembolsar” vagas para criação de novos campi, além de arcar com os custos dessa criação.
Atualmente, um novo campus está sendo construído em Canaã dos Carajás. Os prédios já estão prontos, mas ainda faltam os equipamentos, que estão em fase de aquisição.
A vizinha Parauapebas ainda não possui campus da Unifesspa, mas Francisco afirma que existem diálogos em andamento, que apontam para essa instalação.
Nós temos conversado ultimamente com os dois municípios e estamos avançando no estabelecimento de acordo de cooperação técnica, para instalação de cursos também em Parauapebas, financiados pela prefeitura de lá, semelhante ao que fizemos com a Prefeitura de Canaã”, detalha.
Ocupar espaço em cinco importantes cidades da região, em dez anos, exige da gestão a construção de um vínculo com esses locais. Francisco frisa que essa relação é estabelecida a partir da escuta democrática entre as partes. Com institutos autônomos – dentro das possibilidades – e decisões tomadas em conjunto. “Esse relacionamento com a reitoria é democrático e de muito respeito. Nós ouvimos as subunidades, no caso os cursos, e elas têm representação dentro dos nossos conselhos, e todas as decisões que tomamos são colegiadas”, garante.
A CAMINHO DA REELEIÇÃO
À frente da gestão da Unifesspa há pouco mais de dois anos (o mandato encerra em setembro de 2024), Francisco afirma que tem pensado a respeito da reeleição – ou nova eleição, como ele prefere chamar – e que só irá informar sua decisão, se irá se candidatar novamente ou não, quando o pleito estiver próximo de acontecer.
UNIFESSPA EM NÚMEROS
Referência no ensino da língua portuguesa, ela foi aluna, professora e coordenadora do antigo Campus da UFPA em Marabá; hoje, está aposentada e continua relevante
Nilsa Brito: “Me sinto feliz por já ter me aposentado, mas olho para a universidade como um lugar com o qual tenho uma relação muito forte de trabalho”
Natural da Bahia, Nilsa Brito Ribeiro, professora titular da Unifesspa, há 30 anos tem uma relação simbiótica com o universo acadêmico em Marabá.
Em 1986, ela ingressou como aluna e pouco depois, em 1992, como professora. No ano seguinte, 1993, foi eleita coordenadora do Campus Marabá da UFPA, cargo que ocupou até 1997. “Esse tempo de vida aqui já indica um pouco a minha idade, 62 anos. Desde os 32 estou na universidade como professora”, revela sem embaraços.
Atualmente, ela é vinculada ao Instituto de Linguística, Letras e Artes (ILLA), e atua no curso de Letras Português, além de ser credenciada no programa de Pós-graduação em Dinâmicas Territoriais da Amazônia (PDTSA) e no Programa de Pós-graduação em Letras.
ANTES E DEPOIS DA UNIFESSPA
Do ponto de vista de alguém que acompanhou a maior parte da cronologia da instituição, a educadora conclui que não é possível fazer um comparativo entre passado e presente. Como Campus Marabá, a universidade viveu períodos de precariedade financeira, estrutural e docente. “Mas com uma luta intensa e uma vontade muito grande de transformar”, frisa, e complementa que em um primeiro momento, não se falava sobre a criação de uma universidade, mas em uma maior autonomia ao Campus, por conta do interesse em pensar na instituição de um ponto de vista regional.
Travamos a luta para construir projetos políticos e pedagógicos de diversos cursos, bem como para construir com dificuldade mais colegiados. Então, esse anseio esteve na base das nossas angústias, mas também do nosso trabalho diuturnamente nos campi”.
Ao se tornar Unifesspa, segundo a professora, a realidade mudou, levando em consideração que uma universidade federal, ao contrário de um campus, recebe outros tipos de recursos financeiros, além de ter uma gestão política e administrativa diferenciada. “Os recursos são outros, o corpo docente é outro e o corpo discente também”, pondera.
