Marabá tem um futuro inteiro pela frente. Este futuro está sendo construído por jovens adultos e adolescentes que encontram nos estudos, no esporte, na arte, na cidade – e fora dela – formas de seguir em frente e transformar as nossas vidas. Eles farão isso logo, logo.
Neste Especial do aniversário de 108 anos de nosso município, apresentamos uma Marabá sob a perspectiva dos jovens para o futuro da cidade. E esta geração é de importância tremenda para nossa sociedade, para nosso presente e para os anos que virão.
Ao olharmos para a cidade dá sempre para fazer uma leitura. Marabá, por assim dizer, é como um texto, uma narrativa que não se deixa de ler de um só modo, e muito menos de uma só vez – já que escapam tantas entrelinhas deste misto de caos e beleza no qual a capital do sudeste do Pará se constrói. Como ler, então, essa cidade que se revela aos adolescentes e jovens?
Viver a cidade, viver na cidade, viver, apesar da cidade. O que podemos fazer hoje para os jovens do futuro? Considerando que essa parcela da população é quem vai assumir a força de trabalho e atuar em áreas como saúde, educação, economia e outras, prezar pelo amanhã delas é uma maneira de impactar positivamente também no nosso futuro.
A partir do momento que se entende que os jovens do futuro é quem vão tomar as decisões para a cidade de amanhã, fica mais fácil compreender porque é tão importante apoiá-los agora.
Os adolescentes que você vê nas ruas, festas, redes sociais, ou mesmo na sua própria família, são os educadores, médicos, políticos e diversos outros profissionais que estarão atuando em alguns (poucos) anos.
Considerando isso, o que podemos entregar hoje para um amanhã melhor e mais promissor para eles e para nós mesmos?
Para celebrar os 108 anos de Marabá, apostamos nas gerações Y e Z, estas que estão conectadíssimas. Quer saber o que Lorena Emilly, Débora Reis, Eduardo Castro, Daniel Filho, Taynara Sousa, Millenny Lisboa, Sofia Pantoja, Ângela Santos têm em comum? Então, rola para baixo e acompanhe as entrevistas com oito rapazes e moças em vídeo, textos e fotos.
Criatividade, visão, coragem e persistência são os ingredientes de uma jovem marabaense que é exemplo em sua geração
De acordo com o sociólogo italiano Domenico de Masi, em pouco mais de 10 anos, as mulheres terão dominado o mundo. Isso, aliás, é uma grande conquista, quando se vê mulheres roubando a cena a passos largos, em uma sociedade que insiste em alimentar certos machismos.
A frase ‘lugar de mulher é onde ela quiser’ nunca fez tanto sentido na atualidade e, mesmo com tantos desafios, elas continuam derrubando barreiras e sendo reconhecidas por seu trabalho.
Vale lembrar que esta não é uma matéria feminista. Contudo, é uma mulher escrevendo sobre outra mulher e, com muita vontade de “puxar o saco” e mostrar como ela é poderosa. E, para isso, convocamos – ou melhor, convidamos – Taynara Sousa Silva, que aos 25 anos é uma empreendedora de sucesso e tem inspirado outras mulheres por intermédio de sua força, coragem e determinação.
Não é novidade pra ninguém que as mulheres têm maior facilidade para fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. E Taynara é um exemplo disso. Trabalhando 6 horas por dia na Secretaria Municipal de Educação de Marabá, ela divide seu tempo com outra função: a de empreendedora. Há pouco mais de um ano, a jovem abriu seu próprio negócio, sendo a responsável por produzir doces, gerenciar estoque, vender e gerar conteúdo para as redes sociais.
A história dos doces na vida de Tay – pra ser mais íntima – aconteceu de forma despretensiosa, através de seu irmão Pedro que, certo dia, pediu que ela fizesse brigadeiros para ele vender na escola, porque queria participar de um festival. Até então, fazendo somente o doce para comer com a família em casa, Tay topou a ideia e produziu os brigadeiros, com os ingredientes que tinha em casa.
“Quando foi à noite, ele me disse que tinha vendido tudo e pediu para que eu fizesse mais. Uns três dias depois perguntei como que estavam as vendas e me contou que já tinha juntado um determinado valor. Aí, eu pensei: ‘vou começar a fazer doce’”.
Para ajudá-la nas críticas e sugestões em relação ao sabor, Tay pediu ajuda aos colegas de trabalho. Preparou vários brigadeiros – que era o que ela sabia fazer – e levou para que todos experimentassem e aprovassem, ou não.
Filha de Marabá, Taynara teve uma infância muito tranquila, brincando na casa do avô, na Avenida Boa Esperança. “Somos três filhos: a Iasmin (mais velha e de criação), eu a do meio, e depois vem o Pedro, caçula. Lembro que lá perto tinha um terreno baldio, onde havia várias árvores e madeiras. A gente brincava ali, dizíamos que era nossa casa”.
A relação com os pais sempre foi muito tranquila. Contudo, há pouco mais de dois anos eles se separaram causando um grande abalo psicológico na vida dela. Tay tem mais convivência, atualmente, com a mãe e com o irmão, já que moram os três juntos. O divórcio fez Taynara se transformar em uma pessoa mais madura e ela começou a perceber que muitas vezes os filhos têm aquela imagem de família perfeita com pai, mãe e filhos, todos juntos.
“Meu pai não é tão presente como eu gostaria que fosse, mas também entendo os motivos. Já carreguei mágoas por muito tempo, hoje posso dizer que tenho uma tristeza que vai e volta. Às vezes, as lembranças do que aconteceu vem à tona, mas não julgo meu pai. As pessoas merecem ser felizes. Talvez ele não estava feliz e tomou a decisão de ir viver em busca da felicidade”.
Com a saída do pai de dentro de casa, muita coisa mudou na família, Taynara entende que quando uma pessoa sai de casa, começa a ter outras prioridades, então, ela começou a sentir o peso da responsabilidade. “Costumo dizer que os doces foram uma resposta das minhas orações pra Deus. Eu sempre perguntava o que eu poderia fazer para ter uma renda extra e ajudar aqui em casa”, emociona-se.
A princípio, os doces eram somente para que a família pudesse ter uma renda extra. Tay iniciou a produção sem expectativas de crescimento, porém, se surpreendeu quando começou a gostar e se apaixonar pelo que estava fazendo. O interesse aumentou junto com a vontade de participar de cursos e oferecer cada vez mais produtos de qualidade: esse tornou-se seu objetivo.
Atualmente, 80% de suas vendas são realizadas através das redes sociais e por indicação de amigos. Para a produção, Tay conta com a ajuda da mãe – que é seu braço direito e esquerdo – e quando as encomendas estão com um volume muito grande, convoca Bia, uma amiga que auxilia a família quando necessário. Mas ela já sabe que logo, logo Bia vai se tornar funcionária fixa, já que o negócio não para de crescer. Dentre os planos para o futuro, está o aumento da produção e da variedade de doces.
“Daqui um ano pretendo ter o nosso espaço fora da residência, para receber melhor os clientes. Eu faço questão de entregar pessoalmente a encomenda, gosto de conversar, de ter esse contato”.
Mesmo com a pandemia e muitos decretos e restrições, as pessoas continuam fazendo festas familiares e Tay admite que nesse período ela recebeu muito mais encomendas do que em outros tempos.
Orgulhosa do trabalho que está realizando, o foco da empreendedora agora é se especializar em doces finos e brigadeiros gourmets, para atender festas de casamentos, debutantes e eventos sociais.
“Eu marco a vida das pessoas através dos meus doces. Estou muito feliz pelo reconhecimento que conquistei. Deus faz tudo no momento certo”, sustenta.
Nesse momento, Tay fez um desabafo à reportagem. Contou que nos últimos três anos, no inverno, a água entrava na sua casa, devido à cheia do Itacaiunas. Ano passado, inclusive, ela chegou a ficar um mês sem ir trabalhar e teve a produção suspensa, já que a casa estava debaixo d´água.