REGIÃO DE FRONTEIRA
Marabá está localizada em uma região conhecida como “de fronteira”, por conta de sua proximidade com os estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Nilsa pontua que a importância de a universidade estar posicionada nesse quadrante geográfico está na possibilidade de vivência em diferentes dinâmicas, como a relação com a terra, mecânicas de educação, saúde, entre outras. “A universidade desde o instante que aqui chega, trava um diálogo muito intenso com todos os municípios e inclusive com esses estados vizinhos”.
Nilsa enxerga que a formação de profissionais com vivência e atuação na região é um trabalho permanente da universidade. “Essa formação é cara. Foi cara para o Campus Marabá (UFPA) e continua sendo muito importante para a Unifesspa”.
A educadora reflete que, atualmente, a Unifesspa tem a possibilidade de trabalhar com as comunidades locais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos e demais povos originários), através de cursos que dialogam diretamente com as demandas desses contrastes (como o de Educação do Campo e o de Direito da Terra). “Espero que a Unifesspa alargue a possibilidade dessas alteridades terem sempre a universidade como lugar de intercâmbio de saberes”.
O FUTURO COM A LENTE DO PASSADO
“Nas décadas de 1980 e 1990 nós estávamos muito incutidos em construir um campus, uma potência, mas acho que aí já havia a germinação de uma possibilidade de uma universidade”, recorda a professora.
Olhando para o passado, ela medita que a Unifesspa tem o desafio de construir um lugar mais plural, ainda que que atualmente ela seja diversa:
Não basta a diversidade estar no interior da universidade. É preciso repensar seu lugar de posição e isso é papel da instituição”, reflete.
Indo além, para a professora, a universidade também tem a missão de contribuir com a superação da desigualdade na região, bem como o desafio de expansão na área de pesquisa e de um corpo docente mais amplo.
SER MULHER NA ACADEMIA
Recentemente, Nilsa Brito alcançou o título de professora titular (representa a autoridade máxima na sua área dentro da universidade e pode participar de questões administrativas como chefia de unidades). Ela é a primeira mulher a chegar no topo da carreira acadêmica na Unifesspa, e a segunda do quadro docente (o primeiro foi o professor doutor Maurílio de Abreu Monteiro, ex-reitor).
“Eu olho para essa progressão como professora titular a partir da minha contribuição aqui. Me sinto feliz por hoje já ter me aposentado, mas olho para a universidade como um lugar com o qual tenho uma relação muito forte de trabalho. Um afinco político e teórico muito grande”. A educadora medita que a conquista reflete seu lugar político na instituição, papel que continua relevante apesar de sua aposentadoria.
“Nós sabemos que, historicamente o lugar da mulher sempre foi de batalha para ela, e comigo não foi diferente”. “Essas batalhas estão presentes, como a mulher ocupando o lugar da docência, na pesquisa, na gestão. Existem micro lutas onde elas vêm construindo o seu papel na universidade e fora dela. Creio que cabe à academia fazer essa discussão todos os dias, com homens e mulheres”.
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Unifesspa oferta três cursos que estão moldando a educação na região da BR-222
Diógenes Siqueira atua na Assessoria de Relações Nacionais e Internacionais da Unifesspa
Injetando mensalmente cerca de R$ 400 mil na economia de Rondon do Pará, o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) agrega os cursos de Jornalismo, Ciências Contábeis e Administração. Com um corpo docente de 20 doutores, 10 doutorandos e 8 mestres, a educação tem funcionado como elo condutor do desenvolvimento local desde 2014, quando, por meio de uma articulação político-social, a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) chegou ao município.
As salas que hoje abrigam os laboratórios do curso de jornalismo foram construídas anteriormente pela própria população, para acomodar os cursos de licenciatura da Universidade Federal do Pará (UFPA). A comunidade se mobilizou e acumulou mais de duas mil assinaturas para realizar o sonho que se arrastava desde a década de 90: um campus próprio da Unifesspa após o desmembramento da UFPA.
Apesar de muitos não compreenderem a existência do Campus na cidade que possui pouco mais de 50 mil habitantes, o diretor do instituto, Jax Pinto, explica que o município é importante e economicamente estratégica, considerando que a BR-222 conecta a região do sudeste paraense ao norte e nordeste do estado, bem como ao Maranhão.