“Quando começou o período chuvoso este ano, já começamos a procurar outro lugar pra morar, porque eu não poderia ficar sem fazer doces, estava com muitas encomendas. Talvez, se eu não estivesse trabalhando com doces, nós não estaríamos nessa casa maravilhosa e muita coisa não teria acontecido, porque só com o meu salário não iria dar conta de arcar com todas as despesas”, contabiliza.
A casa atual, aliás, é uma retribuição para a mãe, que está diariamente ao seu lado, incentivando, trabalhando e ficando até de madrugada produzindo doces.
Taynara é formada em pedagogia, mas nunca almejou trabalhar em sala de aula. Na verdade, seu sonho era ser jornalista – perdemos uma colega de trabalho, porém ganhamos uma doceira na cidade – mas como não havia o curso em Marabá e, os pais não tinham condições de mantê-la em outra cidade, Tay optou por pedagogia para não ficar sem estudar.
Analisando os jovens da sua geração, que assim como ela desejam empreender, Tay dá uma dica:
“Não desistam nas primeiras frustrações. No começo nada é fácil, a gente fica muito empolgado e nem sempre as coisas saem como queremos. Vejo que valeu a pena eu não ter desistido. Valeu a pena tentar cada massa que deu errado – e foram várias – eu chorava, ficava triste, mas tentava novamente”.
E nesses momentos de tristeza, de medo e angústia, a marabaense apaixonada pela cidade corria para o seu lugar preferido: a orla. O local, marcou a vida da jovem em vários momentos.
“Eu sempre vou pra lá. Lembro que quando meus pais se separaram, teve um sábado que fui e fiquei ali próximo da Toca do Manduquinha. Chorei, chorei. Mas quando veio o pôr do sol, senti a brisa, parece que me acalentou. Aquele lugar é maravilhoso”, finaliza.
Assista a entrevista da jovem Tay falando sobre sua trajetória e como se tornou uma empreendedora de sucesso.
A emocionante história de uma jovem que deixou a timidez para trás, correu atrás dos sonhos e hoje é o esteio financeiro de sua família
Como é bom conversar com uma jovem que tem apetite por fazer a diferença no mundo. E o mundo do qual falamos aqui é seu próprio lar. É prazeroso conversar com uma pessoa que, tão nova, já é a responsável financeira de casa e que não sofre da “síndrome do fantástico”, que é aquele pensamento meio frustrante que surge no domingo à noite de ‘só de lembrar que amanhã é segunda-feira e terei de ir trabalhar’.
Ao perguntar a uma jovem, nos dias atuais, o que ela espera para o futuro, não pense que vai ouvir coisas do tipo “quero casar e ter filhos”: isso já está totalmente ‘fora de moda’, como eles falam. Não precisa concluir o ensino médio para que os planos para o futuro comecem a surgir entre eles. Alguns pensam em continuar estudando; outros em terminar a faculdade e trabalhar em uma multinacional; há os que sonham em criar seu próprio negócio e os que passam o resto da vida trabalhando com o que não gostam, seja por falta de oportunidade ou por falta de dedicação.
Focada nos estudos e em seus objetivos, a atriz de teatro e futura engenheira de produção, Lorena Emilly Oliveira da Silva, de 20 anos, é determinada quando o assunto é sobre seu crescimento profissional e, enxerga em Marabá, uma cidade com um futuro promissor para os jovens da sua geração: e para ela também.
Morando com a mãe e o irmão, Lorena é nascida e criada em Marabá. Viu, desde pequena, as dificuldades enfrentadas pela matriarca, que sozinha e com muita dificuldade, conseguiu proporcionar aos filhos uma vida tranquila para que apenas estudassem.
Lorena relembra que a família sempre morou de aluguel, afirmando com bom humor que já ‘rodaram’ o núcleo Cidade Nova inteiro, de tanto que se mudaram. Com os familiares todos morando próximo, a mudança do Liberdade para o São Félix causou desconforto no início, já que Lorena estava acostumada com a rotina de brincar nas ruas e estar perto dos tios e da avó. “Em 2011, minha mãe se inscreveu para o projeto Minha Casa Minha Vida e, no final de 2012, fomos contemplados. Não tínhamos casa própria e essa foi a oportunidade. Então, viemos morar pra cá. No começo eu chorava todo dia, porque sentia muita falta do Bairro Liberdade. Agora, minha mãe ama o São Félix e costuma dizer sempre que Deus deu a casa dela aqui e aqui ela vai ficar”.
Na infância, sempre estudou em escolas públicas, mas isso nunca foi empecilho para desistir ou deixar de sonhar. Lorena sabia que para mudar de vida, seria necessário esforço e dedicação e isso nunca faltou nesta jovem determinada.
Com excelentes notas desde o primário, cursou o ensino médio na Escola Municipal O Pequeno Príncipe e, diante do seu desempenho, ganhou uma bolsa de estudos em um colégio particular. A diferença, então, foi sentida. Lorena afirma que foi muito difícil a adaptação, tanto que cogitou desistir, porém, sabia que aquela era uma grande oportunidade.
“Foi uma enorme surpresa pra mim, porque não fiz prova pra ganhar essa bolsa. Eu já tinha inclusive iniciado o terceiro ano. Foi quando uma pessoa havia comentado que eu era muito esforçada e que tirava notas boas. Aí, a coordenação do colégio resolveu me dar uma chance. Foi difícil, mas consegui me adaptar e aí senti que foi realmente um presente pra mim”.
Ao final do terceiro ano, prestou vestibular e passou na Universidade Estadual do Maranhão, porém, devido a problemas pessoais, não conseguiu ir, já que teria de morar em São Luís (MA).
O COMEÇO DA MUDANÇA
Após completar 18 anos, naquela fase em que o jovem se sente meio perdido, sem saber o que fazer, surgiu o processo seletivo para o Programa Jovem Aprendiz, da Sinobras – maior empresa privada no município de Marabá – sendo convocada em março de 2019 para começar a trabalhar. “Juntei a oportunidade com os problemas pessoais que estava passando na época. No final de 2019, fiz o vestibular novamente, só que dessa vez para a Universidade Estadual do Pará, para o curso de engenharia de produção e, na Unifesspa, para engenharia de minas”.
A paixão pela área da engenharia sempre pulsou em Lorena. Ela só não sabia a ramificação que iria escolher.
Lorena, que hoje cursa Engenharia de Produção na UEPA, teve a oportunidade de contribuir, trabalhar e aprender como Jovem Aprendiz. Ela explica que o momento foi essencial para que pudesse lidar com o sistema hierárquico dentro de uma empresa, aprendendo a ter disciplina. Contando com a ajuda de pessoas dispostas a lhe ensinar e incentivar seu crescimento, ela afirma que seus colegas de trabalho foram fundamentais nesse processo.
“Tive muita sorte. O coordenador foi muito paciente, passou tudo o que poderia me ensinar. Me explicou tudo”, relembra Lorena.
Após um ano e quatro meses de trabalho, o contrato foi encerrado. Lorena decidiu que não queria parar de trabalhar. Foi então, que a busca por um novo emprego começou e surgiram novas dificuldades, como a falta de oportunidade para jovens sem experiência. “Seria a minha primeira chance depois do Jovem Aprendiz, mas sempre alegavam ‘queremos alguém com experiência’. As pessoas não querer dar oportunidade pra gente aprender. Faltam políticas públicas voltadas para os jovens que estão saindo do ensino médio, porque existe muita dificuldade de conseguir um emprego quando a gente termina o colégio”, lamenta.
Durante quatro meses, Lorena continuou na busca por uma nova chance no mercado, até que uma nova oportunidade surgiu na Sinobras. O trabalho realizado durante o período de Jovem Aprendiz lhe rendeu bons resultados e, dessa vez, a vaga seria para ser efetivada como colaboradora da empresa, no cargo de auxiliar administrativa, da área ambiental.
“Na minha entrevista falei que queria crescer na empresa. O que eu vivi no meu processo de Aprendiz me fez ver que essa é a empresa que eu quero trabalhar. Me vejo crescendo profissionalmente na Sinobras e, tenho me esforçado bastante para atingir esse objetivo”.
Lorena revela que, dias atrás, andando pela empresa com os colegas de trabalho – e tendo explicações sobre alguns processos – sentiu que, de fato, era isso que queria pra sua vida. “Sabe quando os olhos brilham? Eu vi toda aquela construção e o processo de produção e aquilo me chamou muita atenção”, conta, com sorriso no rosto.
PAIXÃO PELO TEATRO
A causa do brilho dos olhos de Lorena, aliás, tem outro motivo, o teatro. Sofrendo com a timidez desde a infância, aos 9 anos entrou para um grupo teatral para que pudesse conter a vergonha.
“Fiquei dois anos no Cine Marrocos e, quando eu mudei para o bairro São Félix, comecei a fazer teatro na Estação Conhecimento, onde fiquei até 2016. Agora, faço parte do grupo Trupe Grão. Já fizemos várias apresentações pela cidade, mas estamos tentando, nos últimos anos, alcançar outras pessoas, para que possam nos conhecer. Não é a carreira que quero seguir, mas tenho muita paixão e quero ver esse grupo crescer”, emociona-se.
Fazendo uma análise sobre os jovens de sua geração, a futura engenheira afirma que percebe que há muita acomodação, mesmo com as coisas mais fáceis do que anos atrás. “Isso não quer dizer que a gente tem de deixar de batalhar. Precisamos mostrar por que estamos aqui e por que fazemos a diferença. Se ficarmos acomodados, as coisas não vão mudar. As pessoas reclamam, mas não buscam a mudança”.
DEFENSORA DO BAIRRO
Sobre Marabá, Lorena diz que faltam cuidados com a cidade e, exemplifica falando do bairro em que mora. “O São Félix é meio esquecido. Já ouvi até comentários de que não fazemos parte da cidade. Aqui tem muitos buracos nas ruas, falta iluminação, segurança. O cuidado não deve ser só com o centro”.
Apaixonada pelo lugar em que nasceu, ela conta que quando mais nova, costumava pegar um ônibus e ficar andando pela cidade dentro do coletivo, admirando a paisagem e prestando atenção nas ruas e nas pessoas. “O brasileiro já é um povo carinhoso, mas aqui temos um toque especial, né?”
O AMOR QUE TRANSBORDA
Mesmo com a mãe sempre lhe dando todo amor e cuidado, a falta da presença do pai é sentida até hoje pela jovem. Na infância, o apoio e a presença masculina foram por intermédio de tios e de um padrinho. Este último, aliás, considera seu pai adotivo. A jovem não esconde que carrega mágoas pela distância do pai, que nunca a procurou.
“Tenho a percepção que as meninas são mais apegadas aos pais. Já fui muito revoltada, inclusive com meu nome Lorena, que foi ele quem escolheu. Eu odiava esse nome só porque ele tinha escolhido. Como meu nome é Lorena Emilly, só queria que me chamassem de Emilly. O Lorena era a lembrança que ele tinha me abandonado”.
Em compensação, o amor da mãe é inexplicável e inimaginável. A relação das duas é de total zelo e cumplicidade. Tendo a genitora como melhor amiga, Lorena diz que até as besteiras – como ela mesma fala – conta pra mãe.
Tendo de conciliar os estudos com o trabalho, surgiu a possibilidade de morar com algumas colegas de curso, no núcleo Cidade Nova, ficando assim, mais próxima da universidade, porém, a ideia foi descartada. “Não tem chance. Não tem como deixar minha mãe e meu irmão, somos só nós três, o nosso triozinho. Somos muito unidos de verdade”.
Nos últimos anos, a mãe de Lorena começou a sofrer com dores reumáticas nas mãos, impossibilitando-a de trabalhar. Atualmente, a principal renda da família vem de seu trabalho na Sinobras, contudo, a matriarca realiza pequenos trabalhos, em casa mesmo, na venda de geladinhos, pesquisas na internet ou até mesmo oferecendo serviço de xerox para a comunidade próxima.
“Acho que ela (a mãe) já fez o suficiente, agora é a minha vez de fazer por ela. Não tenho sonhos pra mim, tenho sonhos pra minha mãe. Lembro que ela tinha o sonho de ter um tamanco vermelho e, quando sai do programa de Jovem Aprendiz e recebi minha rescisão, a primeira coisa que fiz foi comprar o tamanco vermelho. São pequenas coisas que eu quero proporcionar pra ela”.
Para o futuro, Lorena é enfática. “Marabá é meu lar. Eu vejo um futuro promissor aqui, vejo nossa cidade crescendo cada vez mais. Meu sonho é crescer profissionalmente na Sinobras. Não me vejo sendo auxiliar administrativa por muito tempo, quero crescer. Estou estudando e me esforçando, justamente para isso. Me vejo no futuro sendo uma analista, uma planejadora ou uma engenheira. Quero chegar longe”.
Adolescente de 17 anos sonha empreender em Marabá e aliar a paixão pela música com um salão de cabeleireiro
A palavra música deriva do grego mousiké, que significa “a arte das musas”. Pode-se definir, então, música como uma forma de arte, que combina sons e silêncio, conforme ritmo e tempo.
A música sempre teve uma força muito grande, principalmente entre os jovens, que a utilizam como uma ferramenta de expressão, representando suas ideias, angústias, alegrias, medos e visões de mundo, ajudando inclusive, o jovem a expressar a sua personalidade. Com ela, têm-se indicativos de tendências e novas formas de perceber o mundo e a sociedade. Uma dica: é melhor ficar de olho neles.
Dedilhando as cordas do violão enquanto aguardava a entrevista, Débora dos Reis Lima, de 17 anos, suavizava o ambiente com uma linda melodia, os dedos pareciam flutuar, de tão leves e delicados.
Filha de Marabá, a adolescente sempre gostou das harmonias e partituras e, aos 12 anos, entrou para a Escola de Música da Fundação Casa da Cultura. “O primeiro instrumento que aprendi a tocar foi o teclado, depois fui para a fanfarra e clarinete. Mas, enquanto aprendia o teclado, estudei sozinha violão e comecei a tocar”, orgulha-se.
Tocar aliás, é uma paixão da jovem, que é reconhecida pelo seu trabalho e por sua força de vontade. Débora, inclusive, já participou de uma banda, que era um ministério de igreja.
“Quero demonstrar para as pessoas, que tudo o que quiserem, tudo o que pretendem alcançar, elas conseguem. Eu fiz acontecer. Sinto muita gratidão e muita felicidade por ser quem eu sou atualmente”, emociona-se.
A dedicação da aluna foi vista e reconhecida. Débora se tornou estagiária da Fundação Casa da Cultura, afirmando que a oportunidade foi um marco em sua vida. Emocionada, ela conta que a diretora da instituição, Vanda Américo, foi fundamental para que ela pudesse ter essa chance.
“Eu gosto muito de ensinar. Tenho muita paciência, só que tem aluno que não se esforça em aprender, né? Mas essa experiência é algo maravilhoso na minha vida. Eles me aconselham muito, não só na música, mas na vida mesmo. Aqui a gente não aprende só música, aprendemos a viver na sociedade e a respeitar o próximo”.
A base da segurança, serenidade e comprometimento que a menina de 17 anos já demonstra, tem um motivo: a família. Morando com os pais e três irmãs, ela afirma que os eles são cuidadosos e amorosos, que nunca deixaram faltar nada, inclusive apoio e incentivo.