A produção científica e tecnológica e a geração de renda, através da chegada de estudantes, que realizam a diáspora acadêmica de outras cidades e até estados, mostram a importância e a potência da universidade federal em Rondon.
Mas, como nem tudo são flores, o desafio da instituição, segundo o diretor adjunto, Noberto Ferreira, tem sido estabelecer um vínculo direto e claro com a comunidade, fazendo com que os rondonienses tomem para si a relevância do campus. Outra questão levantada pelo doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), é a alta taxa de desistência dos cursos que ali são ofertados.
Dom Condeixa, professor do curso de jornalismo, também levanta o mesmo debate e vai além. Ele, que é doutor em Informação e Comunicação em Saúde pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz), explica que a relação entre academia e comunidade é arduamente prejudicada pelo costume de se mudarem do município para se graduarem em outra cidade ou estado.
Dom não vê a falta de mercado de mídia local como uma verdadeira questão, já que sondagens da FGV mostram que o percentual de empresas que adotam o sistema de home office passou de 58% em 2021 para 33% em 2022 e que 34% dos trabalhadores prestam serviço de forma remota ou híbrida (semipresencial) – eram 55% um ano antes.
Estamos trabalhando a ampliação de mercado para que nossos alunos consigam estagiar em portais, sem necessariamente estar em uma redação todos os dias, já que se trata de uma ideia ultrapassada”, diz Dom.
Diante dessa meta, Dom coloca como imprescindível a necessidade do curso de jornalismo da Unifesspa, conseguir realizar o networking de forma macro.
Algo surpreendente levantado pelo professor é que, embora o curso de Jornalismo já exista há cinco anos no município, rondonienses ainda perguntam qual o valor da mensalidade da graduação, por não compreenderem de que se trata de uma universidade pública. Ele expõe que a comunidade ainda não se apoderou da instituição federal, fazendo dela um local de diversidade que também tem um dever com a sociedade, de forma cultural, econômica e cientifica. Um dos exemplos é o projeto “Luau Cultural” criado por ele mesmo e que proporciona cinema e teatro à cidade que, estruturalmente, não oferece nenhum dos dois à população.
“Para os jovens das classes C e D, cursar o ensino superior ainda é algo muito distante, tendo em vista que são os primeiros entre seus familiares a ter essa oportunidade”, levanta. Dom insiste na ideia de que, não somente o curso de jornalismo, mas todos os outros do instituto sejam procurados pelos moradores da região.
Recentemente, o curso recebeu a nota 4 na avaliação do Ministério da Educação (MEC). Para o doutor, é motivo de comemoração, mas funciona mais ainda como combustível para que em 2027, o desempenho seja melhor.
PERFIL DOS ALUNOS E DOCENTES
A maioria dos estudantes de jornalismo da Unifesspa não é natural de Rondon. Dom chama a atenção para o fato curioso de que muitos acadêmicos vieram de fora da região sudeste do Pará: “Temos alunos da Ilha do Marajó”, conta. E o padrão se estende entre o corpo docente também, tendo em vista que, de todos os professores, apenas dois são rondonienses.
Para finalizar, o doutor faz um convite à reflexão. Ante a discussão vigente de levar o curso para Marabá ou Parauapebas, ele bate na tecla de que, enquanto a graduação de jornalismo for oferecida nas grandes cidades, o Brasil continuará centralizando a comunicação nas mãos de pessoas privilegiadas.
Parafraseando Martin Luther King, o docente diz ter um sonho. Dom espera que os jornalistas formados em Rondon sejam as vozes do Pará para o mundo, já que, segundo ele, a imprensa nacional enfoca questões superficiais, deixando de tocar em assuntos importantes de especificidades regionais:
A voz que fala sobre a Amazônia no Jornal Nacional, da Rede Globo, não é uma voz amazônida”, pontua Dom, cirurgicamente.
Ciências Contábeis: o mais procurado
O curso de Ciências Contábeis tem feito sucesso em Rondon do Pará. A diretora da faculdade, Miraci Matos do Carmo, foi uma das primeiras professoras da instituição. Ela afirma que durante esses nove anos a evolução foi notável, tanto em infraestrutura quanto em corpo docente e discente.