“Eu fui adotada recém-nascida e não vejo diferença nenhuma, até porque não tenho ideia de que diferença possa ser. Eu sinto o mesmo carinho dos pais, de forma igual. Tenho muito amor por eles”.
Com a conclusão do ensino médio, na escola O Pequeno Príncipe – onde estudou desde o ensino fundamental – ela agora está frequentando a universidade Uniasselvi, cursando Música.
“O futuro da música em Marabá é promissor, não só pela Fundação ou pelas universidades, mas estão surgindo novas oportunidades de crescimento nessa área. Vejo que tem muita gente se esforçando, estudando, que tem instrumento em casa”, analisa Débora.
SONHO DE EMPREENDER
Com o desejo de se aventurar em outras áreas, a adolescente não pretende trabalhar só com música. Seu sonho é ser empresária e montar a própria barbearia em Marabá.
Questionada se percebe falta de apoio aos jovens da cidade por parte do governo, Débora que não, e isso não só pelo lado da música – onde ela está inserida – mas também pelas oportunidades existentes para os jovens em outros segmentos.
Analisando os adolescentes da sua geração, Débora percebe que muitos deles estão acomodados, esperando que a mudança bata a sua porta. Para ela, a culpa não é só da Prefeitura ou do Estado, é do jovem também.
“A força de vontade tem que vir de quem quer a mudança. É preciso querer aprender o que precisa e não o que quer. Tem que ter a mente aberta para receber críticas e elogios”.
Quando o assunto é relacionamento, ela se esquiva e diz que os jovens acabam se prejudicando quando estão em relações afetivas, porque mergulham de cabeça e esquecem as outras coisas. “Mas quando a pessoa tem foco, o relacionamento vai bem”, orienta.
E como Débora está? – “Eu vou bem. Vou ótima”.
Eduardo Castro escanteou parte da infância tradicional e trocou brinquedos por aprendizagem tecnológica e já faz seu pé de meia hoje
“Quando o nacionalista Tobias Barreto escreveu, no Século XIX, sua célebre frase: “Não somos nós que temos de esperar tudo do futuro; mas o futuro que tem tudo a esperar de nós”, ele fazia um apelo aos jovens para que se dedicassem ao máximo à sua preparação para mudar a história do País.
Cerca de dois séculos depois, ainda há adolescentes e jovens que parecem ecoar o grito de Tobias Barreto. É o caso de Eduardo Castro de Queiroz que, aos 14 anos, desponta como um talento na edição de vídeos profissionais, atendendo a clientes exigentes locais e de outros estados, como São Paulo.
Hoje em dia, a maioria das pessoas já tem acesso à internet na palma da mão, possibilitando uma infinidade de oportunidades para pesquisar, buscar e obter respostas para qualquer questão.
Você já percebeu que as crianças, nos últimos anos, já nascem com aquele dedinho que vai certo na tela do celular? Será que a inserção tão precoce no mundo da tecnologia é benéfica às crianças?
Não sabemos a resposta. Porém, temos um exemplo claro de que a tecnologia aliada com bons incentivos – por parte dos pais – pode ser totalmente interessante e fundamental no processo de aprendizagem e amadurecimento das crianças, como é o caso do Eduardo Castro, apelidado carinhosamente por colegas do ramo como “Recruta”.
Autodidata, como se define, desde os 13 de idade ele já ganha dinheiro com edição de vídeos, colocando em prática todo o conhecimento adquirido através de tutoriais no youtube e leituras (muitas leituras).
Com uma família muito unida e tranquila, Eduardo avalia que teve uma infância normal e, a partir dos 5 anos de idade, começou a ter os primeiros contatos com a tecnologia, através de canais no youtube. A rede, aliás, possibilitou através de ferramentas interativas, como vídeos e jogos, que o menino pudesse ter estímulos que facilitaram muito seu aprendizado.
“Meu pai é formado em tecnologia da informação, então desde pequeno sempre fui muito ativo e curioso por essa área. No youtube, assisti Chaves pela primeira vez”, conta, relembrando o fato marcante.
Com o passar do tempo, os pais começaram a perceber que o filho não se interessava só pelos vídeos e começaram a incentivar e apoiar o menino, que passou a conciliar os estudos da escola com os relacionados à área tecnológica.
Trabalhando por conta própria e usando a internet a seu favor, Eduardo tem clientes espalhados por todo país. Utilizando as redes sociais para compartilhar e divulgar seus trabalhos, ele admite que adora mostrar para as pessoas o que está fazendo. “Geralmente eu faço meu portfólio e envio para quem tem interesse por esse serviço. Aqui em Marabá já consegui fazer vários clientes também. Mas os de fora valorizam mais nosso trabalho, e aqui na região ainda reclamam um pouco dos valores”.
Contudo, o mercado de produção e edição de vídeos vem crescendo na cidade, e Eduardo sabe disso. Ele afirma que as pessoas estão percebendo e valorizando esse setor, que tem crescido cada vez mais.
Apesar da pouca idade e de trabalhar sozinho, o jovem, que também é motion design, conta com a ajuda e o auxílio de alguns amigos que já atuam na área, os quais estão sempre dispostos a lhe dar dicas, tirar dúvidas e, claro, incentivar o “Recruta”. Mesmo com apenas 14 anos, ele nunca percebeu nenhum tipo de preconceito por conta da idade, já que talento e competência não são medidos pela idade.
“Percebo um certo preconceito de alguns parentes, que ficam falando que preciso só estudar. Eu já cheguei a ganhar 5 mil reais em apenas um mês com meus trabalhos. Geralmente, guardo meu dinheiro, mas também invisto em equipamentos, ajudo meus pais quando eles precisam, compro alguma coisa pra me divertir e quando saio para algum lugar”, orgulha-se, sobre a grana quem entra em sua conta, fruto do trabalho que realiza.
Para o futuro, Recruta pensa em fazer faculdade de cinema. Apesar de ser um curso que não é oferecido na região, ele pensa em estudar fora e voltar para Marabá, porque acredita que o mercado por aqui é promissor.
“É uma área que trabalha com estética. Quero contar histórias de maneira mais teórica, na verdade quero aprender a criar histórias, tirar as ideias da minha cabeça e começar a criar projetos grandes. Eu me vejo trabalhando nisso e não é só pelo dinheiro, é porque eu gosto do que eu faço”.
Infância e adolescência
Durante a infância, Eduardo não tinha muitos amigos, já que apresentava dificuldades em interagir com as crianças da mesma faixa etária. Com um pensamento e raciocínio à frente da sua idade, ele sempre conviveu melhor com pessoas mais velhas.
“Se for pra analisar minha idade mental, eu não me vejo com 14 anos e, sim, com 18 anos. Quando a gente para pra ver pessoas da minha idade, percebemos que elas ainda têm uma mentalidade bastante infantil, não se preocupam com a vida, com o que querem fazer, com as metas e com os sonhos. Eu tento pensar sempre no futuro. Minhas atitudes são pensando na frente”.
Eduardo revela que já sofreu bullying – termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica – por ser muito magro, por tirar boas notas e por não ter muitos amigos. Considerado um ótimo aluno, ele cursa, atualmente, o 1º ano do ensino médio e nos anos de 2017 e 2018 recebeu o título de melhor aluno da escola.
O corpo magrinho e franzino pode ter relação com a alimentação restrita que ele tem. Os médicos descobriram, cedo, que o adolescente possui sete tipos de alergias – que ele nem lembra todas. Eduardo conta que se comer algo fora da dieta, como carne bovina, ovo, feijão e leite, passa mal.
Inteligente e muito maduro para seus tenros 14 anos, o adolescente afirma que os jovens podem chegar aonde quiserem, basta correr atrás dos seus sonhos. “Hoje em dia falta mais liberdade própria, sair um pouco da zona de conforto e buscar as próprias oportunidades. Os pais têm bastante influência nisso, porque costumam colocar os filhos numa bolha”, sustenta.