Mestre em Gestão Pública pela UFPA, a belenense conta que o curso é um dos mais procurados em Rondon do Pará e comprova com o fato de que a turma de 2023 possui 40 alunos, além dos outros 15 que ingressarão através do processo seletivo especial. Diferente do curso de jornalismo, a maioria dos graduandos é da região e, principalmente, do município que abriga o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas.
Além de Rondon, o curso possui uma turma de 30 alunos do FormaPará em Bom Jesus do Tocantins, a 60 km dali. Eles já estão no 5º período.
“A graduação em Ciência Contábeis abre muitas portas profissionais efetivas. A maiorias dos formados já sai empregada da universidade, devido à alta procura por parte das instituições financeiras. Dos que estão se formando neste ano, Miraci afirma que cinco já estão trabalhando.
Empresas locais ligadas ao agronegócio também têm absorvido os contadores formados pela Unifesspa.
SUCESSO DA ADMINISTRAÇÃO
A miscelânia que é o curso de Administração também tem prosperado entre a população rondonense. Rogério Ruas Machado, doutor pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), conta que atualmente quatro turmas estão em formação, com uma média de 30 a 40 alunos, cada.
O professor garante que a absorção de mercado dos egressos do curso é alta pelas grandes redes que se expandem em Rondon, bem como o retorno de estudantes para as instituições de ensino, buscando mestrado e doutorado.
Natural de Salvaterra, na Ilha do Marajó, Deyvison da Silva Rocha sempre teve o sonho de ser jornalista e, para realizá-lo, se deslocou até Rondon do Pará com esse único objetivo. A circunstância que vive é vista pelo estudante como algo gratificante, considerando os desafios que tem enfrentado pelo caminho que decidiu trilhar há três anos. Ele, que chegou sem recurso algum, teve o auxílio da universidade para lhe dar perspectiva de vida.
Deyvison veio da Ilha do Marajó para cursar jornalismo na Unifesspa
O discente explica que a praia é o ponto turístico de sua cidade natal e que isso movimenta o turismo da região. Para ajudar no sustento da família, o estudante de jornalismo trabalhava neste âmbito do mercado. Além disso, Deyvison relata que sempre esteve envolvido com a cultura local, fazendo parte de grupos de carimbó, movimento forte da cidade.
Indo contra o senso comum, o jovem pretende voltar à Salvaterra quando se graduar, na intenção de contribuir com o lugar: “Sinto que tenho pendências lá; logo, nada mais justo que eu voltar e colaborar com o que aprendi aqui”, diz, complementando que compreende a realidade de onde veio.
Hoje, a Unifesspa representa um lar para Deyvison. O ensino superior foi importante para que, com os anos, pudesse amadurecer, além de somar intelectualmente, já que proporcionou a oportunidade de desempenhar algumas tarefas em projetos de extensão e pesquisa.
FOCO NA PERIFERIA
A rondonense Millena de Jesus Oliveira relata que a vontade de cursar jornalismo nasceu dentro de sua paixão pela comunicação ainda quando estava no ensino médio. Expansiva, a jovem conta que suas qualidades são a persuasão e a aptidão para se expressar bem. Além disso, vê no ramo, um leque extenso de oportunidades.
Questionada sobre o futuro, a jovem não hesita em dizer que vislumbra uma agência de assessoria de marketing e audiovisual, com um cunho social, com o alcance para atender a comunidade mais periférica.
Para Millena, a Unifesspa é o quintal de Rondon:
Infelizmente, a população ainda é muito leiga sobre a instituição, mas não fazem ideia da quantidade de conhecimento e informação sendo construída e ampliada neste prédio”, encerra Milena.
DE IMPERATRIZ PARA RONDON
Natural de Imperatriz-MA, Mirella Soares Carvalho cresceu em Marabá e se mudou para Rondon para cursar jornalismo. Ela não lembra de, em algum momento da vida, ter pensado em fazer outra coisa. A priori, a jovem se graduaria pela Universidade Federal do Maranhão, mas por uma questão de praticidade e conforto, optou pela Unifesspa, já que no município consegue ficar mais perto da família.
Na reta final da graduação, a estudante ainda considera suas possibilidades frente ao mercado de trabalho. Se sente feliz com sua evolução em disciplinas como redação e rádio e considera seriamente o mestrado: “Quero estagiar e descobrir em qual área realmente me encaixo melhor”, conta.
A respeito do corpo docente, a nota 4.67 dada pelo MEC, espelha a firmeza com que a estudante vê a equipe que, em breve, formará mais uma turma de futuros jornalistas aptos a ingressarem no mercado: “São profissionais que fazem questão de nos ensinar, é algo a ser reconhecido”, destaca.
Criada por uma professora e um motorista, a jovem conta que cursar uma universidade particular não estava dentro do seu orçamento. Mas, mais do que isso, graças a boa educação que teve durante a infância e adolescência, a Unifesspa não era um sonho tão distante assim.
O SONHO PELO RÁDIO
No 7º período, o estudante Antônio Luiz Ferreira conta que a universidade foi uma mudança e tanto em sua vida, já que assim que terminou o ensino médio precisou sair de Altamira e morar sozinho em Rondon para cursar jornalismo. No entanto, a reviravolta é encarada por ele como um aprendizado. A experiência trouxe amadurecimento financeiro e psicológico.
Com o fim da trajetória de graduação na universidade, o jovem revela que aproveitou o momento para fazer uma reflexão sobre como chegou e como está saindo. Em um estágio feito em uma rádio de sua cidade natal, o estudante diz que nasceu uma paixão, mas, que flerta com o telejornalismo e redação.
Os quatro anos em que esteve em Rondon foram imprescindíveis para que ele pudesse ver e sentir na pele a transformação ocasionada pela universidade na vida de jovens como ele. Durante dois anos e meio, Antônio se sustentou com uma bolsa de monitoria e, atualmente, tem outra em um projeto de pesquisa.
Deyvison veio da Ilha do Marajó para cursar jornalismo na Unifesspa
A região sul e sudeste do Pará é marcada pela grande quantidade de assentamentos e acampamentos de famílias de camponeses que lutam pela reforma agrária. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), existem 504 projetos de assentamento na região. Os movimentos sociais têm a educação como pauta prioritária. Nesse contexto, pautou-se, junto a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) a criação de cursos que atendessem, especificamente, aos assentados da reforma agrária, que também têm o direito do acesso ao ensino superior. Assim, a partir de demandas dos atores sociais, foram criados os cursos de Educação do Campo e Direito da Terra.
A licenciatura em Educação do Campo foi criada, nacionalmente, em 2007, para trabalhar na formação de professores da educação básica para atuarem nas escolas do campo. Na região, o curso nasce em 2009, ainda no antigo campus avançado da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Marabá. Um documento realizado por atores sociais foi entregue, presencialmente, ao reitor da UFPA pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará (FETAGRI-PA), na ocasião, o reitor garantiu que seria implantado o curso de licenciatura em Educação do Campo.
Doutora em Educação, Maura Pereira dos Anjos é educadora e, atualmente, diretora da Faculdade de Educação do Campo. A professora avalia que a criação da licenciatura é uma forma de garantir o acesso à universidade a aqueles que, por muitos anos, não tiveram a oportunidade: “É um curso que foi criado para atender uma demanda histórica de negação do acesso à escola, principalmente de educação básica”, declara.
A licenciatura busca formar filhos de agricultores, de lideranças, indígenas para assumir as escolas do campo e também pra ajudar a construir a luta pelo direito, não só a educação, mas também a saúde e outros que esses povos tem solicitado a universidade.
O processo de seleção é diferente, haja vista que os alunos do campo muitas vezes terminam o ensino médio em programas como o Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou no Sistema Modular de Ensino (SOME) com ensino personalizado. A primeira fase é uma redação e a segunda, uma entrevista com avaliação da documentação que prove o vínculo da pessoa com a comunidade, por se tratar de um curso com demanda específica de atender esses atores. Essa seleção ocorre anualmente, depois do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
O curso inicia com disciplinas teóricas e gerais sobre a educação com enfoque na formação dos professores. Depois, é dividido em quatro ênfases: matemática, letras e linguagem, ciências humanas e sociais e ciências agrárias e da natureza. A proposta de ser interdisciplinar tem o objetivo de preparar os graduandos para atuarem com diversas matérias na educação básica. Pela abrangência em todas as áreas do conhecimento, a faculdade de educação do campo tem o maior corpo docente da Unifesspa, totalizando 26 professores.