Na hora do descanso, entre os estudos e o trabalho, Recruta gosta de assistir séries e, como menino que ainda é, gruda na tela quando passa Pica Pau. Mas, como a maioria das pessoas na cidade, diz que gosta de passear na orla, esse aliás, é seu lugar preferido em Marabá.
“Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no SENHOR renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. (Isaías 40:30-31)
Os olhos de um deficiente visual podem estar nos dedos das mãos, na audição aguçada, em uma bengala ou na descrição de uma paisagem feita pelo olhar de outra pessoa. O simples ato de abrir os olhos informa a quem enxerga o que existe e acontece naquele momento específico. Já diria Mário Quintana “Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino; cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.”.
Ao tentar descrever Ângela Maria Araújo dos Santos, de 19 anos, podemos utilizar vários adjetivos, mas o que mais compete a ela: é resiliente. Além de modificar sua vida e de quem está a sua volta, ela é capaz de enxergar o mundo com os olhos do coração e ensinar às pessoas que não é preciso ver para poder conhecer.
Deficiente visual desde o nascimento, ainda bebê começou a fazer tratamentos – que duraram cerca de 3 anos – para realizar um transplante de córnea. Nesse período, ela ficou morando em Goiânia, chegando a realizar duas cirurgias, porém, sem sucesso, já que seu organismo rejeitou as córneas transplantadas. “Quando foi pra eu fazer pela terceira vez, perdi os 10% de chance que eu tinha de enxergar”.
A jovem mora com a mãe e os três irmãos em uma casa simples no bairro Independência, porém, rica de amor e cumplicidade. Atualmente, a renda da família vem de dois benefícios que recebem do Governo – um por Ângela e, o outro, por causa de um dos irmãos, que foi diagnosticado com espectro autista – e da ajuda de pessoas que se sensibilizam com a história da família.
Falar da relação com a mãe faz o sorriso de Ângela ficar ainda mais evidente e, segundo ela conta, as duas são muito amigas, fazendo com que a afinidade de mãe e filha ultrapasse as correções e puxões de orelha do dia a dia. Sem a presença do pai, que conheceu apenas aos 8 anos de idade, a jovem afirma que não sentiu falta dele durante a infância. “Minha mãe supriu todas as necessidades. Eu não tenho contato com ele e nem pretendo”, pontua, não querendo estender o assunto.
Com uma infância tranquila e normal, como ela mesma descreve, apesar de algumas restrições quando queria fazer algo e não conseguia, a menina sempre foi uma criança muito serelepe, adorava ficar na rua para brincar de elástico, pular corda, amarelinha, jogar bola e peteca.
Apesar dos momentos de brincadeira e diversão, Ângela sentia-se frustrada e com raiva por não enxergar, por não poder andar sozinha na rua, por não poder brincar como as outras crianças e de ter uma juventude como os demais de sua idade, por causa da falta de independência.
Até 2019, ela tinha esse sentimento de raiva. Até que um dia, seu irmão a convidou para ir à igreja que ele frequentava, onde o pastor teria o dom da revelação e da cura.
O silêncio imperou. A equipe de reportagem se olhou emocionada, até que Ângela continuou: “Eu acho que não. É o não enxergar que me torna como eu sou. Enxergo o mundo de outra forma, que vocês não enxergam”, concluiu, emocionando a todos.
A mudança de religião foi algo complicado e acabou trazendo alguns conflitos, já que a família não segue os preceitos evangélicos. A moça não tinha como ir para a igreja, pois precisava de alguém para acompanhá-la ou que a buscasse em casa.
“Foi aí que o pastor começou a me levar sempre que tinha culto ou encontros. Eu fui muito bem recebida e amparada na igreja”.
Sentindo-se verdadeiramente em casa na igreja, lá ela realiza uma das suas grandes paixões, que é cantar. Com os ouvidos atentos e o coração cheio de amor, Ângela expressa toda sua emoção cantando louvores que emocionam a todos na congregação. “Amo ir para a igreja cantar. Não sou cantora, mas faço iso para honrar Jesus Cristo”, justifica, contando que também escreve letras de músicas.
Após a conclusão do ensino médio na rede pública, Ângela fez a prova do Enem e prestou vestibular, sendo aprovada para o curso de Ciências Biológicas, com enfoque em Saúde Coletiva, na Unifesspa. Ansiosa, ela aguarda o início das aulas, que devido à pandemia do coronavírus, foram adiadas.
SONHO COM PSICOLOGIA
“Não era o curso que eu queria fazer. Quando tinha uns 15 anos, descobri minha verdadeira vocação e queria fazer psicologia. Assim que terminar o que vou começar agora, quero correr pra fazer psicologia, aí é nessa área que quero trabalhar e ter meu próprio consultório. Pretendo ajudar não só deficientes, mas o público em geral”.
Com muitos sonhos, a menina que tem os olhos no coração não “fecha os olhos” para os problemas da sociedade. Conta que todos os seus sonhos se baseiam em apenas um: ajudar as pessoas. “Gosto de ajudar, é como se tivesse no meu DNA”.
Nascida e criada em Marabá, para o futuro, além de trabalhar, pretende lutar pela acessibilidade nas vias, algo que Ângela afirma que precisa melhorar muito.
Em relação ao preconceito, a jovem afirma que nem percebe e, se acontece alguma situação preconceituosa ou ouve algo, entra por um ouvido e sai pelo outro.
SEMPRE CONECTADA
Como toda adolescente, Ângela adora ficar navegando pela internet e, há pouco tempo, entre likes e comentários nas redes sociais, conheceu um rapaz, que hoje é seu namorado. “Ele não é daqui, mora na Bahia. A gente namora há distância tem três meses”, conta envergonhada, afirmando que ele também é deficiente visual.
Mas antes disso, já teve outro namoro – presencial, ela frisa – que durou mais de um ano, com um rapaz da cidade mesmo. O romance acabou, segundo ela, por problemas com a família dele, que não aprovava a relação.
Questionada sobre o conselho que daria para outros jovens, ela fala sem titubear. “Estudar. O mundo que vivemos hoje é diferente, moderno, transforma e muda a cabeça do jovem e acaba tirando a gente do foco”.
Ao finalizar a entrevista, Ângela nos deixa uma lição. “As pessoas colocam muitos problemas e dificuldades nas coisas, mas isso depende muito da fase e da maturidade de cada um”.
Do campo para o mercado financeiro. Jovem assumiu o risco de empreender para ter maior autonomia sobre seu trabalho. Iniciando com valores pequenos e visão de longo prazo, ele deu o pontapé na Bolsa de Valores.
Quando são pequenos, os filhos têm nos pais o maior exemplo a seguir. Eles repetem gestos e palavras, além de sempre buscarem ser iguais àqueles que os inspiram, principalmente quando decidem seguir o mesmo caminho profissional do pai ou da mãe. A família, por vezes, se assusta com a notícia ou incentiva e dá total apoio ao jovem. Sendo este ou aquele, no fim das contas, o sentimento deve ser o unânime: orgulho.
Durante a infância, Daniel Luiz Leal Mangas Filho, hoje com 23 anos de idade, foi uma criança que sempre esteve rodeada de outras e de muitos adultos, como o pai – que também se chama Daniel. Continuamente, o genitor fazia questão de mostrar e levar os filhos a algumas ações de campo, que realizava no trabalho.
Funcionário público há 35 anos na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Daniel – o pai – acabou incentivando o filho, mesmo que indiretamente, em sua escolha profissional.
“Cresci muito ligado a essa questão rural. Meu pai sempre teve uma ligação muito forte com a agricultura familiar, e isso me inspirou bastante. Sempre foi algo que eu tinha em mente e pensava que era com isso que queria trabalhar”, relembra Daniel Filho.
Nascido em Belém do Pará em 1997, aos 7 meses de vida Daniel Filho foi com morar em Santarém com a família. Por lá, eles viveram por 11 anos, entre passeios de barco, banhos no rio Tapajós, peixe frito e muitos amigos que conheceram na cidade e se transformaram numa extensão da família Mangas.
Após a temporada em Santarém, a família seguiu para Paragominas, onde ficou por 5 anos. Até que, em 2014, chegaram a Marabá. Aqui, Daniel iniciou o 3º ano do ensino médio e, de cara, viu o potencial da região para o setor rural.
“No ensino fundamental pensei em fazer medicina veterinária ou agronomia. São duas áreas que conversam bastante, a agronomia foca na produção e a veterinária na saúde. Quando cheguei em Marabá e vi que tinha o curso de agronomia na Unifesspa, bati o martelo e decidi o que iria fazer”, conta.
Aprovado em primeiro lugar no curso, aos 17 anos, Daniel deu início a sua jornada acadêmica. Durante o período letivo, estagiou em duas empresas distintas – Ideflor Bio e Agro Serras – conseguindo dessa forma, analisar de perto em qual área gostaria de seguir após a conclusão da faculdade.
“Minha vontade sempre foi de poder criar e ‘vender meu peixe’. Quis empreender para ter uma independência maior e um futuro melhor”.
Um ano após formado, Daniel Filho deu o pontapé inicial no empreendedorismo. Em janeiro de 2020 nasceu a Agro Terra Rural, empresa que trabalha com crédito rural para agricultores de pequenos, médios e grandes portes.
Para dividir as funções e responsabilidades da empresa, ele conta com o apoio do sócio, Vicente Corrêa, 25 anos, que conheceu durante o curso e que também é engenheiro agrônomo.
Após estudos e análises, o jovem percebeu que muitos agricultores não utilizam o crédito rural, do qual podem se beneficiar, por acharem que é um processo muito burocrático e difícil de se conseguir. Daniel explica que o intuito da empresa é esse, fazer com que os agricultores percebam seu potencial de crescimento. “Eles nos dão um voto de confiança e tem dado muito certo. O agricultor familiar está tendo essa oportunidade com a gente”.
O trabalho assíduo de visitas às áreas, garante a Daniel, é importante para conhecer a realidade das comunidades, sendo papel fundamental para saber quais as reais necessidades e o que pode ser feito para melhorar a produção daquele agricultor. “Ir até eles, faz com que a gente desenvolva um trabalho melhor, com um atendimento totalmente personalizado”.
Mercado Financeiro
Um levantamento divulgado no final de 2020 pela B3, mostrou que os 2 milhões de novos investidores na (Ibovespa) Bolsa de Valores estão cada vez mais maduros em relação ao mercado de renda. Outro ponto levantado é que, apesar de serem novatos, eles possuem uma melhor visão de longo prazo, mesmo em momentos de alta volatilidade nas ações.
“Nunca quis contar muito com o governo para a minha aposentadoria, dadas as nossas instabilidades políticas. Então, sempre preferi guardar meu dinheiro e aplicar, porque sei que no futuro, ele vai estar lá reservado para que eu possa usar”.
O interesse pelo mercado financeiro começou há pouco menos de um ano, quando começou a ler alguns livros por curiosidade, para entender o funcionamento do mercado. O estudo sobre o tema acabou virando um hobby e, os investimentos, passaram a ser um objetivo de conseguir a independência financeira. “Eu cresci vendo muitas pessoas endividadas, então, é mais para uma segurança e reserva financeira, pensando daqui 30, 40 anos”.
Os investimentos são diversos. Daniel pontua que possui ações na Ibovepa, Tesouro Direto e em alguns aplicativos. “A diversificação é muito importante quando você vai fazer um investimento”, analisa.
O exemplo do jovem investidor motivou a curiosidade da mãe, que começou a aplicar o dinheiro, seguindo os passos do filho.
Família
Ao que parece a esta jovem – não tão jovem – que vos escreve, a geração de Daniel foi educada para assumir mais riscos, os pais os incentivaram a serem mais protagonistas de suas próprias vidas e, principalmente, ir atrás dos seus sonhos.
“Na minha família a gente sempre apoia um ao outro, nos nossos projetos. Então, isso tá sendo fundamental nessa etapa da minha vida”.
Os jovens têm maior rapidez e perspicácia para obter informações, controlar seus negócios e tomar decisões, mesmo faltando experiência. Isso, aliás, nunca foi um problema para a família de Daniel, que sempre o apoiou e o incentivou a arriscar e empreender.
“Dificilmente, sozinho, eu conseguiria segurar algumas crises que a gente passa. Alguns meses são piores que outros, então, o apoio dentro de casa foi fundamental até chegar a essa fase de me estabilizar”, explica o jovem.
A matriarca da família é a base de toda a segurança. Daniel enfatiza com muito orgulho, que a mãe sempre fala pra ele que a hora de tentar é agora. “Ela sempre diz que tenho que fazer o que quero, que me motive e isso com certeza me ajuda muito”.
Jovem, bonito – sou suspeita – inteligente, estudioso e focado no lado profissional, Daniel está solteiro, garantindo que o foco no momento é para o trabalho, porém, garante “uma coisa não tem nada a ver com a outra”.
“Acredito que os relacionamentos não atrapalham, mas é preciso ser organizado para que as duas relações possam andar de maneira equilibrada. Quando a gente tem alguém de confiança, não vejo que o namoro possa ser um problema ou empecilho”.
De jovem para jovem
Pra quem deseja cursar agronomia ou já esteja na universidade, Daniel faz um alerta, já que muita coisa não é ensinada sobre o mercado de trabalho e, isso, faz com que o jovem só aprenda de fato, quando chega pra trabalhar.
“Hoje, vejo que o foco maior da agronomia é com venda e crédito. A gente tem que saber vender e Marabá possui um mercado enorme, um potencial de crescimento gigante. Então, fiquem atentos. Tem espaço pra todo mundo, é só ir atrás e se esforçar”.
A trajetória da menina de 19 anos que começou a caminhada que lhe tornará, em breve, uma médica, a primeira da família
Acreditar que a leitura, o estudo e a dedicação abrem portas e criam oportunidades cada vez mais concretas não é uma falácia ou uma ilusão. Todos os dias em todos os cantos, embora as dificuldades sejam cada vez maiores para as pessoas mais simples, há exemplos que mostram que a vida encontra caminhos. Aqui em Marabá isso também é verdade em muitas áreas e pode ser percebido na trajetória que vai sendo construída por jovens talentos. Aos 19 anos e como terceira geração de duas famílias que apostaram nesta cidade, Millenny Lohanne da Silva Lisboa começa a caminhada que lhe tornará, em breve, uma médica, a primeira doutora de sua família.
Com um pai que foi motorista na Secretaria Municipal de Educação por muitos anos e hoje está desempregado, e a mãe, agente de portaria no Hospital Materno Infantil, Milleny tem neles exemplos de trabalho duro na vida cotidiana. Mas as bases para essa ligação tão intensa com Marabá vêm dos avós dos dois ramos da família. Os paternos, Myra e Guimarães Lisboa, vieram do norte do Pará. Ele, para trabalhar na então Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública), combatendo a malária e outras doenças em toda essa região.
Já o avô materno, José Vidal, veio trabalhar como operário na construção da ponte rodoferroviária sobre o Rio Tocantins, então uma das maiores obras da Amazônia. Trouxe consigo a esposa Maria da Paz.
“Isso quer dizer que, lá no fundo, eles (os avós) tinham raízes em outros lugares, mas foi aqui que escolheram permanecer e criar laços. E, graças a isso, vim ao mundo em agosto de 2001: mais uma marabaense. Meus pais se separaram ainda quando eu era criança e desde esse momento eu ficava dividida entre as duas famílias, que já não eram mais uma só”, avalia.