A graduação não funciona na modalidade intervalar, é regular e tem duração o ano inteiro, sendo janeiro e fevereiro, julho e agosto meses de intensivo presencial. Já de março a junho, setembro a dezembro, meses de estágios de campo e pesquisas socioeducacionais nas comunidades de origem dos discentes.
Ao longo de 14 anos, a licenciatura em Educação do Campo acumula 214 formados. Foram 4 turmas até 2014 e, após a criação da Unifesspa, 8 turmas ingressaram. Atualmente, 104 alunos estão com status de formando, devendo alguma disciplina ou terminando trabalho de conclusão de curso. O corpo discente, hoje, atinge 3 estados: Pará, Maranhão e Tocantins.
Deyvison veio da Ilha do Marajó para cursar jornalismo na Unifesspa
Um outro diferencial ofertado pela Unifesspa é o curso de bacharelado em Direito da Terra, demanda também pautada pelos movimentos sociais que solicitaram a criação desse curso. Historicamente, o curso de Direito é elitizado e proporcionado a poucas pessoas. O objetivo desse curso é formar pessoas, filhos e filhas de agricultores assentados da reforma agrária no âmbito jurídico para atuar na defesa desses povos menos favorecidos.
O recurso que viabilizou a implantação do curso, veio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Com essa política pública foi possível, a partir de 2016, atender jovens assentados que não têm condições de acessar o curso de Direito da Unifesspa, que é concorrido, com notas de corte acima de 800 pontos.
Jorge Luís Ribeiro dos Santos é professor do curso de Direito e constatou à reportagem do CORREIO que esse é o único curso com essa especificidade no Norte do País.
“A voz que fala sobre a Amazônia no Jornal Nacional, da Rede Globo, não é uma voz amazônida”, pontua Dom, cirurgicamente.
Diferentemente da Educação do Campo, que abre turma todos os anos, o curso de Direito da Terra não funciona assim. Por se tratar de uma demanda específica e viabilizada através de programas, são trabalhadas apenas uma turma por vez. Em 2016, entraram 50 alunos e, ao final (em 2021), 43 alcançaram o tão sonhado diploma. O que é considerado uma vitória, haja vista que, estatisticamente, o aproveitamento da turma denominada Frei Henri, foi de 86%.
Em relação ao curso de Direito regular, a grade curricular não sofre alterações, são mantidas as mesmas disciplinas. No entanto, a metodologia é diferente, 70% do tempo os alunos ficam na universidade, com aulas em período integral e, os outros 30%, são o tempo comunidade. No tempo comunidade, os alunos retornam aos assentamentos para realizar intervenções, aplicações jurídicas no contato direto com as suas comunidades, por exemplo: como se deu a garantia dos direitos constitucionais do acesso a terra, são uma das abordagens estudadas.
Com a grande quantidade de cortes na educação em anos anteriores, o Pronera teve dificuldades em continuar direcionando verbas para tais políticas públicas e quase foi extinto. Portanto, a universidade recorreu ao governo do estado, por meio da Secretaria de Ciência e Inovação, que destina recursos ao Forma Pará, que viabilizou a existência do curso.
Na atualidade, a segunda turma de Direito da Terra está funcionando na cidade de Itupiranga. Foram ofertadas 50 vagas, sendo 40 para assentados da reforma agrária e, as outras 10, aos povos tradicionais.
A graduação tem uma concepção emancipatória em seu projeto, que tem a luta pela garantia do acesso ao direito aos que mais precisam como mola propulsora para a continuação do curso. De acordo com Jorge Luís, o projeto do curso de Direito da Terra trabalha com a concepção de formar profissionais numa perspectiva emancipatória. “Se você vem desse meio de povos indígenas, quilombolas, assentados da reforma agrária, o que se espera é que você vá exercer a sua prática jurídica voltada para aqueles povos”, explica.
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Publicado em 4 de junho de 2023