O contato intenso e cuidados dos avós tiveram grande influência na vida de Milleny, até aqui, tanto pela ligação com o passado, quanto pelo estímulo para que siga estudando e vencendo com novas oportunidades.
Atualmente, ela mora com os avós paternos no Bairro da Liberdade. Estudou em escolinhas particulares próximas de casa e a segunda, terceira e quarta séries cursou em uma escola municipal da rede pública. Por causa de um grande esforço da família, especialmente da avó, voltou a ter oportunidade no ensino particular, mais tarde, no Colégio Adventista e no Monte Castelo, completando o ensino médio.
Para isso, ela narra que as despesas eram extremas e com muita dificuldade de seus avós, ela conseguiu ter estudo de qualidade.
“Isso foi essencial para os passos seguintes da minha jornada acadêmica, porque foram essas experiências positivas na escola que me incentivaram a estudar, ler e, principalmente, crescer profissionalmente através da educação. Foi então que decidi estudar no Instituto Federal, mesmo já estando matriculada e frequentando o ensino médio em uma escola pública de destaque. Não conhecia o conceito de IF, de ensino médio integrado, tampouco conhecia bem a Nova Marabá, mas embarquei assim mesmo, com muito desejo de que lá fosse um lugar bom. E me surpreendi com a qualidade do ensino, da formação e competência dos professores e, mais do que isso, das infinitas possibilidades no campus: fazer projetos de pesquisa, participar de projetos de extensão, desenvolver trabalhos e apresentar em eventos!”, narra.
ENSINO TÉCNICO
Milleny, aliás, fala com orgulho que é uma técnica em Controle Ambiental. Ela passou três anos conciliando o ensino regular com o técnico. Participou de vários projetos de geoprocessamento das margens do Rio Tocantins, de investigação sobre o Zika vírus, de investigação histórica da relação do homem com a natureza, de criação de tecnologias em educação, entre outros.
“Enfim, foi uma fase de muito aprendizado e crescimento. Viajei duas vezes para apresentar trabalhos fora da cidade e foi tudo fantástico. Bom, está claro que diante de tantas possibilidades tive muita dificuldade em escolher um destino profissional, né? Durante esse período, passou pela minha cabeça seguir a área em que eu estava e cursar engenharia ambiental ou florestal, mas não me identificava com a atuação e com o mercado em si”, comenta.
Ela ainda confessa que cogitou seguir por algum curso de licenciatura, especialmente História ou Letras, áreas que sempre lhe encantaram, porque sempre se sentiu inspirada pelos professores dessas disciplinas.
MEDICINA?
Mas foi em uma aula de planejamento ambiental que o sonho de fazer Medicina – que já era antigo no seu íntimo – floresceu mais uma vez. “Nessa aula discutimos sobre parto humanizado e diretrizes do SUS, e foi então que veio a identificação. Comecei a pesquisar, assistir vídeos, planejar e sonhar com isso. Eu poderia dizer que a Medicina foi um sonho de criança, mas sei que no fundo foi bem mais uma escolha consciente – e nem por isso menos apaixonada – e cheia de propósito. Eu tive receio em falar pros meus colegas e professores antes de ter certeza, porque achava que isso banaliza uma escolha tão especial. Consciente de que teria que prestar o Enem, entrei no cursinho em 2018 no meu terceiro ano do ensino médio”.
Também aí a caminhada não foi simples. Suas primeiras notas no Enem, já boas, lhe garantiam acesso a vários cursos, menos Medicina. Ela passou para Biomedicina na UFPA, em Belém e em primeiro lugar para a UFG, de Goiânia (GO).
Ela já estava decidida a estudar em casa mais uma vez, porque não conseguiria manter o cursinho. Recebeu uma proposta de bolsa no preparatório que fazia e aceitou na hora.
“Já 2019 foi um ano bem desafiador, de amadurecimento enquanto pessoa, quando eu fortaleci muitos valores e descobri outros… enfim, entendi muito sobre mim, sobre o mundo e sobre o que é resiliência”.
Mais uma vez, em 2019, foi muito bem n Enem, fazendo 980 na Redação, uma nota altíssima e que diz muito sobre a sua capacidade. Mesmo assim achava que não seria suficiente para o seu ingresso em Medicina, mas foi. Ela foi aprovada em primeira chamada no Prosel 2020 da Universidade Estadual do Pará (Uepa).
A PANDEMIA
Uma vez aprovada, o desafio passou a ser outro, conseguir iniciar os estudos, efetivamente. O início das aulas estava previsto para agosto de 2020, mas veio o ápice da primeira onda da pandemia de covid-19.
“Nesse momento de angústia e espera em casa, vendo o mundo desabar tão pertinho de mim – com a ida de familiares e colegas – e também tão longe, foi muito forte para mim. Tentei o tempo inteiro ocupar a mente, aprender coisas novas e não desistir de esperar um prognóstico melhor para o nosso estado. O início das aulas foi um afago! Hoje termino o primeiro semestre e sinto que cresci e amadureci mais do que eu esperava desde que comecei a viver esse sonho, de fato”, disse ela no final de março deste ano, quando falou com o CORREIO.
MARABÁ E O FUTURO
Sobre como vê Marabá hoje, Milleny não consegue desviar o foco da sua área e avalia pelo olhar sobre a saúde pública, que ela vê, ainda como muito deficitária, distante do ideal. Ela explica que agora, olhando de dentro, com o conhecimento de quem está no setor, percebe ainda mais as carências e o abismo para o que seria aceitável para a comunidade.
“Existe falta de infraestrutura, de equipamento, mas o que mais me chamou atenção, em contraposição a isso, é a qualidade dos profissionais que fazem o máximo com o mínimo. A boa vontade, fazer mais que a obrigação, o máximo com o mínimo. É o que faz contornar as dificuldades enfrentadas”, contemporiza.
Sobre o futuro, ela sabe que em algum momento terá de deixar Marabá, certamente na fase de residência médica, para se preparar para alguma especialidade. Nesse ponto, ela lamenta a cidade não contar, ainda, com hospital universitário e programas de residência médica. “O mais perto pra mim seria fazer no Estado do Tocantins, ou aqui em Belém, mas mesmo lá não teria tantas opções de especialidades. A tendência é que esses novos médicos, mesmo formados aqui em Marabá, acabem indo para o centro-sul do país”.
Ela revela ter uma enorme vontade de, no futuro, desempenhar a sua profissão aqui em Marabá, cidade pela qual tem enorme gratidão e onde, hoje, estão as raízes de sua família. Mas ela é realista, e destaca que isso ainda está no patamar do “ideal”. Perfeccionista, ela destaca que para ela, como médica, seria frustrante lutar pela vida de pessoas sem ter o anteparo estrutural necessário para realmente fazer a diferença.
Saque que se escolher seguir por uma área que exija aparato tecnológico que não existente em Marabá, provavelmente terá de se inserir naquele local onde estiver se especializando. “É por isso que termos residência médica aqui seria tão importante”, pensa.
“Como marabaense e também como jovem, desejo que a nossa cidade tenha cada vez mais espaços de lazer, de convivência mesmo. Sinto que cada local que representa um novo investimento na cidade, a população abraça. É o que a gente consegue perceber na Orla, por exemplo. Precisamos de mais infraestrutura. Perto da minha casa, por exemplo, não temos áreas verdes, locais para fazer uma caminhada, exercícios. Precisamos sempre nos deslocar para outros lugares para isso”.
Ainda, para finalizar, falou da importância da leitura, da cultura e principalmente das oportunidades mais democráticas de acesso dos jovens a isso, com direito à inovação, para que seguir por esse caminho não seja visto como algo chato.
A adolescente de 17 anos se descobriu quando chegou em Marabá e identificou o amor pelo conhecimento
Aos 17 anos, o dia a dia de Sofia Pantoja Araújo tem mais agitação e a correria que de muito marmanjo. Ela se divide entre ser uma típica adolescente, que gosta moda, de tocar e cantar, de se divertir com os amigos, e os estudos. É nesse aspecto que a rotina da adolescente se difere um pouco da vivida pelas pessoas da mesma idade.
Sofia não cursa o Ensino Médio em uma escola comum. Ela está matriculada no Campus Marabá Industrial do Instituto Federal do Pará (IFPA), onde já desenvolveu um braço robótico e um sistema de segurança, além de estar atuando em um projeto voltado para a biossegurança do próprio campus. “Eu gosto muito das questões de tecnologia e trabalhar com isso”, define.
Filha de servidores públicos, o pai é natural do Estado do Amazonas e a mãe da Ilha do Marajó, no Pará. Sofia nasceu enquanto o casal vivia em São Paulo e se mudou há aproximadamente 10 anos para Marabá, acompanhada da família. Cresceu junto à cidade, inclusive vendo o tão esperado shopping chegar. A decisão de se inscrever para o processo seletivo do IFPA partiu de uma concordância entre ela e os pais.
Já no primeiro ano, se envolveu com a Engenharia de Materiais e no segundo partiu para a área da Automação, onde se identificou com a pesquisa e o desenvolvimento de projetos. “Eu me vejo como uma pesquisadora e é muito interessante destacar esse ponto porque a gente vê pouca valorização de mulheres na ciência, é interessante tanto para a comunidade, no geral, como para a comunidade científica, principalmente em Marabá, para incentivar outras meninas, outras mulheres, a participarem disso”, defende.
A rotina de Sofia antes da pandemia era de aulas técnicas e básicas pela manhã e laboratório à tarde. Se sobrasse energia, ela ainda permanecia no campus à noite. “Eu gosto muito de ficar aqui, então continuava desenvolvendo meus projetos”. Além disso, participava das manifestações culturais promovidas pela instituição. “Gosto muito de ter essas interações com música, arte, com a dança… é bem interessante para mim”.
Este interesse deu origem, inclusive, ao brechó indie “sofix_vest”, que a adolescente mantém no Instagram, iniciado durante um processo de solidão da adolescente, em decorrência da pandemia de covid-19. “Queria que fosse algo que representasse uma cultura específica, mas também não gerasse impacto ambiental. Então eu queria desenvolver peças que fossem ser usadas, porque não tem problema você comprar uma peça, mas tem que comprar com consciência. Não deixa de ser um modo de tecnologia, porque é algo que vai ser utilizado e que as pessoas vão se sentir representadas através daquilo, que é a minha marca”, diz.
IFPA
Estes, entretanto, não são os únicos interesses da jovem, que não descarta se aprofundar em outras questões.
Ela também avalia seguir para uma faculdade de Arquitetura ou de Engenharia Mecatrônica, talvez fazer uma Biomedicina. Para realizar os desejos, conta com a base recebida no IFPA, instituição que ampliou as portas para o conhecimento.
“É um ensino de excelência se comparado a muitas escolas. Eu percebo que aqui é ressignificado o ensino porque você tem uma oportunidade de imersão do aluno nas práticas. Sempre vai ter um professor aberto a dar uma oportunidade para que você consiga aprender por inteiro o assunto pelo qual se interessa”, avalia, acrescentando que o nível de especialização de todos os professores – com mestrado e doutorado – faz muita diferença.
O envolvimento dela com o IFPA a levou ao Rio de Janeiro, onde Sofia participou da mesa de abertura em um evento discutindo o ensino e a inovação na Amazônia. “Imagina-se, pelo fato de estarmos distantes dos grandes polos, que a gente não possa desenvolver tecnologia, o que é uma formulação totalmente equivocada, isso porque a gente tem vários projetos, desde a UEPA, Unifesspa e o próprio IFPA. A gente vê coisas incríveis sendo desenvolvidas”, comemora.
A relação de amor com o Arduino
Logo na chegada ao IFPA Sofia foi apresentada ao Arduino, uma plataforma de prototipagem eletrônica de código aberto, que se tornaria um dos melhores amigos da pesquisadora. “É um micro controlador que utilizo na maior parte dos meus projetos, inclusive no braço robótico, na tranca de segurança que a gente implantou aqui no campus, e também nesse sistema de biossegurança”, diz, explicando melhor como funciona o equipamento.
“Serve como uma plataforma, de prototipagem open source, então você consegue alterar essa linguagem de programação de acordo com as necessidades que vão aparecendo. Por exemplo, eu quero fazer um motor mexer tantos graus, eu quero desenvolver um projeto que me possa permitir mover o objeto de tal maneira, então você diz aquilo através da linguagem do código e esse microcomputador vai mandar as informações para os componentes”.
Na apresentação ao equipamento, conta, foi amor à primeira vista. “Eu sempre gostei muito de robótica, mas eu particularmente não sabia por onde começar. Foi daí (arduino) que surgiu a ideia de projeto, porque eu e outros alunos queríamos muito desenvolver projetos. Eu quis até fazer um material didático, agora que a gente desenvolveu um site, para que outros alunos possam replicar nosso modelo. Através do Arduino outros alunos conseguem replicar nossos projetos e também fazer novos”, diz.
Marabá
Sofia não esconde ter sofrido um choque cultural grande ao deixar a região Sudeste e passar a viver no Norte do país. Não imaginava, por exemplo, que acabaria se encaixando tão bem como se vê atualmente. “Era bem diferente do contexto da cidade onde eu vivi minha infância, então para encontrar esses núcleos de desenvolvimento tecnológico, esses grupos, até mesmo culturais, foi bem complicado para mim no início”.
Hoje vê uma Marabá crescendo potencialmente e sente-se realizada em contribuir com a construção do lugar. “Eu cresci junto da cidade. Eu percebo que isso tem sido um ponto muito legal porque consigo dar minha contribuição. Tem o aspecto, sobre os alunos, de que eles tinham o interesse de desenvolver tecnologia ou achavam legal programação, mas era uma realidade muito distante. Através do IFPA, entretanto, a gente consegue trazer essa realidade mais para perto de várias pessoas”.
Para Sofia, Marabá é determinante para o futuro que planeja. “A cidade é totalmente acolhedora e a gente até conversa sobre isso em casa. A gente se surpreendeu com as oportunidades. Se a gente tivesse continuado no lugar onde a gente estava, com certeza não teria esse tipo de oportunidade. Espero para cidade siga nesse crescimento, que as pessoas continuem sendo acolhedoras e que haja a continuidade dos projetos científicos e a valorização desses projetos, assim como dos projetos culturais que acolhem principalmente os jovens, para que esses jovens possam ser protagonistas na sociedade”, finaliza.
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Publicado em 03 de Abril de 2021.
Sempre destaca o seu orgulho de ser marabaense e de poder trabalhar e produzir na terra onde nasceu e vive. Vê nos personagens hoje retratados o ideal de lutas e vitórias de uma geração. Lugar preferido? Encontro dos rios.
Apaixonado por Marabá, está sempre em busca de pautas que exaltem a cidade, sua história e seu povo, como a dos jovens relatadas neste Especial. Lugar preferido? Ribanceira do Itacaiunas.
Nasceu na capital da manga (Belém), ficou de vez em Santarém, amadureceu em Paragominas e encantou-se por Marabá, cidade sobre a qual ama escrever.
O "Menino Zeus" como é chamado na redação, nasceu e cresceu em Marabá. Cursou Jornalismo em Palmas/TO e retornou para devolver seus conhecimentos para sua cidade natal. O Especial representa para ele uma reinvenção da nova geração. Ah, é apaixonado pela Praia do Tucunaré.
Fascinado por Marabá, acredita que os jovens têm potencial para transformar a realidade local, tanto cobrando as autoridades, quanto produzindo conhecimento e atuando como empreendedores.